Informações e imagens do G1 Alagoas apresentam a gravidade do problema enfrentado pelos maceioenses. Vários bairros da cidade correm risco de afundamento de solo, o que poderia provocar o surgimento de uma imensa cratera.
Os primeiros alertas sobre os danos no solo vieram por meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. O abalo sísmico fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e paredes de imóveis, atingindo cerca de 14,5 mil casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais nos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol.
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Depois de 14 meses de estudos, o Serviço Geológico do Brasil, órgão do governo federal, concluiu que as atividades de mineração da empresa Braskem em área de falha geológica causaram os afundamentos.
A Braskem teve em Maceió 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. A exploração do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico.
A atividade de mineração deixou um rastro de impactos geológicos e ambientais que ainda estão em curso —não estão descartados novos tremores e afundamentos no futuro.
Profundidade do sal-gema em Maceió — Foto: Arte: g1
A possibilidade de desabamento de uma das minas da Braskem, empresa responsável pela mineração que afetou cinco bairros de Maceió, provocou a evacuação de residências e até de um hospital na quarta-feira (29) e também nesta quinta (30). A gravidade da situação levou a prefeitura a decretar situação de emergência.
Entenda a situação:
- A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. A extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, tinha autorização do poder público.
- Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado, o que agravou as rachaduras e crateras no solo, provocando danos irreversíveis nos imóveis.
- Somente um ano depois o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, confirmou que a mineração provocou a instabilidade no solo.
- Em junho de 2019 foram emitidas as primeiras ordens de evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol.
- Desde então, mais de 14 mil imóveis precisaram ser desocupados na região, afetando cerca de 55 mil pessoas e transformando áreas antes habitadas em bairros fantasmas.
- Depois que a mineração foi apontada como a principal causa da instabilidade do solo, um intenso trabalho foi iniciado pela Braskem para fechamento e estabilização de 35 minas na região do Mutange e de Bebedouro, com profundidade média de 886 metros.
- Contudo, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o “risco de colapso em uma das minas” próximo da lagoa Mundaú, a de número 18, o que poderia provocar o surgimento de uma imensa cratera.
- O professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera em que caberia o estádio do Maracanã.
- Com o desabamento, a água da lagoa, terra e detritos seriam escoados para dentro da cratera, provocando a formação de um lago com profundidade de 8 a 10 metros. Segundo a Defesa Civil, esse fenômeno tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região seria impactada “de forma bastante trágica”.
- O Serviço Geológico do Brasil enviou uma nova equipe a Maceió para avaliar o problema, que é monitorado também pela Defesa Civil Nacional.
- A Justiça Federal determinou a retirada de pouco mais de 20 famílias que ainda vivem nas áreas de risco nos bairros do Bom Parto. Embora não haja ordem para evacuação no Pinheiro, um hospital no bairro transferiu todos os seus pacientes para outras unidades de saúde.
Em nota, a Braskem diz que adotou medidas para garantir a segurança das pessoas, buscar a soluções para os efeitos do fenômeno geológico e para pensar o futuro das áreas desocupadas e entorno.
Na frente ambiental, a mineradora informou que contratou uma empresa especializada que sugeriu um plano de ação entregue às autoridades após cumprir as fases de diagnóstico e escuta da comunidade.
Sobre a estabilização e monitoramento do solo, a Braskem diz que instalou sismógrafos e equipamentos de alta precisão para detectar movimentações de terreno na região. Por fim, destacou, está executando obras estruturantes em Maceió com investimento previsto de R$ 360 milhões.
Com informações do G1 – Alagoas e Folha de São Paulo