PARINTINS – Em uma coletiva cheia de simbolismo e marcada por um pequeno atraso, o Boi Caprichoso fez a apresentação oficial do projeto “É Tempo de Retomada”, na noite desta quarta-feira, 25, no Curral Zeca Xibelão. O evento contou com a presença da diretoria, itens oficiais, convidados especiais e do Conselho de Artes da agremiação, que compartilharam com o público detalhes de uma jornada de resgate e celebração cultural.
O grande destaque da noite foi a revelação do “Manto Tupinambá”, uma peça sagrada que será levada à arena na primeira noite do festival de 2025. Este artefato, trazido pelos Tupinambá da Bahia, foi cuidadosamente adornado com penas azuis e tem um significado profundo para o Caprichoso, simbolizando a conexão espiritual com os ancestrais e a força para alcançar o tetracampeonato.
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Cultura e Ancestralidade em Foco
O presidente do Boi Caprichoso, Rossy Amoedo, abriu a coletiva expressando sua emoção ao apresentar o grandioso projeto, que visa não apenas uma nova etapa no festival, mas também a reabertura da tradicional Escolinha de Artes do Caprichoso. “Cresci neste espaço, aprendi a ser artista aqui. Agora, nossa maior retomada é a reabertura da nossa Escolinha de Artes, um patrimônio do Caprichoso”, comemorou.

A entrega do manto simboliza o reconhecimento da cultura ancestral dos povos originários – Foto: Reprodução
O Manto Tupinambá: Uma Nova Era
Em um momento altamente simbólico, os Tupinambá de Olivença, na Bahia, entregaram o Manto Tupinambá ao Caprichoso. O artefato, que se destaca por suas penas azuis, é um símbolo de renovação espiritual e cultural. O presidente do Conselho de Artes, Erick Nakanome, fez questão de ressaltar que a peça marca uma nova fase no festival e, com ela, a esperança de que o Caprichoso conquiste o tão almejado tetracampeonato. “Que esse manto espiritualizado nos conduza à vitória”, declarou.
O Projeto de Arena: Arte como Educação
Com o manto como pano de fundo, Erick Nakanome deu sequência à apresentação do projeto de arena do Boi Caprichoso para o festival 2025. Ele destacou o papel da arte como ferramenta educativa, com o objetivo de corrigir erros passados e promover a conscientização. “O Festival cometeu erros, e é nossa missão como artistas e professores educar e corrigir o caminho”, observou.
Em um discurso breve, mas impactante, Nakanome também enfatizou a importância da luta e resistência de povos como os de Chico Mendes e Raimundão, destacando a relevância de suas vozes na construção do projeto.
Com aplausos e uma sensação de renovação no ar, a coletiva foi encerrada, deixando claro que o Boi Caprichoso está pronto para trilhar um novo caminho rumo ao tetracampeonato, carregado de cultura, espiritualidade e a força de suas raízes.
Lançamento do livro “Tempo de Retomada”
A escritora Truduá Dorrico, de Roraima, também foi uma figura central na noite ao lançar o livro “Tempo de Retomada”, obra que inspirou o projeto de arena. Em seu relato, Truduá compartilhou o momento revelador em que descobriu suas raízes Macuxi, um despertar para sua ancestralidade. “Foi a partir daí que percebi que era tempo de retomar a minha história”, contou.

Poeta e pesquisadora indígena Trudruá Dorrico – Foto: Reprodução
“A retomada é, antes de tudo, física. Estamos lutando pelos territórios, reflorestando, protegendo modos de vida. Escrevi este livro como um grito por justiça e reconhecimento. Ele é também uma forma de descolonizar a arte e os corpos que nela se expressam”, afirma Trudruá.
A autora ressaltou o papel da literatura como tecnologia de resistência: “Escrever é trazer outras imagens do corpo indígena, mais positivas. É democratizar também o direito à narrativa”.