A Venezuela escolhe neste domingo o presidente que governará o país pelos próximos seis anos, numa eleição de prognóstico aberto, uma vez que há pesquisas eleitorais apontando tanto o favoritismo da reeleição do presidente Nicolás Maduro como uma vantagem ampla do principal concorrente da oposição, o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia.
A votação começou às 7h e se estende até as 19h e a previsão é que o resultado saia entre o final da noite de domingo e as primeiras horas da segunda-feira (29).
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Entenda a progressão dos fatos na Venezuela
O presidente venezuelano que sucedeu Chávez após a sua morte tem grande possibilidade de ser derrotado nas urnas para o opositor Edmundo González Urrutia na disputa eleitoral de hoje. Se essa tendência for confirmada nas eleições da Venezuela, isso representaria o fim de mais de duas décadas de chavismo no país.
Chavismo deu início a uma onda progressista em países da América do Sul. Com isso, houve rompimento com uma tendência de governos neoliberais, segundo cientistas políticos, especialistas em relações internacionais e historiadores.
Três anos após vitória de Chávez, Lula se tornou presidente no Brasil em 2002. No ano seguinte, Nestor Kirchner assumiu a presidência na Argentina, seguido de Tabare Vázquez (Uruguai em 2005), Evo Morales (Bolívia em 2006) e Michelle Bachelet (Chile em 2006) e Rafael Correa (Equador em 2007).

Eleitora de Nicolás Maduro segura cartaz com a imagem do presidente e de Hugo Chávez – Foto: Carlos Garcia Rawlins /Reuters
O Chávez conseguiu usar a riqueza gerada pelo petróleo em programas sociais, que trouxeram prosperidade para a população. Ele também exercia uma liderança carismática e de apelo popular.Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da UFABC
Das lideranças de esquerda na América do Sul, o Chávez era o mais radical. Mas, ao mesmo tempo, ele também era o maior entusiasta da integração naquele momento de ascensão dos governos progressistas, usando a sua força não apenas para políticas públicas internas, mas também para fazer acordos de fornecimento a países latino-americanos que precisavam do petróleo.Rafael Araújo, Historiador e professor da UERJ
Carisma, petróleo EUA e autoritarismo
Perda de popularidade após a morte de Hugo Chávez. “A população venezuelana vinculava a sua melhora de vida à figura dele. Quando o Maduro assume, não havia mais uma conjuntura tão favorável à esquerda. Com menos carisma, o Maduro também não tinha a mesma capacidade política para mobilizar a população”, disse o cientista político Josué Medeiros.
Efeito da baixa do petróleo e dos EUA. “O Maduro precisou lidar com a queda do valor do petróleo e com as sanções econômicas dos EUA, o que representou um baque econômico”, explicou o historiador Rafael Araújo, que irá lançar ainda neste ano um livro sobre o chavismo pela editora Edupe.
Sem saída. Autor de dois livros sobre a Venezuela, Gilberto Maringoni entende que o governo Maduro enfrentou dificuldades devido aos embargos promovidos pelos EUA e pela dependência econômica em relação ao petróleo.
O governo Maduro é autoritário e tem problemas, mas enfrentou uma conjuntura desfavorável. É um país exportador de commodities, cujo centro dinâmico está no mercado externo. A esses fatores, some-se a incompetência gerencial interna e temos aí as bases da crise atual.Gilberto Maringoni
O Chávez vinha de um processo de desenvolvimento das instituições políticas, com um projeto social mais amplo. Já o Maduro militarizou o chavismo e setores da economia, minando as organizações da sociedade civil e com uma ideia autoritária de se manter no poder. E ele não dá declarações indicando que vai aceitar o resultado das eleições.Josué Medeiros
O chavismo está enraizado na Venezuela. É como o peronismo na Argentina. Sem o mesmo carisma de Chávez, Maduro precisou lidar com um cenário de queda do valor do petróleo e de sanções dos EUA. Aí, ele deu uma guinada autoritária, que desconstruiu a popularidade do chavismo.
Milhões de emigrantes venezuelanos não poderão votar
Mais da metade dos estimados 7,7 milhões de venezuelanos que deixaram sua terra natal durante a complexa crise que marcou a presidência de 11 anos de Maduro estão registrados para votar na Venezuela. Mas de todos os venezuelanos espalhados pelo mundo, incluindo aqueles que emigraram antes da crise, os números do governo mostram que apenas cerca de 107.000 estão registrados para votar fora do país sul-americano.
Com informações de Rafael Araújo (UOL) e InfoMoney