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Nike, CBF e a polêmica “camisa vermelha ou amarela”. Qual é a sua?

De acordo com o site alemão Footy Headlines, conhecido por antecipar com exclusividade novos uniformes de clubes e seleções, a Nike vai lançar um uniforme vermelho para a Seleção brasileira, que será usado na Copa do Mundo de 2026.


De acordo com o site alemão Footy Headlines, conhecido por antecipar com exclusividade novos uniformes de clubes e seleções, a Nike vai lançar um uniforme vermelho para a Seleção brasileira, que será usado na Copa do Mundo de 2026.

Ainda segundo o site, a nova camisa usará o logotipo Jordan (parceria da marca esportiva com o jogador e ícone do basquete Michael Jordan). Em 2016, a Nike já havia lançado uma camisa preta com mangas vermelhas usando o logo Jordan, que não foi usada em nenhum jogo da Seleção, marcando uma “colaboração” entre o jogador de basquete e Neymar Jr., atual atleta do Santos.

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Como desta vez a camisa será utilizada em jogos oficiais, e ainda por cima em uma Copa do Mundo, já houve uma intensa reação à notícia. Galvão Bueno, em seu programa na TV Bandeirantes, afirmou que, se o lançamento da camisa vermelha for verdade, “será um crime contra a história da Seleção brasileira”.

Galvão Bueno: detona camisa vermelha da Seleção Brasileira “é um crime” – Foto: Reprodução / Band

“A história do futebol brasileiro é muito séria, muito rica, de momentos muito difíceis, mas de muitas conquistas. Eu transmiti 52 jogos do Brasil. Então, eu acho que tenho algum direito de falar, eu não tive a honra de vestir”, comentou o narrador no programa “Galvão e amigos”, na Band.

Galvão destacou que o regulamento interno da CBF determina o uso das cores no escudo da CBF. “Apareceu alguém para cometer aquilo que eu considero ser um crime. Pra Copa do Mundo de 2026, a camisa azul vai deixar de existir e vai ser vermelha. O que tem isso a ver com a Seleção Brasileira. É uma ofensa sem tamanho! O que tem isso a ver com a história do futebol brasileiro? Eu tô muitíssimo na bronca”, afirmou.

A possibilidade de a cor da camisa, historicamente um símbolo de patriotismo, ser mais um elemento da polarização política no Brasil já se faz notar com o posicionamento de políticos de direita e esquerda nas redes sociais.

Marina Helena, que foi candidata à prefeita de São Paulo pelo Partido Novo, disse que o possível uniforme vermelho é “a cara da instituição [CBF] hoje: feudo da esquerda e do STF”. A deputada federal Natália Bonavides, do PT do Rio Grande do Norte, publicou uma foto usando uma camisa vermelha no X, com a legenda “acho que gostei dessa história da camisa vermelha da seleção”.

Natália Bonavides: Acho que gostei dessa história da camisa vermelha da seleção – Foto: Reprodução (X)

Mesmo entre a esquerda, porém, a cor vermelha não é unanimidade. O senador Randolfe Rodrigues, líder do governo Lula no Congresso, não gostou da história. Também em uma publicação no X, escreveu que “as cores da nossa seleção não são uma ‘identidade ideológica’; elas representam o que nos distingue no mundo. (…) Qualquer cor diferente do verde, amarelo, branco e azul não se justifica.”

É bom ressaltar que o site Footy Headlines é conhecido por ser bastante confiável e possuir um histórico sólido quando antecipa camisas de times famosos, mas que também é comum que marcas esportivas repensem cores e desenhos antes do lançamento.

E, por incrível que pareça, ao longo da história da Seleção Brasileira o uso da cor vermelha, além de não ser inédito, veio antes do tradicional manto verde e amarelo.

Conheça a história dos uniformes da Seleção:

1914: a estreia 

O primeiro jogo da Seleção foi contra o Exeter City F.C., que hoje disputa a League One da Inglaterra, equivalente à terceira divisão nacional. Usando um uniforme branco (cor que seria a predominante até a derrota na Copa de 1950) com mangas azuis, o Brasil venceu o time inglês por 2 a 0 no estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro.

1916: verde e amarelo 

No primeiro Campeonato Sul-Americano de Seleções, a atual Copa América, o Brasil jogou na Argentina pela primeira vez com um uniforme verde e amarelo, mas listrado, totalmente diferente do que é usado hoje.

