Uma cena viralizou nos Estados Unidos e tem gerado grande repercussão. Durante torneio de esgrima de Cherry Blossom, realizado na Universidade de Maryland, no último fim de semana, Stephanie Turner se recusou a competir com Redmond Sullivan. O motivo: a adversária é uma atleta transgênero.
O protesto ocorreu no momento em que o combate teria início. Já posicionada, Turner se ajoelhou, removeu o capacete e afirmou para o árbitro e para a Sullivan que não iria enfrentá-la.
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Em seguida, o árbitro exibe a Turner o cartão preto. Ele é aplicado aos atletas que cometem infrações consideradas graves. Entre elas, está recusar-se a esgrimir.
Toda a cena foi filmada. E não por acaso. Em entrevista ao site do canal Fox News, Turner explicou que soube que tomou a decisão de se ajoelhar diante de Sulivan na noite anterior, quando soube quem seria sua oponente.
– Eu vi que eu estaria na pista com Redmond e dali eu disse, ‘OK, vamos fazer isso. Vou me ajoelhar’ – contou a esgrimista, que fez questão de se referir à adversária no masculino.
– Eu sabia o que tinha que fazer porque a USA Fencing não estava ouvindo as objeções das mulheres. Eu me ajoelhei imediatamente naquele momento. Redmond [Sullivan] tinha a impressão de que eu iria começar a esgrima.
– Quando eu me ajoelhei, olhei para o árbitro e disse: “Sinto muito, não posso fazer isso. Eu sou uma mulher, e este é um homem. E este é um torneio feminino. E eu não vou esgrimir com este indivíduo”. Redmond não me ouviu. Ele vem até mim, acha que posso estar machucada ou não entende o que está acontecendo. Ele pergunta: “Você está bem?” E eu disse: “Sinto muito. Eu tenho muito amor e respeito por você, mas eu não vou esgrimir com você”.
Sullivan não deu entrevistas após o episódio. Segundo Turner, durante o diálogo entre as duas ela teria lhe advertido de que poderia ser eliminada da competição por sua recusa em competir.
– Redmond me disse: “Bem, você sabe, há um membro no conselho de diretores aqui que me apoia e há uma política que me reconhece como mulher. Então posso praticar esgrima, e você receberá um cartão preto”. Eu disse: “Eu sei”.
O vídeo do gesto de Turner foi amplamente divulgado nas redes sociais por pessoas e movimentos críticos à participação de mulheres trans nas mesmas modalidades que mulheres cisgênero, além de conservadores. Apesar das críticas recebidas, a USA Fencing reforçou sua política inclusiva.
“A USA Fencing promulgou nossa atual política para atletas transgêneros e não-binários em 2023. A política foi elaborada para expandir o acesso ao esporte da esgrima e criar espaços inclusivos e seguros. Ela é baseada no princípio de que todos devem ter a capacidade de participar de esportes e foi baseada nas pesquisas disponíveis na época.
Entendemos que a conversa sobre equidade e inclusão referente à participação transgênero no esporte está evoluindo. A USA Fencing sempre errará do lado da inclusão, e estamos comprometidos em alterar a política conforme pesquisas mais relevantes baseadas em evidências surgirem, ou conforme mudanças de política entrem em vigor no movimento olímpico e paralímpico mais amplo.
No caso de Stephanie Turner, sua desqualificação não foi relacionada a nenhuma declaração pessoal, mas foi meramente o resultado direto de sua decisão de se recusar a lutar com um oponente elegível, o que as regras da FIE (Federação Internacional de Esgrima) claramente proíbem. A USA Fencing é obrigada a seguir à risca essas regras e garantir que os participantes respeitem os padrões definidos em nível internacional. Continuamos comprometidos com a inclusão em nosso esporte, ao mesmo tempo em que mantemos todos os requisitos ditados por nosso órgão regulador.
Apesar de toda a polêmica, Sullivan terminou o torneio na 24ª colocação de um total de 39 participantes. Esta é sua primeira temporada participando da modalidade feminina. Embora tenha vencido torneios pela primeira vez na carreira após a transição, seu percentual de vitórias está abaixo do de 2022/23, quando ainda competia entre homens: 42.9% contra 43.9%.