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Política

São Paulo

Deputado do Psol quer alterar nome da rodovia Castello Branco para Eunice Paiva

Projeto de lei foi apresentado por Guilherme Cortez (Líder do PSOL na ALESP) visa homenagear a paulistana em detrimento de personalidades que 'perseguiram minorias'. A SP-280 liga a Região Metropolitana de São Paulo à região central do estado e homenageia o primeiro presidente do governo militar.


A Rodovia Castello Branco, inaugurada em 1968, tem 315 km de extensão e liga a capital paulista ao interior do estado – Foto: CCR Via Oeste

O deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL-SP) protocolou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no dia 28 de fevereiro deste ano, um projeto de lei que visa alterar o nome da Rodovia Presidente Castello Branco para Rodovia Eunice Paiva. O texto foi publicado no Diário Oficial da Alesp nesta quarta-feira (05) e está em tramitação na Casa.

Segundo o documento, o objetivo da medida é homenagear Eunice que, nascida em São Paulo, casou-se com o deputado Rubens Paiva, com quem teve cinco filho, e que sofreu uma “reviravolta dramática” em sua vida durante a ditadura militar, quando seu marido foi preso, torturado e assassinado nos porões do DOI-CODI no Rio de Janeiro, em janeiro de 1971.

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Além disso, Cortez destacou que a mudança do nome da estrada “ fundamenta-se na necessidade de ressignificação de nomes de rodovias, parques, escolas, viadutos e prédios públicos estaduais” que exaltam personalidades conhecidas pela perseguição a minorias e pela violência, o que, segundo ele, configura uma ofensa a princípios democráticos estabelecidos pela Constituição Federal brasileira. Ele também cita documentos do Arquivo Nacional que apontam Castello Branco como um dos responsáveis pela deposição do então presidente João Goulart, assumindo o cargo em 1964 por meio de eleição indireta.

No último domingo, dia 2 de março, o filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, trama focada em Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres), conquistou a primeira estatueta da história do Brasil no Oscar, nos Estados Unidos, na categoria de melhor filme internacional.

A Rodovia Castello Branco, inaugurada em 1968, tem 315 km de extensão e liga a capital paulista ao interior do estado, passando por municípios da Região Metropolitana de São Paulo até chegar a Espírito Santo do Turvo e Santa Cruz do Rio Pardo.

Quem foi Castello Branco?

Humberto Castelo Branco, dá o nome para a Rodovia Castello Branco, foi um militar de carreira e o 26º Presidente do Brasil, entre os anos de 1964 a 1967 no início do período conhecido como Ditadura Militar.

Reunião no Rio de Janeiro com Carlos Lacerda, Presidente Castelo Branco e o General Ernesto Geisel 04-07-1964 – Foto: Agência O Globo

Nascido em 20 de setembro de 1897, no campo das Forças Armadas entre as ações de destaque, está a sua atuação na Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, no cargo de tenente-coronel, inclusive na Batalha de Monte Castello, uma das mais importante da participação dos pracinhas no conflito.

Foi promovido a Coronel em 1945 no final da guerra e escreveu publicações voltadas para a atividade militar, vindo já na década de 1960 a assumir o Estado-Maior do Exército.

Faleceu em 1967 em um acidente aéreo logo depois de deixar o poder, em circunstâncias com poucos detalhes.

Quem foi Eunice Paiva?

Eunice Paiva, como era conhecida Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva, nasceu em 7 de novembro de 1929 e faleceu aos 89 anos em 2018.

O longa-metragem “Ainda Estou Aqui” jogou luz à luta de Eunice Paiva para obter a certidão de óbito do marido – Foto: Reprodução

Cresceu no bairro do Brás no centro de São Paulo, e se formou em letras pela Universidade Mackenzie, se destacando pela fluência nos idiomas francês e inglês.

Se casou com Rubens Beyrodt Paiva, com quem teve cinco filhos. Seu marido foi levado por militares em janeiro de 1971, e perdeu a vida no DOI-CODI. Desde então, Eunice se dedicou na busca por informações de seu cônjuge e sobre o destino dele.

Sua ação militante e nos questionamentos para obter a verdade, resultaram na Lei 9.140/95 que reconheceu como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar.

Também se dedicou na atividade de advogada e em causas nobres, como protestos e divulgação de atos contra comunidades dos povos nativos e a usurpação de suas terras.

Tramite do Projeto de Lei

Se for aprovado, vai à sanção do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi militar. O governador de SP pode vetar ou sancionar a proposta.

Caso seja sancionado, o projeto vira lei e a rodovia tem o nome substituído. Se for vetado pelo governador, volta para a Alesp, onde os deputados estaduais podem manter ou derrubar o veto.

Para conseguir derrubar o veto, também é necessário ter a maioria dos votos na Alesp, onde o governador tem uma base de apoio confortável.