A COP30 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima) será realizada em 2025, no Brasil, mais especificamente em Belém do Pará, na Amazônia. Este evento marca um ponto crucial na luta global contra a mudança climática, já que o planeta continua a enfrentar desafios cada vez mais urgentes relacionados às alterações climáticas, como desastres naturais, elevação do nível do mar, escassez de recursos hídricos e a perda da biodiversidade.
O Contexto e a Expectativa
A escolha do Brasil como sede da COP30 não poderia ser mais simbólica, considerando o papel vital da Amazônia no equilíbrio climático global. A floresta amazônica, que cobre uma vasta área de países da América do Sul, é um dos maiores sumidouros de carbono do mundo, sendo fundamental para o controle das emissões de gases do efeito estufa. No entanto, nos últimos anos, o desmatamento na região tem alcançado índices alarmantes, o que eleva as preocupações sobre o futuro do bioma e sua capacidade de continuar desempenhando essa função.
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Diante disso, especialistas e ativistas veem a COP30 como uma oportunidade crucial para a discussão de ações mais efetivas para a preservação da Amazônia e, consequentemente, para a proteção do clima global. A presença do Brasil no centro desse debate também será uma chance de reverter o cenário de enfraquecimento das políticas ambientais nos últimos anos e retomar um papel de liderança nas negociações climáticas internacionais.
Expectativas de Ações e Compromissos
Diversos temas estarão em pauta durante as discussões da COP30, com foco em três áreas principais: mitigação das mudanças climáticas, adaptação aos impactos já em curso e financiamento para a transição energética global.
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Mitigação de Emissões
O principal objetivo da COP30 será pressionar os países para fortalecerem seus compromissos climáticos, como acordado no Acordo de Paris. Os especialistas acreditam que, para evitar os piores cenários de aquecimento global, é necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa de forma agressiva. Isso inclui não apenas a transição para fontes de energia renováveis, mas também a preservação de ecossistemas vitais, como a Amazônia, que atuam como sumidouros de carbono. -
Adaptação e Resiliência
Outro ponto importante será discutir como os países mais vulneráveis podem se adaptar aos impactos das mudanças climáticas, como a intensificação de desastres naturais e o aumento da desertificação. A adaptação inclui tanto a construção de infraestrutura resiliente quanto o apoio a comunidades que dependem diretamente de recursos naturais, como os povos indígenas e as populações costeiras. -
Financiamento Climático
A transferência de recursos financeiros para os países em desenvolvimento será uma questão central. Muitos especialistas afirmam que o financiamento é fundamental para que países mais pobres possam implementar medidas eficazes de mitigação e adaptação. Há uma crescente demanda por uma maior transparência nos mecanismos de financiamento climático e um compromisso robusto de países ricos em cumprir suas promessas de apoio financeiro.
O Papel da Amazônia e o Desmatamento
A Amazônia, além de ser um dos maiores focos de discussão, pode se tornar um símbolo de mudança ou de fracasso. A preservação da floresta, que é essencial para o equilíbrio climático, será o centro de diversas negociações. O desmatamento crescente e a perda de biodiversidade na região são fatores críticos, pois a destruição da floresta não apenas libera grandes quantidades de carbono armazenadas, mas também compromete a estabilidade do clima regional e global.
Especialistas apontam que é fundamental que a COP30 busque uma solução abrangente para a proteção da Amazônia, que envolva a colaboração entre governos, setor privado, organizações não governamentais e povos indígenas. A proteção dos direitos dos povos indígenas, muitas vezes as primeiras vítimas da degradação ambiental, será uma pauta importante, especialmente para garantir que o desenvolvimento sustentável da região ocorra sem comprometer a biodiversidade e o papel vital da floresta na regulação do clima.
O Que Dizem os Especialistas

O cientista Carlos Nobre, em palestra na Universidade Federal de Santa Catarina – Foto: Reprodução
De acordo com Carlos Nobre, climatologista e um dos principais especialistas em mudanças climáticas do Brasil, a COP30 será decisiva para a trajetória das futuras gerações. “Estamos em um momento crítico. Ou avançamos significativamente nas políticas de preservação ambiental e mitigação das mudanças climáticas, ou enfrentaremos consequências irreversíveis. A COP30 será uma oportunidade para reverter o cenário de destruição e restaurar a confiança na diplomacia climática”, afirma.
Já Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, lembra que a transição energética deve ser um dos principais focos do encontro. “A COP30 será a chance de transformar a pressão em ação concreta. Precisamos de uma agenda global que leve em conta a urgência da situação, mas também a equidade no processo de transição energética”, destaca.
Por outro lado, especialistas como Michael E. Mann, climatologista da Universidade de Pennsylvânia, sugerem que a COP30 deve se concentrar em uma abordagem global para os problemas climáticos, mas sem esquecer as diferenças regionais. “A crise climática é um fenômeno global, mas os efeitos variam de região para região. Portanto, devemos adaptar soluções específicas para as realidades locais, como a proteção de ecossistemas essenciais, a mitigação dos impactos em áreas costeiras e a adaptação das cidades”, sugere.
Construção de Rodovia na Amazônia Levanta Controvérsias
A construção de uma rodovia de quatro pistas que atravessa vastas áreas de floresta amazônica protegida tem gerado intensas críticas no Brasil. A via, que conecta a cidade de Belém à região da cúpula climática COP30, está sendo erguida para acomodar mais de 50.000 participantes do evento, incluindo líderes mundiais, em novembro deste ano. No entanto, o projeto tem gerado divisões entre os defensores da sustentabilidade e os críticos, que apontam o impacto ambiental dessa obra.

