
Celso Vilardi (dir), advogado de Jair Bolsonaro (esq), considera a delação do tenente-coronel Mauro Cid contra Bolsonaro e aliados “incoerente” com as provas e contradiz outros depoimentos-chave, como o do general da reserva Walter Braga Netto – Foto: Ton Molina/STF
O advogado Celso Vilardi, que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fez duras críticas ao depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e delator no inquérito que apura tentativa de golpe de Estado. Segundo Vilardi, a narrativa apresentada por Cid é “incoerente”, contraditória em relação a outros depoimentos e baseada em uma “amnésia seletiva”.
“É um depoimento típico de quem está mentindo”, afirmou o defensor, ao comentar trechos da colaboração premiada firmada por Cid com a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República. “Ele só lembra o que quer lembrar. Quando algo compromete, ele simplesmente esquece.”
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Contradições apontadas
Vilardi destacou pontos específicos em que, segundo ele, o relato de Cid entra em colisão com provas e testemunhos já constantes no processo. Um dos exemplos citados foi a menção a uma suposta reunião no salão de festas do Palácio do Planalto. “Essa reunião não existiu”, afirmou. Também questionou o relato de um pedido para redigir um rascunho de texto golpista, alegando que o conteúdo jamais foi apresentado.
Outro ponto contestado é a declaração de Cid sobre a existência de grupos organizados ao redor do ex-presidente. “Ele mesmo disse que Bolsonaro afirmou que tudo seria feito dentro das quatro linhas. Onde estão esses tais grupos? Isso precisa ser esclarecido, porque até agora não há nenhuma evidência robusta”, rebateu o advogado.
Delator sob suspeita da própria defesa
A delação de Mauro Cid é considerada peça-chave no inquérito que investiga articulações golpistas após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. O ex-ajudante de ordens implicou militares, ex-ministros e o próprio Bolsonaro em ações antidemocráticas. Para a defesa, no entanto, o depoimento tem “lacunas convenientes” que beneficiam exclusivamente o delator.
“Assim é fácil depor. Não lembra. Essa parte não lembra. A memória dele é seletiva para algumas coisas e para outras não lembra”, ironizou Vilardi.
Interrogatórios seguem nesta terça
A audiência desta segunda-feira (9) contou também com o depoimento do delegado Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e atual deputado federal, investigado por suposto envolvimento em monitoramento ilegal e atos antidemocráticos.
Outros seis réus ainda serão ouvidos nesta semana, em ordem alfabética:
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Almir Garnier, ex-comandante da Marinha
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Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
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Augusto Heleno, ex-ministro do GSI
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Jair Bolsonaro, ex-presidente da República
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Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
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Walter Braga Netto, general da reserva e ex-ministro da Casa Civil
Bolsonaro deve ser o sexto a prestar depoimento. Braga Netto, preso desde dezembro de 2024 em unidade do Exército no Rio de Janeiro, será ouvido por videoconferência.