Inicialmente descarta-se a hipótese de manipulação de dados por parte do IBGE. O órgão é uma instituição séria e já demonstrou isso no passado, quando 18 coordenadores em 2014 ameaçaram pedir desoneração do cargo, após pressões do governo Dilma para segurar a divulgação de dados de mercado de trabalho desfavoráveis à gestão petista durante o período eleitoral.

O presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Continua depois da Publicidade
Sendo o IBGE uma instituição séria, resta a suposição de que o aumento de beneficiários do Bolsa Família tem reduzido a taxa de desemprego. De fato, houve um aumento de beneficiados pelo programa, o que poderia explicar a queda do desemprego.
Para entender como esse efeito ocorre, é importante saber como é medido o desemprego. O conceito de desocupação (desemprego) utilizado pelo IBGE é aquele de pessoas que não trabalham e estão procurando emprego. Isso posto, se uma pessoa resolve viver de Bolsa Família, ela deixa de ser desempregada, diminuindo a taxa de desocupação.
De acordo com o IBGE, seguindo padrões internacionais, desempregado é toda pessoa, em idade ativa, que não trabalha e está procurando emprego. Por esse método, toda a pessoa sem trabalho, e que não procura emprego, não seria desempregada. Para ser considerado desocupado, dois fatores devem ser atendidos simultaneamente: não trabalhar e procurar emprego.
Por exemplo, um estudante que optou por não trabalhar não é reconhecido como desempregado. Uma pessoa que vive de bolsa família, e não quer trabalhar, também não é considerada desempregada. Em resumo, se o indivíduo optou por não trabalhar, qualquer que seja o motivo, não é classificado como desempregado.
A discussão é boa, pois é possível também argumentar que se a pessoa não trabalha, independentemente do motivo, ela não tem emprego, portanto, está desempregada. É uma questão semântica.
No Brasil, de acordo com o IBGE, há 176,6 milhões de Pessoas em Idade Ativa (PIA). O conceito de PIA é toda pessoa apta a trabalhar (de 15 a 64 anos), excluindo crianças e idosos. Do total da PIA, há 110,6 milhões que se enquadram como População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, a soma de empregados (103,9 milhões) mais desempregados (6,7 milhões).
A diferença entre a PIA e a PEA é de 66 milhões de pessoas. Isso significa que há 66 milhões de brasileiros que optaram por não trabalhar, e não são considerados desempregados.
Pelo critério do IBGE, a taxa de desemprego do Brasil é de 6,6%. A conta é feita dividindo o número de desempregados pela PEA. Nesse cálculo, são excluídas todas as pessoas que optaram por não trabalhar, como estudantes, nem-nem (que não estudam e nem trabalham), herdeiros ou pessoas que vivem de bolsa-família. Aquelas pessoas que desistiram de procurar emprego também não são tidas como desempregadas.
Por sua vez, são considerados empregados todas as pessoas que trabalham, sejam elas no trabalho formal ou informal. Mesmo aqueles que trabalham de forma intermitente (“bico”), na informalidade, ganhando menos que um salário mínimo, são vistos como empregados.
Entretanto, se considerarmos todas as pessoas que não trabalham – os desempregados pelo critério do IBGE (6,7 milhões) mais aqueles que optaram por não trabalhar (66 milhões) – a taxa de desemprego do país seria de 41%. Nesse cálculo, divide-se todas as pessoas em idade ativa que não trabalham no Brasil (72,7 milhões) pela PIA (176,6 milhões).
Independentemente do critério utilizado – se quem optou por não trabalhar é ou não considerado desempregado – é fato que temos 72,7 milhões de pessoas no Brasil que poderiam trabalhar, e estão desocupadas.
Significa que essas pessoas não estão produzindo, pelo contrário, apenas consumindo recursos, sem gerar riquezas para o país.
O número parece ser alto para uma economia emergente, num país de dimensões continentais, que precisa produzir mais para tirar milhares de pessoas da pobreza.
Infelizmente, as políticas públicas no Brasil não incentivam o trabalho. Pelo contrário, recentemente, políticos de esquerda propuseram redução de jornada salarial e limitação de trabalhos aos finais de semanas. Sem contar uma série de auxílios governamentais – entre eles o bolsa família – que, por vezes, desincentivam as pessoas a trabalhar.
Com essa mentalidade de esquerda, anticapitalista, é impossível um país se desenvolver.
Com informações de Alan Ghani
Alan Ghani é doutor em Finanças pela FEA-USP com passagem pela University of Texas at San Antonio como professor e pesquisador. É também economista-chefe da MSX e professor de pós graduação.