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Brasil

Meio ambiente

O jornal diário Francês Le Monde denuncia “aniquilação do Cerrado em benefício do agronegócio” no Brasil

O rico ecossistema do Nordeste brasileiro foi amputado pela metade para dar lugar a campos de soja, milho e algodão, pulverizados de agrotóxicos. De acordo com reportagem do jornal Le Monde desta sexta-feira (15), "nada parece ser capaz de impedir a destruição da biodiversidade e o perigo da estiagem do solo".


O correspondente Bruno Meyerfeld foi ao Piauí, onde imensas nuvens de fumaça se elevam no céu e denunciam a devastação do Cerrado. Nos arredores da cidade de Uruçui, extremo sul do estado, o fogo está por toda parte. “Os canteiros das estradas são vermelhos de brasas e pretos de cinzas”, descreve.

O Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais contabilizou este ano mais de 23 mil incêndios no Cerrado, segue o texto, destacando que pelo menos 5 mil km² foram destruídos pelo fogo, um aumento de 20% em relação ao mesmo período de 2022.

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Com clima quente, pontilhado de arbustos e pequenos rios, o bioma “é o lar da anta, da onça-pintada, do tamanduá-bandeira e de 320 mil espécies de animais. A região que ainda abriga 5% da biodiversidade mundial é também uma bacia hidrográfica vital e um gigantesco sumidouro de carbono – o que não impede a sua destruição: em poucas décadas, metade da sua superfície já foi arrasada”, informa o Le Monde. “Tudo isso deu lugar a campos de grandes proprietários de terras e agroindustriais”.

Aniquilação do Cerrado em benefício do agro – Foto: reprodução

A reportagem visitou uma fazenda com 50 quilômetros de plantações. O grupo agroindustrial reportado concentra cinco fazendas, com um total de 82 mil hectares, oito vezes o tamanho de Paris, compara o diário francês, onde 650 trabalhadores cultivam soja, milho, sorgo e algodão.

Para seus proprietários, “o agronegócio levou o desenvolvimento” para a região. Porém, um estudo recente do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IIS) previu a possível extinção de mais de 1,1 mil espécies de plantas no Cerrado até o ano de 2050: um número oito vezes superior ao de espécies de plantas já consideradas extintas em todo o mundo, segundo o ISS. “Um massacre”, constata o enviado especial do Le Monde.

Poluição de agrotóxicos

Como resultado da destruição do Cerrado, o Brasil viu 15% de sua superfície hídrica se evaporar desde 1985, segundo a ONG MapBiomas, especializada em desmatamento.

E não é só isso: o agronegócio também espalha em média 600 milhões de litros de agrotóxicos no Cerrado, todos os anos. O glifosato e outros produtos perigosos “se infiltram no solo e poluem todo o vale”, alerta o enfermeiro de um posto de saúde próximo à vila de Santo Antônio, visitada pela reportagem.

Um estudo publicado em 2018 pela Universidade Federal do Piauí revelou um número significativo de malformações em bebês na região, dos quais 14% nascem com peso muito abaixo da média, enquanto oito em cada dez mães produzem leite contaminado com glifosato.

O Cerrado é o mais vulnerável dos ecossistemas brasileiros: apenas 8% de sua superfície é protegida, em comparação com metade da Amazônia.

Em 2023, o bioma vem sofrendo uma média de 150 alertas diários de desmatamento, conforme dados da plataforma SAD Cerrado, desenvolvida pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).