
Fila de carros se formam aguardando para serem desinfetados antes de entrarem na Aústria – Foto: Csaba Krizsan/AP
Um surto de febre aftosa foi detectado pela primeira vez em uma fazenda de gado no noroeste da Hungria no início de março, e animais em três fazendas na vizinha Eslováquia testaram positivo para o vírus altamente transmissível duas semanas depois.
Desde então, animais de mais três fazendas na Hungria e outras três na Eslováquia testaram positivo para o vírus, o primeiro surto da doença em qualquer um dos países em mais de meio século.
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“Tudo está completamente de cabeça para baixo” na área, pois os fazendeiros temem por seus próprios rebanhos e o transporte está sendo interrompido pelo fechamento das fronteiras, disse Sándor Szoboszlai, um empresário local e caçador na cidade húngara de Levél, onde quase 3.000 cabeças de gado tiveram que ser sacrificadas depois que a doença foi descoberta em uma fazenda.
“Nem imaginávamos que uma coisa dessas pudesse acontecer. Quem poderia contar com isso? Ninguém”, disse ele. “Há grandes fazendas na região, mas não acho que tenha sido culpa dos donos dos animais, isso é certo. O vento trouxe para cá.”

Bombeiro pulveriza caminhão da Eslováquia na fronteira de Lanzhot, na tentativa de evitar propagação da febre aftosa – sexta-feira (11-04-2025) – Foto: Petr David Josek/AP
A febre aftosa afeta principalmente animais de casco fendido, como bovinos, ovinos, caprinos, suínos e veados, e resulta em febres e bolhas na boca e nos cascos. O vírus se espalha pelo contato entre animais, ou em superfícies como roupas, pele e veículos, ou pelo vento. Representa pouco perigo para os humanos.
Na sexta-feira (11), as autoridades húngaras continuaram a realizar operações para conter a propagação da doença e desinfetar fazendas e veículos afetados na região. Tapetes embebidos em um desinfetante potente foram colocados nas entradas e saídas de cidades e vilarejos da região para eliminar moléculas do vírus que possam estar grudadas nos pneus — embora muitos desses tapetes secassem rapidamente e fossem parcialmente arrastados para fora da estrada pelos veículos que passavam.
Esta semana, o governo eslovaco, alegando medidas de contenção insuficientes por parte da Hungria, fechou 16 de suas fronteiras comuns e uma com a Áustria, todas com menor tráfego, para que as autoridades pudessem se concentrar em realizar verificações nas principais. Na semana passada, a Áustria — onde não houve casos relatados — fechou 23 de suas fronteiras com a Hungria e a Eslováquia.

Surto de febre aftosa na Europa Central leva ao fechamento de fronteiras – Foto: Csaba Krizsan/MTI via AP

Blocos de cimento e placas são instalados em uma passagem de fronteira entre a Hungria e a Áustria para evitar que a febre aftosa se propague – Foto: Csaba Krizsan/MTI via AP
Autoridades na República Tcheca, relativamente distantes das fazendas húngaras e eslovacas onde a doença foi detectada, introduziram medidas de desinfecção em todas as cinco passagens de fronteira usadas por caminhões de carga que entram no país.
Jiri Cerny, professor associado da Universidade Tcheca de Ciências da Vida em Praga, disse que o risco mais significativo de transmissão é “por meio de objetos humanos contaminados”, como “pneus e carros, nas solas dos sapatos e por meio de alimentos contaminados”. O Ministro da Agricultura Tcheco, Marek Výborný, disse que as restrições poderiam ser suspensas 30 dias após o último animal de fazenda infectado com febre aftosa ter sido abatido na Eslováquia.
Nenhuma nova infecção foi descoberta na Hungria esta semana, e a limpeza das últimas fazendas infectadas provavelmente será concluída no sábado, disse István Nagy, ministro da Agricultura da Hungria, na sexta-feira.
No início desta semana, uma autoridade húngara disse em uma entrevista coletiva que o surto de febre aftosa pode ter sido causado por “um vírus produzido artificialmente”.
Sem citar evidências específicas para apoiar suas alegações, Gergely Gulyás, chefe de gabinete do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, disse que não se pode descartar que a doença tenha sido liberada na Hungria como um “ataque biológico”, acrescentando que a suspeita se baseava em declarações verbais de um laboratório em um país estrangeiro que havia iniciado a análise inicial de amostras virais.
O governo da Hungria prometeu instituir uma moratória no pagamento de empréstimos para fazendeiros afetados, ajudar a compensá-los pela perda de seus animais e auxiliar no desenvolvimento de medidas nas fazendas para prevenir futuros surtos.
Szoboszlai, um caçador do município de Levél, se emocionou ao falar sobre o fazendeiro local que teve que abater todo o seu rebanho quando o vírus apareceu, dizendo que a situação era “terrível”.
“Sinto muito por ele, porque este é o trabalho da vida dele”, disse ele. “Será muito difícil recomeçar.”
Em janeiro Alemanha registrou caso de febre aftosa após 40 anos
A Alemanha registrou o primeiro caso de febre aftosa em quase 40 anos, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura alemão à Reuters no dia 10 de janeiro deste ano. O Reino Unido chegou a proibir importação de animais da Alemanha por causa do surto.
A doença, altamente contagiosa entre animais de casco fendido (como bovinos, suínos e ovinos), foi detectada em um rebanho de búfalos no sul do país.
As autoridades locais implementaram medidas de quarentena para conter a disseminação, pois surtos anteriores, datados da década de 1980, afetaram significativamente a cadeia de produção e exportação de carnes.
Embora a febre aftosa raramente seja transmitida a seres humanos, o aparecimento da doença gera preocupações sobre possíveis impactos nos mercados pecuários e no comércio internacional de produtos de origem animal.
A Alemanha e a União Europeia são oficialmente reconhecidas como livres da doença, mas surtos foram relatados esporadicamente.
Em 2007, mais de 2 mil animais foram sacrificados no Reino Unido em conexão com um surto, e em 2011, centenas na Bulgária.
O Brasil também foi declarado livre de febre aftosa sem vacinação, o status mais alto sobre o tema.
Os últimos casos na Alemanha ocorreram em 1988, de acordo com o instituto de pesquisa em saúde animal FLI.
O FLI disse que a doença ocorre regularmente no Oriente Médio e na África, em muitos países asiáticos e em partes da América do Sul.
Produtos animais importados ilegalmente desses países representam uma ameaça à agricultura europeia, disse o representante à Reuters.