As novas tarifas da Casa Branca sobre aço e alumínio anunciadas nesta segunda-feira (10) podem ter impactos abrangentes na economia dos Estados Unidos, protegendo algumas empresas da concorrência estrangeira enquanto aumentam os custos em outras áreas.
A tarifa de 25% se aplicaria a todos os embarques de aço e alumínio, incluindo aqueles do Canadá e México, que na semana passada receberam um adiamento de 30 dias sobre uma tarifa geral de 25% que afeta todos os produtos.
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Embora o Canadá sinta o peso da medida desta segunda por ser o principal fornecedor estrangeiro para compradores dos EUA, as tarifas também têm como alvo a China, que responde por mais da metade da produção global de aço.

O presidente Donald Trump assina medida que impõe tarifas de 25% sobre aço e alumínio – Foto: Kevin Lamarque – 10-02-2025/Reuters
Quem ganha
Fornecedores de aço e alumínio dos EUA
As tarifas funcionam como um imposto sobre as importações, levando os fornecedores estrangeiros a aumentarem os preços. Isso significa que as empresas dos EUA que fornecem aço e alumínio terão a chance de superar seus concorrentes estrangeiros, já que o aço de parceiros comerciais como Canadá, Brasil e México se torna dramaticamente mais caro.
Várias empresas de aço com sede nos EUA viram seus preços de ações subirem nesta segunda-feira como resultado: Nucor e Steel Dynamics subiram 5,5% e 4,9%, respectivamente, até o fechamento do mercado, enquanto Cleveland-Cliffs disparou quase 18%. A US Steel subiu quase 5%. O produtor de alumínio Alcoa subiu cerca de 2%.
Philip Bell, presidente da Steel Manufacturers Association, disse que as tarifas ajudariam a “nivelar o campo” para os produtores domésticos, e rebateu as críticas de que as tarifas aumentariam os custos sem adicionar um grande número de empregos na manufatura.
Uma tarifa de 25% sobre a quantidade de aço usada em um carro típico de US$ 40 mil aumentaria o preço em 1% ou 2%, disse Bell.
O presidente da United Steelworkers International, no entanto, fez uma distinção entre “parceiros comerciais confiáveis, como o Canadá, e aqueles que buscam minar nossas indústrias enquanto trabalham para dominar o mercado global.”
“Nossa união acolhe os esforços do presidente Donald Trump para conter a supercapacidade global que por muito tempo permitiu que atores ruins como a China inundassem o mercado global com seus produtos comercializados de forma injusta, resultando em um aumento das importações para os Estados Unidos, especialmente do México”, disse o presidente David McCall em um comunicado. Mas ele acrescentou que “o Canadá não é o problema.”

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda – RJ/Brasil em 10 de fevereiro de 2025 – Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Consumidores
Alumínio e aço são usados em uma ampla gama de produtos, o que significa que tarifas de importação mais altas acabariam por afetar os consumidores.
No entanto, não está claro quanto tempo levará para os consumidores sentirem o impacto e em que medida. Isso se deve em parte ao quanto de aço ou alumínio é usado para fabricar o produto, disse Lydia Cox, professora de economia da Universidade de Wisconsin em Madison.
Também cabe às empresas decidirem quais custos adicionais devem repassar aos seus clientes, disse ela: “Se você tivesse um aumento de 25% em 50% dos seus custos, isso seria um aumento [potencial] considerável” nos preços.
Em vez disso, são as empresas e fabricantes —que compram aço e alumínio em grandes quantidades— que serão os primeiros a ver aumentos de preços, disse Douglas Irwin, professor de economia no Dartmouth College.
“Não é como se você ou eu fôssemos até a Lowe’s ou Home Depot ou algo assim e comprássemos uma barra de aço”, disse.
Uma análise de 2018 das tarifas de aço impostas durante o primeiro governo Trump, publicada pelo Instituto Peterson de Economia Internacional, descobriu que a política criou empregos, mas a um grande custo para os inúmeros compradores de aço estrangeiro nos EUA.
