
O Papa estava sendo tratado por pneumonia em ambos os pulmões no Hospital Gemelli, em Roma – Foto: Reprodução
“Esta manhã, às 7h35 (horário local, 2h35 em Brasília), o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”, anunciou o cardeal camerlengo Kevin Farrell em um comunicado divulgado pelo Vaticano.
O Papa Francisco deixou o Hospital Gemelli, em Roma, em 23 de março, após cinco semanas de convalescença de uma pneumonia. Ele havia aparecido em público apenas duas vezes desde então: quando deixou o hospital e na celebração Urbi et Orbi da Páscoa no domingo. Na ocasião, com a aparência enfraquecida, Francisco fez um último passeio no Papamóvel entre milhares de fiéis na Praça de São Pedro. Durante a celebração, visivelmente debilitado, o papa delegou a leitura de seu texto a um de seus colaboradores, conseguindo pronunciar apenas algumas palavras, com a voz ofegante.
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O pontífice, que nos últimos anos usava cadeira de rodas, sofria de problemas no quadril, dores no joelho, infecções respiratórias, mas insistia em manter um ritmo frenético de trabalho, apesar das advertências dos médicos.
De acordo com as regras do Vaticano, um funeral deve ser realizado em nove dias, seguido por um período de 15 a 20 dias de organização do conclave, durante o qual os cardeais eleitores, quase 80% dos quais foram escolhidos pelo próprio Francisco, terão a difícil tarefa de eleger o sucessor. Enquanto isso, o cardeal camerlengo irlandês, Kevin Farrell, atuará como “papa interino”.
O jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio foi primeiro sacerdote latino-americano a se tornar papa, sucedendo Bento XVI, que renunciou ao posto. Depois de dois dias de conclave, foi eleito pontífice em 13 de março de 2013, adotando o nome de Francisco, em referência a São Francisco de Assis, o santo italiano que abdicou de uma vida de posses para se dedicar aos pobres e à natureza.
Jorge Mario Bergoglio nasceu no bairro de Flores, na capital federal. Seus pais, o contador Mário Bergoglio e a dona de casa, Regina, eram italianos do Piemonte que imigraram para a Argentina. O futuro papa chegou a se formar em química, mas, aos, 20 anos, em 1957, decidiu se tornar padre. Ingressou no seminário de Villa Devoto e, em 1958, iniciou o noviciado na Companhia de Jesus, sendo ordenado sacerdote em 1969. Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar da capital argentina, arcebispo em 1998, e foi criado cardeal, em 2001, pelo papa João Paulo II.
Bergoglio tem sólida formação intelectual. Até se tornar papa, dividiu seu tempo entre a vida religiosa e acadêmica. Foi reitor da Faculdade de São Miguel durante seis anos e doutorou-se em teologia em Freiburg, na Alemanha. Homem de hábitos simples, cultiva a austeridade e sempre adotou posições em favor dos pobres e da justiça social. Ainda assim, sobre ele paira a sombra de uma acusação feita por militantes dos direitos humanos: nos anos 1970, durante a ditadura militar argentina, ele teria facilitado a captura pelas forças de repressão de dois jesuítas suspeitos de lutar contra o regime – o que sempre negou.
Como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio revelou uma face ortodoxa frente a temas como homossexualidade, aborto e o uso de métodos contraceptivos. E manteve uma relação conflituosa com o ex-presidente Néstor Kirchner, e depois com sua sucessora e mulher, Cristina Kirchner, cujos governos foram marcados por avanços no campo dos costumes, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Porém, uma vez papa, flexibilizou seu discurso e adotou posições um tanto mais progressistas. Trabalhou também para reestruturar diversas instituições da Igreja. Criou, por exemplo, uma comissão para reformar o Instituto para as Obras de Religião (IOR), o chamado banco do Vaticano, fonte de diversos escândalos financeiros. Exibiu mão firme em relação aos sacerdotes acusados de abusar de menores. Aprovou uma reforma no código penal da Santa Sé que reforçou as sanções contra crimes sexuais. Trouxe a discussão ecológica para dentro da religião com a encíclica Laudato si, publicada em 2015, que trata da questão ambiental. E trabalhou pela reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba, que restabeleceram relações diplomáticas em julho de 2015.