1917: a primeira camisa vermelha

Longe de ser motivo de disputa na arena política, a camisa vermelha usada pela Seleção no Sul-Americano de 1917, no Uruguai, foi fruto do improviso. Argentina e Chile também usavam uniformes brancos, como o do Brasil à época, e no sorteio ficou decidido que a Seleção usaria o segundo uniforme. Sem um jogo de camisas disponível, o jeito foi apelar para uma loja esportiva — e foi assim que o Brasil jogou de vermelho pela primeira vez. Com essa cor, perdeu para a Argentina por 4 a 2 e goleou o Chile por 5 a 0.

1918: vermelho, azul e branco

O Dublin FC, do Uruguai, não existe mais, mas pode se orgulhar do passado glorioso: faz parte do seleto clube dos times que nunca perderam para a Seleção Brasileira. Em duas partidas, um empate por 0 a 0 e uma vitória por 2 a 0, no estádio General Severiano, do Botafogo. E foi justamente nessa vitória que enfrentou um Brasil visualmente exótico, que usava uma camisa branca com detalhes vermelhos e azuis nas mangas. Foi a primeira e única vez do azarado uniforme.

1919: primeiro título

Foi usando um uniforme predominantemente branco, apenas com detalhes azuis na gola e nas mangas, que o Brasil conquistou em seu primeiro grande título, o Sul-Americano de 1919, disputado no Rio de Janeiro. O uniforme também foi usado, com poucas alterações, nas Copas do Mundo de 1930, no Uruguai, 1934, na Itália, 1938, na França, e 1950, no Brasil.

1937: vermelho, mais uma vez

Não é de hoje que o futebol brasileiro se caracteriza pela desordem. A lição do Campeonato Sul-Americano de 1917 não foi aprendida. Logo na primeira rodada do Sul-Americano de 1937, disputado na Argentina, no jogo contra o Peru, que também usava branco, coube ao Brasil fazer a troca de camisa, mas a delegação havia levado na bagagem apenas o uniforme principal. A solução foi emprestar o uniforme do Clube Atlético Independiente, vermelho.

1937: Boca Juniors

No mesmo campeonato, no jogo seguinte, contra a seleção chilena, o problema se repetiu. Desta vez, o time escolhido para ceder o uniforme foi o Boca Juniors. Com o uniforme “bostero” (apelido do clube argentino), o Brasil venceu o Chile por 6 a 4.

1954: nasce a “canarinho”

A derrota para o Uruguai na final da Copa de 1950, em pleno Maracanã lotado com cerca de 200 mil pessoas, deixou marcas profundas no futebol brasileiro. Uma delas foi o abandono do uniforme branco, que nunca mais seria usado em Copas do Mundo. Um concurso realizado pelo jornal carioca Correio da Manhã, em 1953, escolheu a nova camisa da Seleção. O modelo vencedor do concurso continua a ser utilizado até hoje, camisa toda amarela com detalhes verdes na gola e nas mangas.

Ironia do destino: o autor do modelo vencedor do concurso, o gaúcho Aldyr Schlee (1934-2018), que ganhou 20 mil cruzeiros e um estágio no jornal, era torcedor do Uruguai, mesmo sendo brasileiro. Durante a infância, por morar próximo à fronteira uruguaia, acabou sendo mais influenciado pelo futebol do país vizinho.

1958: manto de Nossa Senhora Aparecida

Nem a final da Copa do Mundo de 1958 escapou mais uma vez do improviso. O Brasil foi para a decisão contra a Suécia — que usa um uniforme parecido com o nosso, todo amarelo, mas com detalhes azuis em vez de verdes — e precisou abdicar da camisa amarela. O chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, comprou uniformes azuis em uma loja de Estocolmo. Para acalmar os jogadores supersticiosos, fez um discurso relacionando a cor ao manto de Nossa Senhora Aparecida. O resultado: vitória de 5 a 2 sobre o time da casa, com três gols de um jovem de 17 anos chamado Pelé.

2026: vermelho, sem improviso, mas com polêmica

Com a dupla canarinho e azul, o Brasil venceu cinco copas do mundo: 1958 (Suécia), 1962 (Chile), 1970 (México), 1994 (EUA), e 2002 (Japão-Coreia). Se a informação do Footy Headlines for confirmada, será a primeira vez que o Brasil usará uma camisa vermelha em uma Copa do Mundo. Por enquanto, sobra controvérsia. Se durante a Copa vai sobrar ou faltar futebol, é outra história.