Anfitrião da 16ª Cúpula do Brics, o presidente Vladimir Putin saudou “o maior” evento do gênero já realizado na Rússia – mas o encontro de três dias na cidade de Kazan, encerrado nesta quinta-feira (24), ficou marcado especialmente pela clara divisão entre os líderes de países participantes.
Em longa análise sobre o encontro, a revista Le Point salienta que “os líderes do clube antiocidental tentaram demonstrar união, mas falhas importantes apareceram”. Em meio a uma situação econômica fragilizada pela guerra na Ucrânia e as duras sanções internacionais contra Moscou, Putin tentou politizar ao máximo a cúpula, porém seus parceiros de bloco não deram sequência a essa ambição. A maioria deles, salienta o texto, não apenas não apoia a ofensiva na Ucrânia como fez questão de insistir pela paz, diante do anfitrião russo.
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“Os Brics demonstram ser uma coalizão de interesses bem claros e não uma colusão ideológica. O Brasil de Lula, por exemplo, cultiva valores de tolerância que se situam no oposto dos códigos sociais repressivos da Rússia”, observa Le Point.
A revista ressalta ainda que a segunda maior potência econômica do bloco, a Índia, “não vê com bons olhos a polarização forçada” da cúpula por Putin. Em Kazan, o premiê indiano, Narendra Modi, deixou clara a sua intenção de conservar os parceiros ocidentais, “como quando defendeu o diálogo e a diplomacia, e não a guerra”, e quando salientou que “o Brics não tem vocação de substituir as instituições existentes, mas sim em reformá-las”.
O resultado é que um dos maiores objetivos de Putin na pauta econômica, a desdolarização da economia mundial, não avançou.
Desta vez “os Russos não combinaram” com os aliados
O jornal Le Figaro afirma que a cúpula serviu sobretudo para o presidente russo “liderar um grupo no qual a sua preponderância é contestada pela China e a Índia”. “O Brics não tem nada de um grupo com competências relativas à segurança, e não impõe aos seus membros qualquer obrigação em matéria de defesa ou diplomacia”, sublinha o diário.
Le Figaro também ressalta que uma nova abertura para mais integrantes, “assunto controverso dentro do Brics”, foi adiada. Uma lista de países parceiros, entretanto, foi relevada – mas “Moscou mantém a cautela, porque sabe que corre o risco da sua liderança histórica se diluir na medida em que novos membros entrarem no clube”.