Papa Francisco após Conclave em 2013 – Foto: Getty Images
Infância e juventude
Jorge Mario Bergoglio nasceu numa família de imigrantes italianos. O seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio Vasallo, nascido em Portacomaro em 2 de abril de 1908 e falecido em 1959, era um trabalhador ferroviário e sua mãe, Regina Maria Sivori Gogna, nascida em Buenos Aires, de pais genoveses, em 28 de novembro de 1911 e falecida em 8 de janeiro de 1981, era dona de casa. Os dois se casaram em Buenos Aires no dia 12 de dezembro de 1935. Mario Giuseppe também jogava basquetebol no San Lorenzo, um dos cinco grandes do futebol argentino e cujas origens haviam sido impulsionadas por um padre. Jorge tornar-se-ia torcedor sanlorencista, já tendo afirmado que não perdeu nenhum jogo do título argentino de 1946, quando tinha então dez anos. Em carta aos dirigentes do clube que o visitaram uma semana após tornar-se Papa, relembrou: “Tem vindo à minha memória belas recordações, começando desde a minha infância. Segui, aos dez anos, a gloriosa campanha de 1946. Aquele gol de Pontoni!”.

Jorge Mario Bergoglio posa com sua irmã María Elena em Buenos Aires, Argentina, em uma fotografia sem data de seu álbum de família – Foto: Reprodução
Nascido e criado no bairro de Flores, atual sede do San Lorenzo, o Papa Francisco é o mais velho de cinco filhos, tendo como irmãos: Oscar Adrian Bergoglio (nascido em 30 de janeiro de 1938 e já falecido), Marta Regina Bergoglio (nascida em 24 de agosto de 1940 e falecida em 11 de julho de 2007), Alberto Horacio Bergoglio (nascido em 17 de julho de 1942 e falecido em 15 de junho de 2010) e Maria Elena Bergoglio (nascida em 7 de fevereiro de 1948). Inicialmente, alguns órgãos de mídia teriam afirmado que Jorge Bergoglio fez graduação e mestrado em química, na Universidade de Buenos Aires, porém mais tarde se verificou que esta informação era incorreta, ele tendo apenas um diploma técnico em química pela Escuela Técnica Industrial N° 27 Hipólito Yrigoyen. Na juventude, teve uma doença respiratória que numa operação de remoção lhe fez perder um pulmão. Durante a sua adolescência, teve uma namorada, Amalia. Segundo ela, Bergoglio chegou a pedi-la em casamento durante a época, tendo ele inclusive afirmado que, do contrário, se tornaria padre.

Fotografia sem data do jovem Jorge Mario Bergoglio – Foto: Reprodução
Companhia de Jesus
Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em março de 1958. Fez o juniorado em Santiago, Chile. Graduou-se em Filosofia em 1960, na Universidade Católica de Buenos Aires. Entre os anos 1964 e 1966, ensinou Literatura e Psicologia, no Colégio Imaculada, na Província de Santa Fé, e no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. Graduou-se em Teologia em 1969. Recebeu a ordenação presbiteral no dia 13 de dezembro de 1969, pelas mãos de Dom Ramón José Castellano. Emitiu seus últimos votos na Companhia de Jesus em 1973. Em 1973 foi nomeado Mestre de Noviços, no Seminário da Villa Barilari, em San Miguel. No mesmo ano foi eleito superior provincial dos jesuítas, na Argentina. Em 1980, após o período do provincialato, retornou a San Miguel, para ensinar em uma escola dos jesuítas.
No período de 1980 a 1986 foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel. Após seu doutorado na Alemanha, foi confessor e diretor espiritual em Córdoba. Francisco fala fluentemente o espanhol (sua língua nativa), italiano, relativamente bem francês e alemão, e pouco o inglês, assim como o português e o latim.

