Pesquisa feita com pais e alunos mostra que os mais pobres, que nao tiveram acesso a ferramentas de ensino a distância, agora enfrentam a falta de vagas em programas de reforço. Levantamento revela ainda a falta de apoio psicológico e o medo que os pais têm de os filhos abandonarem a escola.
Pesquisa do Instituto Datafolha mostra que os estudantes mais pobres, que tiveram negado o acesso a ferramentas para o ensino a distância durante o auge da pandemia de covid-19, continuam prejudicados em sua maioria: só 39% deles têm acesso a reforço escolar no retorno às aulas presenciais. Encomendada pela Fundação Lemann e Instituto Itaú Social, a pesquisa mostra a percepção de alunos e pais sobre a educação não presencial. O estudo foi encomendado para apoiar gestores públicos com dados e evidências para o planejamento de suas ações.
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O estudo de Educação na Perspectiva dos Estudantes e Suas Famílias foi feito a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ouviu, em maio, 1.308 pais ou responsáveis por 1.869 estudantes.
Para 74% dos pais ou responsáveis, ações de apoio psicológico contribuem muito para os alunos, enquanto 70% destacam a importância do reforço escolar. “Há desigualdade na oferta do reforço, seja em termos de mais oferta para escolas públicas com maior nível socioeconômico, quando comparados com escolas com menor nível socioeconômico, mas também quando a gente olha e compara regiões do Brasil”, disse a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes.
No sul do país, o percentual de estudantes de escolas com aula de reforço é de 53% e, no Nordeste, cai para 28%. Essa diferença também se expressa entre os matriculados em escolas públicas com maior nível socioeconômico (43%) e os que estudam em escolas com menor nível socioeconômico (33%).
Entre as atividades desenvolvidas para lidar com lacunas impostas pelo ensino remoto está a promoção de espaços para interação com os colegas, como jogos, brincadeiras e saraus. Oito em cada dez entrevistados relataram essas ações. Também foram relatadas, por sete a cada dez estudantes, avaliações para conhecer, diagnosticar e acompanhar as dificuldades de aprendizagem.
Os dados reunidos pelo Datafolha também mostram que 21% dos estudantes podem desistir da escola. No ensino médio, o percentual sobe para 28%. A perda pelo interesse pelos estudos é o principal motivo para tal preocupação, citada por 32% dos entrevistados. Também foi relatada a falta de acolhimento como razão para a preocupação dos pais com o abandono e a evasão, com 23%.
Falta apoio, sobram prejuízos
Esses alunos que ficaram tanto tempo em casa, em meio a dificuldades para acompanhar as aulas virtuais, em muitos casos enfrentando a violência doméstica e até a insegurança alimentar, em sua maioria não tem acolhimento na escola. Pelas entrevistas, o Datafolha concluiu que 40% (bem menos da metade) dos estudantes está matriculada em escolas que oferecem apoio psicológico. Um dado preocupante, já que 34% têm dificuldades para controlar as suas emoções. No Ensino Médio, este número chega a 40%, segundo os pais. Pelo menos 24% relatam sentimento de sobrecarga e 18% de tristeza ou depressão.
Conforme o relatório da pesquisa Datafolha, é possível dizer que 5% dos estudantes tem dificuldade com o retorno às aulas presenciais. E que 21% de pais de alunos do ensino fundamental e 28% do ensino médio temem que os filhos abandonem a escola. Do total de pais, 32% relata que a falta de interesse dos filhos pelos estudos aumentou justamente devido à sensação de falta de acolhimento.
Outro grave problema apontado na pesquisa é que, nos anos iniciais da alfabetização, 47% dos estudantes foram muito prejudicados pelas aulas remotas. Nos últimos dois anos, apenas 6% dos estudantes nessa etapa realizou a maior parte das atividades escolares de maneira presencial. A maioria (37%) foi pela internet.
Segundo os responsáveis, aproximadamente 1 em cada 3 (39%) dos alunos está avançando com dificuldades no processo de alfabetização. E 6% não está avançando. E pouco mais da metade (54%) das crianças está avançando no processo de alfabetização conforme o esperado. No Nordeste, esse índice é de 36%.