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Internacional

Saúde

Consumo de remédios para transtornos mentais explode entre crianças e adolescentes na França

A revista francesa Nouvel Obs desta semana destaca o aumento do uso de antidepressivos pelos adolescentes franceses. O consumo explodiu após a epidemia de Covid-19, em 2020.


Entre 2014 e 2021 foi registrado um aumento de 48,5% da utilização de psicotrópicos, 62,6% de antidepressivos e 78% de psicoestimulantes, além de 155,5% de hipnóticos e sedativos. O número é bem acima da média europeia e atinge crianças e adolescentes entre os 6 e 17 anos.

Os dados foram divulgados pelo Alto Conselho da Família e da Infância, do governo francês, que recentemente divulgou um relatório intitulado “Quando as crianças vão mal e como ajudá-las”, baseado no volume de receitas médicas.

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“Não conheço nenhum jovem da minha idade que esteja bem”, diz Violette, 16 anos, entrevistada na reportagem. Ela pensou em se suicidar e desde então toma antidepressivo e ansiolíticos em caso de crise.

Os jovens sofrem as sequelas psicológicas da epidemia – Foto: Francois Mori

A adolescência é um período de mudanças e que favorece problemas psicológicos, mas isso não explica o aumento de casos de doenças mentais entre crianças pequenas ou na pré-adolescência, que preocupa os profissionais de saúde franceses.

Efeito do lockdown

Para o psiquiatra francês Olivier Bonnot, a Covid-19 e os lockdowns sucessivos fizeram “explodir as angústias dos jovens”. Segundo ele, além dos questionamentos habituais que povoam as mentes dos adolescentes, o assédio na escola, a exposição nas redes sociais e temas como o aquecimento global contribuem para a diminuição da autoestima e alimentam as incertezas sobre o futuro.

Para Bonnot, as moléculas devem ser prescritas corretamente. “As vezes os médicos receitam remédios para crianças e jovens com patologias leves, mas visíveis. Mas o problema são os pacientes que escondem seu mal-estar e acabam sendo tratados tarde demais”, lembra.

Muitas vezes, os remédios são inclusive prescritos por um clínico-geral, que faz o acompanhamento. Neste sentido, o relatório questiona se o medicamento acaba não sendo a única solução na falta de um atendimento mais adaptado e destaca a importância de privilegiar a psicoterapia no atendimento aos jovens.

O problema é o acesso: faltam profissionais e, em toda a França, há entre 800 e 2500 psiquiatras especializados em crianças e adolescentes, muitos concentrados na região parisiense.

Com informações da revista Nouvel Obs