
O surinamês Albert Ramdin – Foto: Lenin Nolly/EFE (arquivo)
Com um longo histórico diplomático, Albert Ramdin chegou ao cargo de secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) com apoio de um bloco de países liderado pelo governo do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, além do forte respaldo da Comunidade do Caribe (Caricom).
Ministro das Relações Exteriores do Suriname, Ramdin foi escolhido por aclamação após a desistência de seu único adversário, o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, que tinha o apoio dos presidentes Donald Trump, dos EUA, e Javier Milei, da Argentina. Com isso, ele assumirá o cargo de líder da OEA em maio, em meio a um cenário político complexo, marcado por crises em países como Venezuela, Nicarágua e Haiti, além da crescente influência da China na América Latina – um tema que preocupa os Estados Unidos.
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Quem é Albert Ramdin?
Nascido em 27 de fevereiro de 1958, Albert Ramchand Ramdin construiu sua carreira na diplomacia, com forte atuação nos organismos internacionais. Formado em geografia social pelas universidades de Amsterdã e Vrije, na Holanda, Ramdin iniciou sua trajetória política e administrativa ainda na década de 1990, ocupando cargos de relevância dentro do governo do Suriname e em entidades internacionais.
Em 1999, foi nomeado assistente-geral de Relações Externas na Comunidade do Caribe (Caricom), organização que reúne 14 países da região. Dois anos depois, passou a atuar como assessor do secretário-geral da OEA.
Já em 2005, conquistou seu cargo mais relevante até então: foi eleito secretário-geral adjunto da OEA, função que exerceu até 2015.
Após deixar o cargo, retornou ao Suriname e ocupou diferentes funções na diplomacia, até ser nomeado, em 2020, ministro das Relações Exteriores, Negócios Internacionais e Cooperação Internacional no governo de Chandrikapersad Santokhi. Como chanceler, Ramdin fortaleceu os laços do Suriname com China, Holanda e países vizinhos da América do Sul, além de reaproximar o país da OEA.
Na disputa pela secretaria-geral da OEA, Ramdin contou com forte apoio da Caricom e de governos latino-americanos alinhados com Lula e a esquerda regional, como México, Bolívia, Colômbia, Chile e Uruguai – agora comandado pelo presidente esquerdista, Yamandú Orsi. Além disso, alguns países comandados pelo centro e pela centro-direita, como Costa Rica, Equador e República Dominicana, também se somaram ao movimento para eleger Ramdin.
O apoio brasileiro teria sido decisivo para a eleição. Segundo informações, inicialmente, o presidente Lula havia indicado que apoiaria a candidatura do Paraguai, mas mudou de posição e passou a articular votos para Ramdin, isolando Rubén Ramírez Lezcano, que acabou retirando sua candidatura. O chanceler paraguaio era o nome preferido de Trump e Milei, mas viu sua base de apoio desmoronar diante da articulação brasileira.
Essa guinada do Brasil gerou ruídos diplomáticos. O vice-chanceler do Paraguai, Víctor Verdún Bitar, criticou durante a reunião da OEA nesta segunda (10) a mudança de postura do Brasil.
Já a diplomata brasileira Maria Laura da Rocha, ao discursar após a eleição de Ramdin, disse que a OEA precisa “recuperar sua credibilidade”, pois a organização “perdeu legitimidade e relevância em certos temas, vendo diminuir sua capacidade de aportar soluções, em particular diante das crises na Venezuela e na Nicarágua”.
Nos Estados Unidos, o governo republicano vê com preocupação a postura favorável de Ramdin ao diálogo com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e sua aproximação com a China. Ao anunciar sua candidatura para liderar a OEA, Ramdin havia declarado que “a única forma” de tratar a situação da Venezuela é por meio do “diálogo” com o regime de Maduro. A afirmação contrastou com a posição de seu adversário, Rubén Ramírez Lezcano, que defendia que a OEA deveria “trabalhar intensamente para que Venezuela, Cuba e Nicarágua voltem ao sistema democrático e tenham governos respeitados e respeitáveis”.
Sobre a China, durante sua campanha, o diplomata surinamês afirmou que “todos os países devem ter a mesma oportunidade de poder falar, influir e contribuir” na organização, em referência ao papel do país comunista.
O diplomata americano Michael Kozak, representante da Casa Branca na eleição, destacou que a administração Trump espera que sob o comando de Ramdin, a OEA reforce sua posição contra regimes autoritários e combata a influência externa na região. Segundo Kozak, é fundamental “terminar com as influências extracontinentais” e garantir um caminho para a “transição democrática na Venezuela”.