A família Bergoglio em Buenos Aires – Argentina. Fileira superior, da esquerda para a direita: María Elena (irmã de Jorge Mario), Regina Sivori (mãe), Alberto (irmão), Jorge Mario, Oscar (irmão), Marta (irmã) e seu marido Enrique Navaja. Fileira de baixo, da direita para a esquerda: Mario (pai), Maria de Bergoglio (avó paterna) e Juan (avô paterno) – Foto: Reprodução.

Imagem de 1966 do seminarista Jorge Mario Bergoglio na escola em El Salvador, Buenos Aires – Arquivo Reprodução
Episcopado
Em 20 de maio de 1992, o Papa João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires, com a sé titular de Auca (Aucensi). Sua ordenação episcopal deu-se a 27 de junho de 1992, pelas mãos do cardeal Quarracino, de Dom Emilio Ogñénovich e de Dom Ubaldo Calabresi. Em 3 de junho de 1997, foi nomeado arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Tornou-se arcebispo metropolitano de Buenos Aires no dia 28 de fevereiro de 1998.
Foi nomeado ordinário para os fiéis de rito oriental sem ordinário próprio, na Argentina, pelo Papa João Paulo II, em 30 de novembro de 1998.
Cardinalato

O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio anda no metrô de Buenos Aires (Argentina) em 2008 – Foto: Reprodução
Foi criado cardeal no Consistório Ordinário Público de 2001, ocorrido em 21 de fevereiro de 2001, presidido pelo Papa João Paulo II, recebendo o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Quando foi nomeado, convenceu centenas de argentinos a não viajarem para Roma. Em vez de irem ao Vaticano celebrar a nomeação, pediu que dessem o dinheiro da viagem aos pobres.
Foi membro dos seguintes dicastérios na Cúria Romana:
- Congregação para o Clero
- Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos
- Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica
- Pontifícia Comissão para a América Latina
- Pontifício Conselho para a Família
Pontificado
Eleição
O cardeal Bergoglio foi eleito em 13 de março de 2013, no segundo dia do conclave, escolhendo o nome de Francisco. Ele é o primeiro jesuíta a ser eleito Papa, o primeiro Papa do continente americano, do Hemisfério Sul e o primeiro não europeu investido como bispo de Roma em mais de 1 200 anos, desde Papa Gregório III, que nasceu na Síria e governou a Igreja Católica entre 731-741.

Jorge Mario Bergoglio, recém-proclamado Papa Francisco, aparece na sacada da Basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano, em 13 de março de 2013 – Foto: Reprodução
Quando lhe foi perguntado, na Capela Sistina, se aceitava a escolha, disse: “Eu sou um grande pecador, confiando na misericórdia e paciência de Deus, no sofrimento, aceito”. O anúncio (Habemus Papam) foi feito por Jean-Louis Tauran.
O Papa Francisco apareceu ao povo na sacada (ou varanda) central da Basílica de São Pedro por volta das 20 horas e 30 minutos (hora de Roma). Vestindo apenas a batina papal branca, acompanhou a execução da Marcha Pontifical e saudou a multidão com um discurso:
Irmãos e irmãs, boa noite! Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo Emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde.
O Papa rezou as orações do Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai, dedicando-os ao Papa Emérito. Em seguida, completou:
E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo… este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela! E agora quero dar a bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.
O Papa abaixou a cabeça em sinal de oração, e toda a praça silenciou por um momento. Por fim, realizou sua primeira bênção Urbi et Orbi, e despediu-se da multidão dizendo “Boa noite, e bom descanso!”.

