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Política

Amazonas

O que significa o retorno de Omar Aziz ao Governo do Amazonas

O anúncio de pré-candidatura reacende debates sobre o histórico de sua gestão à frente do Executivo estadual entre 2010 e 2014, entre eles, a "Cidade Universitária" que nunca foi entregue. O governo de Omar foi marcado por graves suspeitas de corrupção.


O senador Omar Aziz (PSD-AM) oficializou, na última sexta-feira (25), sua pré-candidatura ao Governo do Amazonas nas eleições de 2026, reunindo centenas de lideranças políticas em um evento que chamou atenção pela diversidade de partidos e correntes ideológicas no mesmo palanque. No entanto, o anúncio reacende debates sobre o histórico de sua gestão à frente do Executivo estadual entre 2010 e 2014.

Durante seu mandato como governador, Omar Aziz foi alvo de investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) por supostos desvios de verbas públicas, especialmente na área da saúde. As apurações apontam para esquemas milionários que teriam beneficiado empresas e aliados políticos com contratos superfaturados e serviços não prestados.

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A volta do senador ao cenário estadual, no entanto, divide opiniões. Para a maioria da população, sua candidatura representa um retrocesso e ameaça à moralidade administrativa.

Com uma ficha marcada por polêmicas e um histórico que ainda levanta dúvidas sobre sua gestão, a candidatura de Omar Aziz promete ser um dos temas mais controversos da corrida eleitoral de 2026 no Amazonas.

Médico Mouhamad Moustafa, preso, apontado como chefe de uma esquema de desvio de verbas na saúde pública no Amazonas pela Operação da PF  denominada “Maus Caminhos” — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Operação Maus Caminhos: Desvios na Saúde Pública

O caso mais emblemático envolvendo Omar Aziz é a Operação Maus Caminhos, deflagrada pela Polícia Federal em 2016. A investigação revelou um esquema que desviou cerca de R$ 200 milhões da saúde pública do Amazonas, por meio de contratos superfaturados firmados com o Instituto Novos Caminhos (INC), entidade contratada durante o governo de Aziz para gerenciar unidades de saúde no estado.

Segundo a PF, o esquema teve início ainda na gestão de Omar Aziz e continuou com seu sucessor, José Melo. O relatório final apontou que familiares de Aziz teriam recebido “mesadas”, além de terem despesas pessoais como viagens e aluguel pagas com recursos desviados. O senador chegou a ser indiciado por organização criminosa e lavagem de dinheiro, embora negue qualquer envolvimento.

A operação também levou à prisão de familiares de Omar Aziz, incluindo sua esposa, Nejmi Aziz, e três irmãos. Eles foram acusados de participar do esquema de corrupção, recebendo repasses financeiros e outros benefícios ilícitos.

Relatórios do MPF e da PF
Em 2019, novas revelações vieram à tona com base em relatórios detalhados do MPF e da PF. As investigações mostraram que verbas federais destinadas à saúde teriam sido usadas para cobrir gastos pessoais da família Aziz, incluindo plano de saúde, combustíveis e outros serviços privados. A Polícia Federal reforçou o indiciamento do senador após constatar a movimentação atípica de recursos públicos em benefício de seus familiares.

Leia mais: Relatório da PF mostra Mouhamad Moustafa cobrando sócia para pagar propina a Omar Aziz: “está desesperado”

Briga com ex-aliado traz revelação
Em 2021 o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) revelou briga com Omar Aziz e decidiu expor podres do passado do senador, sendo que os dois já foram aliados.

Na época, Arthur resolveu contar sobre a acusação de pedofilia envolvendo Aziz, que em 2005 foi investigado em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre exploração sexual de acusação sobre ter feito programa com uma adolescente de 15 anos, em 2003, quando era vice-governador do Amazonas.

O nome do político acabou retirado do relatório final da CPI do Congresso, numa votação apertada: 8 a 7. A mobilização em favor de Omar Aziz foi liderada pelo então senador amazonense Arthur Virgílio Neto.

Em suas redes sociais, na época, Arthur afirmou que só defendeu Omar Aziz da acusação de pedofilia por se compadecer do pedido da mãe dele, Deplhina Rinaldi Abdel Aziz.

“A pedido de sua mãe, respeitável e querida senhora, aceitei, acreditando somente nela, envolver-me na luta da CPI da Pedofilia. Minha não interferência seria sua morte política, uma dura condenação penal e a desmoralização completa, num destino que só deve caber a um pedófilo de verdade”, declarou o tucano.

Cidade Universitária do Amazonas: um legado de promessas não cumpridas

O projeto da Cidade Universitária da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), idealizado pelo então governador Omar Aziz (PSD) em 2012, foi anunciado como a maior obra de educação superior do estado.

Com previsão de investimentos de R$ 300 milhões, a iniciativa visava criar um campus moderno em Iranduba, a 25 km de Manaus, incluindo residências, comércio, lazer e infraestrutura urbana. No entanto, após mais de uma década, o que se vê é um complexo abandonado, com obras paralisadas, estruturas deterioradas e recursos públicos desperdiçados.​

A primeira etapa da obra deveria ter sido entregue no primeiro semestre de 2014, mas até hoje não foi concluída. Até 2018, o governo estadual havia investido R$ 92,1 milhões, sendo que a maior parte foi destinada à construção de um acesso viário de R$ 44,5 milhões, já finalizado. No entanto, a implantação do campus, incluindo a reitoria, biblioteca e refeitório, avançou apenas 20%, com gastos de R$ 17 milhões. Em 2017, o Ministério Público Federal (MPF) questionou o licenciamento ambiental da área, apontando danos ao meio ambiente e à comunidade ribeirinha local. Como resultado, a Justiça Federal determinou a suspensão das atividades na área .​

Implicações para o Futuro Político do Amazonas

A possível candidatura de Omar Aziz ao governo do Amazonas levanta preocupações sobre a repetição de práticas de gestão marcadas por escândalos de corrupção. A volta de um político envolvido em diversas investigações pode representar um retrocesso para o estado, que enfrenta desafios significativos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.

A população do Amazonas merece líderes comprometidos com a transparência, a ética e o desenvolvimento sustentável. A escolha de representantes com histórico de envolvimento em esquemas de corrupção pode comprometer o progresso e a confiança nas instituições públicas.