Ainda de acordo com Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al Thani, que também é Ministro das Relações Exteriores, os trabalhos continuam para implementar as etapas descritas no acordo e Doha continuará a trabalhar com o Cairo e Washington para garantir o cumprimento do texto pelas partes.
O acordo, intensamente negociado por Catar, Estados Unidos e Egito, e concluído poucos dias antes do retorno de Donald Trump à Casa Branca, prevê a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
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O premiê do Catar informou que os primeiros reféns devem ser soltos neste fim de semana. “O Hamas libertará 33 prisioneiros israelenses, incluindo mulheres civis (…), crianças, idosos, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros mantidos em prisões israelenses. Os detalhes das fases dois e três serão finalizados quando a primeira fase for implementada”, acrescentou.

Palestinos celebram o acordo de cessar-fogo entre Hamas e Israel em Deir al-Balah (Faixa de Gaza) nesta quarta-feira 15 – Foto: Abdel Kareem Hana/AP
“Temos um acordo sobre os reféns” em Gaza, disse mais cedo o presidente eleito dos EUA. Trump também publicou nesta quarta-feira em sua rede social Truth uma mensagem dizendo que não deixaria Gaza se tornar um “paraíso terrorista” e que a Casa Branca continuaria a “trabalhar em estreita colaboração com Israel e (seus) aliados”.
Já o governo israelense informou que “ainda há questões a serem resolvidas” e espera concluir um acordo “esta noite”. O comunicado israelense também diz que “diante da posição firme do primeiro-ministro Netanyahu, o Hamas cedeu no último minuto ao seu pedido de modificar a distribuição de forças (israelenses) ao longo do Corredor da Filadélfia”, uma zona tampão dentro da Faixa de Gaza ao longo da fronteira com o Egito.
A questão de se a área deveria ou não ser controlada pelo Exército israelense foi um dos pontos de discórdia nas negociações.
Antes de entrar em vigor, o acordo final terá que ser aprovado por votação do governo israelense.
Acordo
Mais cedo, fontes próximas à discussão informaram a agências de notícias que um acordo de cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns havia sido alcançado após a reunião do primeiro-ministro do Catar com os negociadores do Hamas e, separadamente, com os negociadores israelenses.
O documento teria previsto uma primeira fase, quando 33 reféns seriam libertados, começando por mulheres e crianças, em troca de mil palestinos mantidos por Israel.
A segunda fase envolveria a libertação dos reféns restantes, “soldados e homens em idade de alistamento”, além da devolução dos corpos dos reféns mortos, de acordo com o jornal Times of Israel.
Uma autoridade israelense, no entanto, alertou na terça-feira (14) que Israel “não deixaria Gaza até que todos os reféns retornassem, os vivos e os mortos”.
À medida que as negociações avançavam, Israel intensificou os ataques na Faixa de Gaza, alegando ter como alvo combatentes do Hamas.
Na quarta-feira, mais 27 pessoas morreram no território palestino, de acordo com os serviços de emergência, principalmente em Deir el-Balah, no centro do território, e na cidade de Gaza, no norte, onde um ataque atingiu uma escola que abrigava pessoas deslocadas.
Reações internacionais
Joe Biden disse que estava “encantado” com a futura libertação de reféns em Gaza. O presidente americano, que deixará a Casa Branca na segunda-feira, um dia após a trégua em Gaza entrar em vigor, disse em comunicado que este acordo se deve a uma “tenaz e meticulosa” campanha diplomática americana.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu que ambos os lados “implementassem integralmente” o texto.
“Este acordo traz esperança a uma região inteira, onde as pessoas têm suportado imenso sofrimento por muito tempo”, publicou no X.
Desde o começo do conflito, apenas uma semana de trégua foi realizada no final de novembro de 2023 e as negociações conduzidas desde então esbarraram na intransigência de ambos os lados.
As discussões se intensificaram antes do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, principal aliado de Israel. O novo presidente americano toma posse em 20 de janeiro, em meio à crescente pressão internacional.
Trump prometeu recentemente um “inferno” para a região se os reféns não fossem libertados antes de seu retorno.
Das 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023, 94 ainda estão mantidas reféns em Gaza, segundo o Exército israelense.
Reconstrução difícil
Já prejudicada antes da guerra pelo bloqueio israelense imposto desde 2007, pela pobreza e pelo desemprego, a Faixa de Gaza saiu da guerra mergulhada no caos.
A ONU estimou que a reconstrução do território, onde mais da metade dos edifícios foi destruída, levaria até 15 anos e custaria mais de € 50 bilhões (cerca de R$ 300 bilhões). A infraestrutura, especialmente a rede de distribuição de água, foi seriamente danificada.
Nos assentamentos improvisados, a população sofre com fome e frio. A maioria das crianças está fora da escola há mais de um ano. Apenas alguns hospitais ainda funcionam parcialmente.
Ao mesmo tempo em que silencia as armas, o cessar-fogo deixa em suspenso o futuro político do território onde o Hamas, agora muito enfraquecido, tomou o poder em 2007, expulsando a Autoridade Palestina do presidente Mahmoud Abbas.
Entrada de ajuda na região
As negociações para abrir a passagem de Rafah, que separa a Faixa de Gaza do Egito, e “autorizar a entrada de ajuda internacional” no território palestino já começaram, anunciou, nesta quarta-feira (15), uma fonte de segurança egípcia, citada pela mídia oficial deste país.
O Egito se “prepara para fazer chegar a maior quantidade possível de ajuda à Faixa de Gaza”, informou o jornal governamental Al Ahram, citando a Al-Qahera News, próxima aos serviços de inteligência, pouco depois do anúncio de um acordo de cessar-fogo entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.
Com informações da AFP