O recém-proclamado Papa Francisco se dirige aos fiéis pela primeira vez na sacada da Basílica de São Pedro, em 13 de março de 2013 – Foto: Reprodução
Nome papal
Ao ser eleito, o novo pontífice escolheu o nome de Francisco. Segundo o próprio, uma referência a Francisco de Assis fazendo referência à “sua simplicidade e dedicação aos pobres” e motivado pela frase dita por Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, logo após sua eleição, ainda na Capela Sistina: “Não esqueça dos pobres”. Francisco de Assis (1182 — 1226), padroeiro da Itália, foi o fundador da família franciscana.
Alguns não sabiam porque é que o Bispo de Roma queria ser chamado de Francisco. Alguns pensaram em Francisco Xavier, Francisco de Sales, até mesmo Francisco de Assis.(…) imediatamente, em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis. Depois, pensei nas guerras, à medida que o escrutínio prosseguia. E Francisco é o homem da paz. E assim, o nome veio, no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, ele é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e cuida da criação; neste momento, também nós temos uma relação não tão boa com a criação, não é verdade? É o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres!
— Entrevista do Papa Francisco aos jornalistas, Vaticano, 16 de março de 2013
O nome do pontífice não será acrescido do ordinal “I” (primeiro) em algarismo romano. Segundo a Santa Sé isso só acontecerá se, um dia, houver um papa Francisco II.
Encontro com o Papa Emérito

O papa emérito Bento e o papa Francisco em 28-11-2020 – Foto: Vatican Media/Handout via Reuters
No dia 23 de março de 2013, o Papa Francisco foi recebido para um almoço no Palácio Pontifício de Castel Gandolfo, residência de verão dos papas, por seu antecessor Bento XVI, na época bispo emérito de Roma. O encontro foi o primeiro entre dois papas em, pelo menos, 600 anos.
Consagração do Estado do Vaticano
Na presença do seu antecessor, o papa emérito Bento XVI, e por ocasião da inauguração de um novo monumento nos jardins do Vaticano, da autoria do artista Giuseppe Antonio Lomuscio, o Papa Francisco consagrou no dia 5 de julho de 2013 o Estado da Cidade do Vaticano a São Miguel Arcanjo e a São José. Durante o ato solene de consagração, o Santo Padre pediu expressamente a São Miguel:
“Vele por esta cidade e pela Sé Apostólica, coração e centro do catolicismo, para que viva na fidelidade ao Evangelho e no exercício da caridade heroica” e implorou “Desmascare as insídias do demônio e do espírito do mundo. Faz-nos vitoriosos contra as tentações de poder, da riqueza e da sensualidade. Seja o baluarte contra todos os tipos de manipulação que ameaça a serenidade da Igreja; seja a sentinela de nossos pensamentos, que livra do assédio da mentalidade mundana; seja nosso paladino espiritual”.
Em relação à consagração feita a São José, o Santo Padre proclamou:
“Queridos irmãos e irmãs, consagramos também o Estado da Cidade do Vaticano a São José, custódio de Jesus e da Sagrada Família. Que a sua presença nos torne mais fortes e corajosos em dar espaço a Deus na nossa vida, para vencer sempre o mal com o bem. Sob o seu olhar benevolente e sábio colocamos hoje com confiança renovada, os bispos e sacerdotes, as pessoas consagradas e os fiéis leigos que trabalham e vivem no Vaticano”.
Brasão e lema