Claudio Verequete diz que as árvores das quais ele colhia açaí foram cortadas – Foto: Paulo Koba/BBC
Desmatamento em Nome da Mobilidade
A nova estrada, batizada de Avenida Liberdade, corta dezenas de milhares de acres de floresta tropical e é vista por muitos como uma contradição aos objetivos da COP30, que pretende discutir as mudanças climáticas e promover práticas mais sustentáveis. Em áreas da obra quando foi iniciada, troncos caídos e terras desmatadas se estendendiam por mais de 13 quilômetros da floresta até Belém. Escavadeiras e máquinas pesadas foram usadas para pavimentação do terreno em regiões ambientalmente sensíveis.
O governo estadual de Pará, responsável pela obra, defende a construção, afirmando que a rodovia trará benefícios de mobilidade urbana, além de ser uma “solução sustentável” para melhorar o tráfego na cidade durante a cúpula. Para o secretário estadual de infraestrutura, Adler Silveira, a obra faz parte de um conjunto de melhorias urbanas que visam “modernizar Belém e proporcionar uma infraestrutura adequada para a COP30.”
Impacto Ambiental e Desafios para a Fauna
O projeto gerou preocupações entre ambientalistas e moradores locais. A rodovia separa duas grandes áreas de floresta protegida, e especialistas temem que sua construção possa fragmentar o ecossistema da região, interrompendo os corredores naturais de animais silvestres. Silvia Sardinha, veterinária e pesquisadora de vida selvagem, alerta que, além do desmatamento imediato, a via pode dificultar a reabilitação e reintegração de animais à natureza. “Essa rodovia vai comprometer o habitat de muitas espécies e reduzir a área disponível para a fauna da região”, afirmou.

Governo estadual promove a rodovia como “sustentável”, mas ambientalistas criticam impacto ambiental – Foto: Paulo Koba/BBC
Para Claudio Verequete, morador local que perdeu sua fonte de renda devido à destruição das árvores de açaí para a construção, a estrada representa uma ameaça tanto ao meio ambiente quanto à sua comunidade. “Não só perdemos nossa colheita, mas agora temo que essa estrada abra caminho para mais desmatamento no futuro”, comentou, enfatizando sua preocupação com a chegada de empreendimentos comerciais que possam tomar a terra.
Desafios Locais e Divisão de Opiniões
A divisão sobre o projeto também reflete a perspectiva de muitos moradores da cidade. Enquanto alguns empresários locais veem as melhorias na infraestrutura como uma oportunidade de crescimento econômico, outros questionam o custo ambiental da obra. Dalci Cardoso da Silva, dona de uma barraca no mercado Ver-o-Peso, expressou otimismo com as mudanças, acreditando que o evento trará mais visitantes e, consequentemente, mais vendas. “A cidade precisa disso. Quando eu era jovem, Belém era linda, agora precisa de renovação”, disse.

As preguiças e outros animais silvestres os mais afetados por causa da obra – Foto: Paulo Koba/BBC
COP30: Legado ou Contradição?
O evento internacional, que ocorre em meio a esse cenário de transformações urbanas e ambientais, promete ser um marco para o Brasil e o mundo. O presidente brasileiro e o ministro do Meio Ambiente destacaram que a COP30 será uma “COP na Amazônia, não sobre a Amazônia”, defendendo que a cúpula seja uma oportunidade para mostrar ao mundo os esforços do país para proteger a floresta. No entanto, críticos afirmam que iniciativas como a construção dessa rodovia colocam em xeque os objetivos globais da conferência, que busca mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Enquanto a construção da Avenida Liberdade segue, cientistas e moradores aguardam ansiosos para ver quais serão os resultados concretos das discussões durante a COP30. Com o olhar do mundo voltado para a Amazônia, a expectativa é de que as decisões tomadas possam realmente contribuir para um futuro mais sustentável — ou, ao contrário, reforçar a dicotomia entre os discursos e as ações no combate à crise climática.

Secretário regional de infraestrutura, Adler Silveira, diz que rodovia vai ajudar a “modernizar” Belém – Foto: Paulo Koba/BBC
A Avenida Liberdade ainda está em construção e não há uma data de entrega definitiva, mas as obras estão em andamento e a previsão é que seja entregue ainda neste mês de julho de 2025, com algumas partes da estrutura já concluídas.