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Veja quem são os “vizinhos de sepultura” do Papa. Longas filas e uma Basílica repleta de história

Santa Maria Maggiore, onde já há filas para visitar os falecidos, também abriga os restos mortais de Junio ​​Valerio Borghese (o Príncipe Negro) e de outros sete pontífices, incluindo um dos mais antissemitas.


O corpo do Papa Francisco na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma – Foto: Reprodução

O Papa Francisco agora repousa na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, após uma cerimônia marcada por filas que se estendiam até o fundo da igreja. Neste domingo (27) milhares de fiéis aguardaram pacientemente por horas — algumas pessoas chegaram a esperar até duas horas — para prestar suas últimas homenagens ao pontífice.

De acordo com estimativas da mídia, mais de 31.000 visitantes passaram pela basílica, gerando cenas de superlotação e aglomeração que levaram a organização a pedir calma por megafone. A logística foi precisa: ninguém pode parar diante da lápide de Jorge Mario Bergoglio para não comprometer o fluxo contínuo de pessoas.

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Pauline Bonaparte como Venus Victrix (ou Vénus Vencedora) escultura neoclássica reclinada semi-nua em tamanho real pelo escultor italiano Antonio Canova – Foto: Reprodução (Wikipédia)

No entanto, enquanto a atenção de todos se voltava para o túmulo do Papa Francisco, poucos notaram os outros ocupantes notáveis da cripta. A Basílica abriga os restos mortais de figuras históricas como a irmã de Napoleão Bonaparte, Paulina, que escandalizou a sociedade com suas fotos nuas, e outros papas, incluindo um dos mais antissemitas da história da Igreja. Esta coexistência de personagens históricos, muitos deles controversos, coloca Santa Maria Maior como um palco singular onde fé, história e política se encontram.

Um dos nomes mais controversos enterrados no templo é o de Junio Valerio Borghese, ex-comandante fascista que lutou na Guerra Civil Espanhola e na Segunda Guerra Mundial. Fiel a Mussolini até o fim, Borghese comandou a temida divisão Xª MAS, responsável por crimes de guerra, e foi o primeiro presidente do partido neofascista MSI — o mesmo do qual surgiu a atual primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

Junio ​​Valerio Borghese ganhou o apelido de Príncipe Negro devido ao seu apoio pró-fascismo – Foto: Reprodução 

Em 1970, tentou liderar um golpe de Estado na Itália, conhecido como “Golpe Borghese”. Após o fracasso, fugiu para a Espanha franquista, onde morreu em 1974 sob suspeitas de envenenamento. Seu funeral foi acompanhado por saudosos do fascismo, em uma cerimônia privada com clima político tenso.

O motivo de sua presença na basílica é a ligação familiar com os Borghese, que mantêm uma capela privada no local.  Mas o nome mais ilustre da família sepultado na capela é o do Papa Paulo V, responsável por importantes obras em Roma, como a fachada da Basílica de São Pedro, onde seu nome ainda pode ser lido em letras garrafais.

Além dele, outros seis papas estão enterrados ali, e nem todos deixaram legados positivos. Clemente VIII, por exemplo, ordenou em 1600 a execução do filósofo Giordano Bruno, queimado vivo em praça pública. Também autorizou a morte de Beatrice Cenci, jovem romana que matou o pai abusador — ela se tornou um símbolo de resistência popular. Curiosamente, foi ele quem retirou a excomunhão de quem participava de touradas, imposta por um predecessor mais severo, Pio V.

Retrato de Papa Clemente VIII (1536-1605) – Imagem: Reprodução

Pio V, aliás, também descansa na basílica. Foi um dos papas mais antissemitas da história: consolidou o gueto de Roma e expulsou judeus dos Estados Pontifícios. Mesmo assim, foi canonizado em 1954, sendo o único papa a virar santo em seis séculos.

No meio de tantos nomes marcantes, o mais admirado é Gian Lorenzo Bernini, gênio da escultura barroca, também sepultado ali. Outro personagem notável, embora pouco conhecido, é Antonio Emmanuele Ne Vunda — o primeiro embaixador africano no Vaticano. Vindo do antigo Reino do Congo (atual Angola), ele chegou a Roma em 1604 após uma viagem cheia de percalços, e faleceu pouco depois de ser recebido pelo Papa Paulo V, do próprio leito de morte.

A Basílica de Santa Maria Maior, portanto, não é apenas um monumento religioso — é um verdadeiro retrato da história europeia, com todos os seus brilhos, sombras e contradições.

Traduzido com suporte de IA