Escudo eclesiástico de blau, com um sol radiante e flamejante de jalde carregado do monograma IHS de goles, sobreposta a letra H de uma cruz do mesmo e três cravos de sable postos em pala, sob o monograma – armas da Companhia de Jesus – acompanhado em ponta de uma estrela de oito pontas senestrada de um ramo de flor de nardo, ambos de jalde. O escudo está assente em tarja branca. O conjunto pousado sobre duas chaves decussadas, a primeira de jalde e a segunda de argente, atadas por um cordão de goles, com seus pingentes. Uma mitra papal de argente, com três faixas de jalde. Sob o escudo, um listel de argente com o mote: “Miserando Atqve Eligendo”, em letras de sable. Quando são postos suportes, estes são dois anjos de carnação, sustentando cada um, na mão livre, uma cruz trevolada tripla, de jalde.
O escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos. Nele estão representadas armas da Companhia de Jesus, a qual pertence o pontífice, sendo que a cor blau (azul) simboliza o firmamento e o manto de Maria Santíssima e, heraldicamente, significa: justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza; o sol (radiante de 16 pontas retilíneas e flamejante de dezesseis pontas ondeantes, alternadamente) representa Nosso Senhor Jesus Cristo, o “Sol da Justiça”, reforçado pelo monograma de Cristo: IHS (adotado por Santo Inácio em 1541) sobreposto pela cruz, que sendo de goles (vermelho) simboliza: o fogo da caridade inflamada no coração do Soberano Pontífice pelo Divino Espírito Santo, que o inspira diretamente do governo supremo da Igreja, bem como valor e o socorro aos necessitados, que o Vigário de Cristo deve dispensar a todos os homens.
Os cravos, enquanto instrumentos da paixão, lembram a nossa redenção pelo sangue de Cristo e sua cor, sable (preto), representa: sabedoria, ciência, honestidade e firmeza. A estrela, de acordo com a antiga tradição heráldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo e da Igreja; enquanto a flor de nardo simboliza São José, patrono da Igreja Universal, que na tradição da iconografia hispânica, é representado com um ramo de nardo nas mãos. Sendo ambos de jalde, têm o significado heráldico deste metal, já descrito acima. Colocando no seu escudo tais imagens, o Papa pretendeu exprimir a própria particular devoção a Nossa Senhora e ao seu castíssimo esposo. Somadas as três representações, têm-se a homenagem do pontífice à Sagrada Família: Jesus, Maria e José, modelo da família humana que devem ser defendidas pela Igreja.
Os elementos externos do brasão expressam a jurisdição suprema do papa. As duas chaves decussadas, uma de jalde (ouro) e a outra de argente (prata) são símbolos do poder espiritual e do poder temporal. São uma referência do poder máximo do Sucessor de Pedro, relatado no Evangelho de São Mateus, que narra que Nosso Senhor Jesus Cristo disse a Pedro: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu” (Mt 16, 19). Por conseguinte, as chaves são o símbolo típico do poder dado por Cristo a São Pedro e aos seus sucessores. A mitra pontifícia usada como timbre, recorda em sua forma e esmalte, a simbologia da tiara, sendo que as três faixas de jalde (ouro) significam os três poderes papais: Ordem, Jurisdição e Magistério, ligados verticalmente entre si no centro para indicar a sua unidade na mesma pessoa.

“O lema do papa Francisco, escrito em seu brasão, é “miserando atque eligendo”, que significa “com misericórdia o chamou” -Foto: Reprodução
No listel, o lema “MISERANDO ATQVE ELIGENDO ” (Olhando-o com misericórdia o elegeu), foi retirado de uma homilia de São Beda, o Venerável, (Hom. 21; CCL 122, 149-151) que, comenta o evangelho de São Mateus (Mt 9,9), escrevendo “Vidit ergo lesus publicanum et quia miserando atque eligendo vidit, ait illi Sequere me’ (“Viu Jesus a um publicano e, olhando-o com misericórdia, o elegeu e lhe disse: siga-me”). Este lema, presente na Liturgia das Horas da festa de São Mateus, é um tributo à Divina Misericórdia, tendo um significado especial e particular na vida e no itinerário espiritual do pontífice.
Alguns posicionamentos do papa Francisco
é um forte defensor da justiça social, defendendo ser crucial a criação de políticas de redução da desigualdade social;
é ortodoxo em relação a alguns temas, como a questão do aborto, da homossexualidade e do uso de métodos contraceptivos;
defende os estudos científicos a respeito dos impactos ambientais causados pela humanidade, como o aquecimento global;
defende a flexibilização das políticas imigratórias para que refugiados sejam recebidos amistosamente onde quer que estejam;
defende o celibato entre sacerdotes da Igreja Católica;
demonstrou-se aberto à questão do divórcio.