A análise concluiu que a política, que também taxou o aço importado em 25%, criou cerca de 8.700 empregos e gerou cerca de US$ 2,4 bilhões em lucros antes de impostos para as empresas de aço. Mas as indústrias domésticas que compram aço nos Estados Unidos pagaram outros US$ 5,6 bilhões graças à proteção —um custo de cerca de US$ 650 mil para cada emprego criado na indústria do aço.
“No fim das contas, as indústrias que dependem do aço como matéria-prima nos EUA sofrerão, resultando em uma perda líquida de empregos na manufatura, como ocorreu no governo Trump 1”, disse Hufbauer.
Glenn Stevens Jr., diretor executivo da MichAuto, uma divisão da Câmara Regional de Detroit, disse que as montadoras provavelmente não podem absorver o efeito combinado das tarifas sobre o Canadá e o México e os suprimentos globais de aço e alumínio.
“Os preços de transação de veículos já estão muito altos, e se subirem mais, isso diminui a demanda”, disse ele. Isso, por sua vez, poderia levar a cortes na produção e perda de empregos.
Exportadores dos EUA
Algumas indústrias dos EUA que vendem produtos no exterior também podem sentir o impacto das últimas tarifas de importação de Trump à medida que outras nações retaliam, disse Irwin.
“O governo Trump começou a socorrer os agricultores e a agricultura americanos”, disse Michael Klein, professor de economia na Universidade Tufts e editor executivo da EconoFact, uma publicação não partidária sobre políticas econômicas e sociais publicada pela universidade.
“Qualquer receita que foi arrecadada foi esgotada tentando amortecer aqueles que foram prejudicados pela retaliação.”
Reflexos globais
Os especialistas afirmam que concretizado o tarifaço de Trump, além de bagunça nas relações comerciais no mundo todo, haverá um reflexo não só econômico, mas político dentro dos Estados Unidos, o aumento dos preços, já que os insumos vão custar mais caro. O analista Rafael Prado, consultor de macroeconomia da GO Associados, ressalta que esse cenário levaria o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, a elevar os juros no país, o que seria um entrave ao crescimento econômico prometido por Trump na campanha, com reflexos globais.
“O protecionismo não é bom para nenhum dos lados envolvido. A China, por exemplo, já anunciou medidas retaliatórias. O Brasil também já disse que, caso seja afetado, vai responder com reciprocidade. A União Europeia comentou que essas medidas de taxação sobre o aço e o alumínio são contraproducentes. Então, o que pode acontecer é uma redefinição das relações de comércio internacional pela busca de oportunidades mais favoráveis e com tarifas mais baixas. Tudo isso pode levar a um isolamento dos Estados Unidos”, avalia Prado.
“Agora, em relação ao Brasil, avalio que a melhor opção é se manter afastado de qualquer disputa comercial. Então, em primeiro lugar, precisa haver diálogo e negociação entre as duas partes. Do mesmo modo que Canadá e México negociaram, o Brasil também tem que negociar, porque assim como para os Estados Unidos, o cenário para o Brasil é negativo. E isso é verdade num ambiente com ou sem retaliação”, opinou o analista.
No Brasil, a confirmação das medidas gerou apreensão e receio. Governo e empresários esperam detalhes do que vem por aí e analisam alternativas para as vendas externas e também possíveis retaliações. Em público, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que interrompeu uma viagem ao interior para se reunir à noite com técnicos e autoridades da área, afirmou que o diálogo deve prevalecer.
“Nós acreditamos muito no diálogo. A parceria Brasil-Estados Unidos é equilibrada, é um ganha-ganha. Nós exportamos para eles, eles exportam para nós. Então vamos aguardar. A nossa disposição é sempre a de colaboração, parceria em benefício das nossas populações”, afirmou Alckmin.
Com agências