Também conhecido por “SBF”, o jovem investidor pode pegar até 110 anos de prisão. O juiz federal Lewis Kaplan pronunciará sua sentença em 28 de março. Após quase cinco horas de deliberação, o júri o considerou culpado de utilizar, sem seu conhecimento, fundos depositados por clientes de sua plataforma de troca de criptomoedas FTX, que faliu em novembro de 2022.
O dinheiro serviu a negociações de risco e a investimentos da sua empresa, Alameda Research, com empréstimos da FTX que chegaram a cerca de R$ 14 bilhões.
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“Sam Bankman-Fried cometeu uma das maiores fraudes financeiras da história americana”, declarou o promotor federal de Manhattan, Damian Williams, após a leitura do veredito. “Um esquema multibilionário projetado para torná-lo o rei da criptografia.”

Sam Bankman-Fried – Foto: Hiroko Masuike/The New York Times
A decisão é considerada um sucesso para a acusação, que “enterrou” SBF com milhares de documentos, muitos deles condenatórios, bem como os testemunhos de três dos seus antigos colaboradores próximos, incluindo sua ex-namorada.
Todos alegaram ter agido sob a direção do antigo chefe, que era responsável por todas as decisões-chave que permitiram a apropriação indébita de dinheiro dos clientes e os riscos fora de contexto assumidos por parte da Alameda. “Quem tinha o controle? Essa é a questão”, indagou o procurador-adjunto Nicolas Roos na audiência de quarta-feira (1°). “Era uma pessoa: o acusado.”
Boa-fé
Com isso, o ex-bilionário, cuja fortuna desapareceu com a implosão da FTX e da Alameda, tentou alegar boa-fé, apresentando o rosto de um jovem empresário sem experiência e não o de um criminoso. Ele admitiu ter cometido “grandes erros”, mas negou ter violado a lei conscientemente.
Durante a audiência, seu advogado, Mark Cohen, acusou o procurador de o apresentar como um “monstro”, um “bandido”, ao caricaturar suas ações e sua personalidade. O jovem de 30 anos optou por testemunhar em seu julgamento, uma iniciativa rara, por ser considerada muito arriscada.
Mas a audiência, em vez de fortalecê-lo, o enfraqueceu ainda mais, com o antigo “gênio das criptomoedas” se mostrando defensivo e desarticulado sob o fogo das perguntas da promotoria.
Sam Bankman-Fried também tentou acusar seus ex-colegas, ora os acusando de incompetência, ora de o terem avisado muito tarde ou de forma insuficiente sobre a situação financeira da Alameda.
“Respeitamos a decisão do júri, mas estamos muito decepcionados com o resultado”, respondeu Mark Cohen. “Bankman-Fried afirma que é inocente e continuará a contestar vigorosamente as acusações contra ele.”
Júri ratifica acusações de fraude
Após um mês de julgamento, um júri federal em Manhattan condenou Bankman-Fried em sete acusações, após alegações de que ele saqueou fundos dos usuários por pura ganância. A sentença está marcada para 28 de março de 2024, podendo enfrentar décadas de prisão.
Condenação notável na indústria de criptografia
O veredicto reforça os esforços do Departamento de Justiça dos EUA em eliminar fraudes financeiras. Bankman-Fried, que já foi um nome proeminente na indústria de criptografia, agora se junta a figuras notáveis condenadas por crimes financeiros nos EUA.
Testemunho em defesa e implicações por ex-executivos
Bankman-Fried testemunhou em sua própria defesa, alegando não ter roubado fundos dos clientes, apesar de erros na gestão da FTX. No entanto, três ex-membros de seu círculo íntimo testemunharam contra ele, alegando que ele orquestrou crimes e causou o colapso das empresas.
Implicações e prisão
Enquanto a sentença se aproxima, o fundador enfrenta um segundo conjunto de acusações. Bankman-Fried, preso desde agosto, enfrenta desafios legais e pode ter a sentença influenciada pelas implicações dos ex-executivos.
“A corrupção é tão antiga quanto o tempo”
A falência da FTX, ocorrida após seis meses de turbulências e outras falhas, penalizou o mundo das criptomoedas, que ainda se recupera deste abalo. “A indústria de criptomoedas pode ser recente, com novos players como Sam Bankman-Fried, mas esse tipo de fraude, a corrupção, é tão antiga quanto o tempo”, comentou o promotor.
A configuração utilizada por SBF se diferenciou pela sua simplicidade da maioria das fraudes ocorridas no mundo das criptomoedas e que exigem uma certa sofisticação. “Sam Bankman-Fried pensava que estava acima da lei. O veredito de hoje prova que ele estava errado”, revelou o ministro da Justiça, Merrick Garland, em um comunicado.
Além da condenação de quinta-feira, o ex-empresário e investidor é convocado para um segundo julgamento, no início de março, por suborno de agente estrangeiro e doação política ilegal. Ele é acusado de ter pago cerca de US$ 150 milhões em subornos a autoridades chinesas.
O graduado do prestigiado MIT em Boston também é alvo de doações a políticos, provenientes de fundos de clientes da FTX, mais precisamente para a campanha presidencial de Joe Biden.
Para o promotor Damian Williams, o veredito de quinta-feira “é uma mensagem, um aviso a todos os bandidos que se acham intocáveis, que pensam que seus crimes são muito complexos para que os possamos apanhar”. “Deixe-os pensar duas vezes”, alertou. “Se persistirem, teremos algemas suficientes para todos.”
Com informações da AFP e Canal Tecnologia