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Aposentados relatam assédio por telefone, fraudes e ameaças ligadas a dados do INSS

Beneficiários denunciam descontos indevidos, empréstimos não solicitados e pressão psicológica; governo investiga possível vazamento de dados


Aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) têm sido alvo de uma avalanche de ligações telefônicas, ameaças de bloqueio de benefícios e cobranças indevidas por produtos e serviços jamais solicitados. Os relatos, obtidos pela CNN, mostram uma realidade alarmante: idosos expostos à exploração financeira e emocional após possível vazamento de dados pessoais.

As denúncias envolvem desde a inscrição não autorizada em empréstimos consignados e planos de benefícios até pressões psicológicas para adesão a cartões e seguros, frequentemente sob o pretexto de “parcerias com o INSS”. Muitos afirmam que, mesmo após procurarem órgãos de defesa do consumidor e a Justiça, seguem enfrentando dificuldades para reverter os prejuízos.

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“Seu benefício será bloqueado”

Um dos casos mais graves é o da aposentada Cleide Dantas, que recebeu uma ligação ameaçando bloquear seu benefício caso não aceitasse um suposto cartão com vantagens para farmácias e mercados. Ao questionar a origem da ligação, ouviu da atendente: “Seu benefício está bloqueado. A senhora vai ter que aguardar 90 dias.” Após desligar, Cleide entrou em contato com o INSS, que desmentiu a informação.

A psicóloga Idalucia Garcia, 71, também relata ter sido assediada por ligações diárias. “São empresas oferecendo seguros e planos com dados já preenchidos no meu nome. Isso é assédio moral”, afirma. Ela diz que há anos lida com o problema e considera que a frequência e o tom das abordagens tornaram-se insustentáveis.

Descontos indevidos e fraudes recorrentes

O torneiro mecânico aposentado Dimas Coimbra, 71, relata ter sido vítima de diversas fraudes: desconto de R$ 120 por um cartão que nunca recebeu, adesão a planos funerários e empréstimos não contratados. Em uma das fraudes, foi registrado um empréstimo pessoal sem qualquer assinatura ou presença física — em um banco que sequer possui agência em sua cidade.

Já Claudia Sobral, pensionista de Bauru (SP), só descobriu que estava sendo lesada ao consultar o aplicativo do INSS. “R$ 80 por mês era o que tiravam de mim, e eu nem sabia. Dava pra comprar carne, legumes, frutas. É uma vergonha tirarem isso da gente sem permissão”, desabafa.

Suspeita de vazamento de dados

Especialistas apontam que o problema pode ter origem em vazamentos dentro do próprio INSS. Carlos Alberto Costa, especialista em cibersegurança, lembra que o órgão já foi condenado pela Agência Nacional de Proteção de Dados em 2022 por falhas de segurança. Em fevereiro deste ano, um hacker alegou ter acesso a informações de mais de 39 milhões de beneficiários.

Costa também cita uma investigação do Tribunal de Contas da União, segundo a qual mais de 400 credenciais de acesso aos sistemas internos do INSS estavam comprometidas. O risco, segundo ele, inclui desde falhas técnicas até o uso indevido de dados por parceiros e terceiros ligados ao órgão.

O que diz o INSS

Em entrevista à CNN, o presidente do INSS, Gilberto Waller, confirmou que há investigações em andamento conduzidas pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União (CGU) e outros órgãos de controle para identificar a origem dos vazamentos. Segundo ele, o instituto também está adotando medidas internas para reforçar a segurança dos dados.

“Estamos trabalhando para aprimorar nossos sistemas e redes. É uma prioridade cessar qualquer tipo de vazamento e proteger os dados dos beneficiários”, afirmou.