O Papa Francisco é saudado por fiéis ao chegar ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Aparecida (SP) Brasil, 24/07/2013 – Foto: Miguel Schincariol/AE
Obras do papa Francisco
Ao longo de sua vida, o papa Francisco publicou uma série de livros, como:
Homilías y mensajes;
Dios em la ciudad: primer Congreso pastoral urbana región Buenos Aires;
Mente abierta, corazón creyente;
Sobre el cielo y la tierra.
Curiosidades sobre o Papa Francisco
O papa Francisco é torcedor do San Lorenzo, um time de Buenos Aires.
Ele foi o primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica.
O papa fala espanhol, italiano, francês, alemão, e tem algum conhecimento de inglês, português e latim.
Durante sua infância teve uma infecção pulmonar, resultando em uma cirurgia que retirou parte de seu pulmão.”
A morte do Papa
A morte do Papa foi anunciada pelo cardeal irlandês Kevin Farrell, que é o carmelengo atualmente no Vaticano. Farrel anunciou a morte do Papa Francisco as.
Farrell visitou o corpo de Francisco em sua capela particular e como é da praxe, chamou seu nome para tentar despertá-lo. O camerlengo também toca a cabeça do papa com um martelo de prata, mas o Vaticano nega essa prática há tempos.
Como o pontífice não respondeu, seu anel do pescador, utilizado como selo oficial dos documentos papais, foi devidamente destruído, simbolizando o fim de seu pontificado. Os aposentos papais ja estão lacrados. O camerlengo já havia informado o falecimento do Papa ao Colégio dos Cardeais, antes mesmo que o Vaticano emitisse o comunicado oficial à imprensa.
O período de luto
A morte do papa desencadeará nove dias de luto, conhecidos como Novendiale, uma tradição originária da Roma Antiga.
O corpo será abençoado, vestido com as vestes papais e exposto na Basílica de São Pedro para visitação pública, onde centenas de milhares de fiéis farão fila para prestar suas homenagens, incluindo líderes mundiais. No passado, os papas eram expostos sobre uma plataforma elevada chamada catafalco, mas Francisco optou por um funeral mais simples, onde seu corpo ficará em um caixão aberto, sem cerimônias pomposas.
Enquanto Francisco estiver em exposição, missas de réquiem e cerimônias de oração serão realizadas na Basílica de São Pedro e em igrejas ao redor do mundo.
Enquanto isso, o Vaticano entrará em um período de transição chamado sede vacante (“sede vacante”), durante o qual o governo da Igreja ficará temporariamente a cargo do Colégio dos Cardeais. Nenhuma decisão importante poderá ser tomada até que um novo papa seja eleito.
O enterro
O funeral do papa será na Praça de São Pedro, entre quatro e seis dias após sua morte, reunindo milhares de fiéis no Vaticano para a cerimônia, que será conduzida pelo decano do Colégio dos Cardeais, atualmente o cardeal italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos.
Em uma entrevista de 2023, Francisco revelou que escolheu a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma — uma de suas igrejas favoritas —, como seu local de sepultamento, tornando-se o primeiro papa em um século a ser enterrado fora do Vaticano.
No passado, os papas eram sepultados em três caixões encaixados: um de cipreste, outro de zinco e um de olmo. Francisco, no entanto, ordenou que seja enterrado em um único caixão de madeira e zinco.
Quando Bento XVI foi sepultado, seu caixão também continha moedas cunhadas durante seu pontificado e um tubo de metal com um pergaminho enrolado, chamado rogito, contendo um documento de mil palavras narrando sua vida e seu pontificado. Francisco provavelmente será enterrado com seu próprio rogito, detalhando seu pontificado singular.