AnúncioAnúncio

Internacional

Mundo

Captura de 2 soldados chineses combatendo pela Rússia na Ucrânia coloca em xeque neutralidade de Pequim na guerra

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou, nesta terça-feira (8), a captura de dois cidadãos chineses que lutavam junto ao exército russo na Ucrânia, pedindo uma "reação" dos países ocidentais diante da "implicação" da China no conflito. Se essa presença for confirmada, a China se tornaria o segundo país a participar diretamente da agressão russa ao enviar soldados, após o envio de tropas norte-coreanas por Pyongyang no fim de 2024.


Foto: Reprodução

Esta é a primeira vez que a Ucrânia afirma ter encontrado cidadãos chineses envolvidos diretamente nas hostilidades desde o início da invasão russa, há três anos. O chefe da diplomacia ucraniana, Andriï Sybiga, declarou no X que convocou o encarregado de negócios chinês em Kiev para “exigir explicações”.

Zelensky explicou em uma coletiva de imprensa que os dois soldados foram capturados na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, durante um confronto envolvendo seis militares chineses perto do vilarejo de Bilogorivka. “Temos documentos desses prisioneiros, cartões bancários e dados pessoais”, disse o presidente, publicando também uma breve gravação que supostamente mostra um desses soldados.

Continua depois da Publicidade

No trecho do vídeo postado por Zelensky, um soldado chinês, detido na região de Donetsk, onde ele estaria lutando segundo Kiev, explica aos soldados ucranianos como ocorreram os combates dos quais teria participado, sob as ordens de um comandante.

Ainda segundo o presidente ucraniano, os serviços de inteligência ucranianos teriam estabelecido que a presença chinesa vai muito além dos dois soldados capturados. Zelensky denuncia essa participação chinesa na guerra russa contra a Ucrânia, seja de forma direta, com a presença de tropas chinesas no terreno, ou indireta, por meio de financiamentos e fornecimento de equipamentos militares pela China a Moscou. Ele considera isso um sinal claro de que a Rússia não tem intenção de cessar a guerra.

Envolvimento da China

Zelensky também afirmou que há informações indicando que muitos outros cidadãos chineses poderiam estar envolvidos nas unidades russas. Ele criticou a “implicação da China nesta guerra na Europa”, e fez um apelo para que norte-americano, europeus e todos aqueles que desejam a paz no mundo se posicionem.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia reforçou que a captura dos soldados chineses questiona a posição pública da China em favor da paz e prejudica sua credibilidade como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

A guerra na Ucrânia tem testemunhado a participação de cidadãos de vários países nos dois lados do conflito, com a Rússia relatando prisioneiros de guerra de diversas nacionalidades, como colombianos, britânicos, norte-americanos e australianos.

Em dezembro, Kiev já havia anunciado a captura de norte-coreanos lutando ao lado das forças russas na região de Kursk, que está parcialmente ocupada pelas tropas ucranianas desde agosto de 2024. A Ucrânia, a Coreia do Sul e os países ocidentais acusam a Coreia do Norte de enviar milhares de soldados para apoiar o exército russo.

“Neutra”?

A China, que se apresenta como uma parte neutra e possível mediadora do conflito, é um aliado político e econômico crucial para a Rússia. Enquanto os ocidentais a consideram um “facilitador decisivo” da invasão russa, a China nunca condenou a ação militar de Moscou.

A cooperação diplomática e econômica entre Pequim e Moscou se intensificou desde a ofensiva russa em fevereiro de 2022, especialmente após as sanções impostas pela comunidade internacional à Rússia.

Zelensky também acusou a China de ajudar a Rússia a contornar as sanções ocidentais, permitindo que Moscou adquira componentes tecnológicos necessários à produção de armamentos. Ele alertou que, após o Irã e a Coreia do Norte, a China se junta agora aos países que apoiam militarmente a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A Ucrânia também acusa o Irã de fornecer drones Shahed e mísseis de curto alcance à Rússia para o uso na guerra, o que Teerã nega. Além disso, o governo ucraniano afirma que Pyongyang fornece munições e mísseis à Rússia.

Como sinal de estreitamento de laços entre a Rússia, o Irã e a China, representantes desses três países devem se reunir em Moscou nesta terça-feira para discutir o programa nuclear iraniano, enquanto o presidente norte-americano Donald Trump tenta iniciar negociações diretas com o Irã.

Com informações de Emmanuelle Chaze, correspondente da RFI em Kiev, e agências