
Lula em evento de balanço de ações dos dois primeiros anos de mandato – Foto: Gabriela Biló em 03-04-2025/Folhapress
Após ver sua popularidade desabar no começo deste ano e atingir o pior patamar de todos os seus mandatos, o presidente Lula (PT) estancou a crise e conseguiu uma leve melhora na proporção dos que avaliam sua gestão como ótima ou boa, segundo a mais recente pesquisa Datafolha.
O índice de aprovação subiu de 24%, no levantamento de fevereiro, para 29%. Mas segue distante dos 38% que consideram o governo como ruim ou péssimo —antes eram 41%. Já os que classificavam sua gestão como regular continuam sendo 32%.
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Nos demais levantamentos do Datafolha ao longo do terceiro mandato do petista, o índice dos que viam o governo como ótimo ou bom era ao menos numericamente superior ao de ruim ou péssimo. Em dezembro, a taxa de aprovação era de 35%, contra 34% da de reprovação.
A queda de popularidade de Lula se deu em meio à subida do preço dos alimentos, que tem pressionado a inflação, e crises como a do Pix —com medidas que motivaram fake news sobre uma suposta taxação.
O petista fez no começo do ano uma mudança na Secom (Secretaria de Comunicação Social), colocando o marqueteiro Sidônio Palmeira para comandar a pasta. Integrantes do Executivo e parlamentares faziam a avaliação de que as medidas já tomadas ainda não haviam surtido efeito.
Segundo a pesquisa Datafolha, o atual índice de avaliação positiva de Lula é semelhante aos 28% registrados em outubro e dezembro de 2005, durante seu primeiro mandato e em meio à crise do mensalão.
No mesmo período de seu mandato, em maio de 2021, em meio à pandemia de Covid, Jair Bolsonaro (PL) marcava 24% de bom ou ótimo e 45% de ruim ou péssimo. Naquela altura, 30% avaliavam o governo como regular.
Em comparação com os resultados medidos anteriormente, é a primeira vez que a perspectiva mais otimista não é numericamente superior à negativa.
Além disso, o cenário se afasta bastante do medido no início do terceiro mandato, em março de 2023, quando 50% diziam que Lula faria um governo ótimo/bom, contra apenas 21% que tinham uma visão pessimista.
Já os que dizem que a vida melhorou ficou em 28%, variando dentro da margem de erro (antes eram 26%). Os que respondem que a vida permaneceu igual passou a 42% (saindo do patamar anterior de 51%).
Entre os que ganham de 2 a 5 salários (margem de erro de três pontos), a taxa de avaliação positiva passou de 17% para 26%. Tanto entre os que ganham de 5 a 10 salários (margem de erro de cinco pontos) quanto na faixa dos que ganham mais de 10 salários (margem de erro de oito pontos), passou de 18% para 31%.
No Sudeste, a avaliação positiva é 25%, frente a 20% no último levantamento.
Na última quinta, sob comando de Sidônio, a gestão petista fez um evento com ares eleitorais para divulgar um balanço, intitulado “Brasil Dando a Volta por Cima”.
Confiança em queda indica desaceleração econômica do Brasil
As “águas de março” já se foram deixando o verão e, também para trás, um crescimento mais robusto da economia no primeiro trimestre. O cenário para os próximos meses é de incerteza, segundo pesquisas com consumidores e empresários de vários setores.
A piora nos ânimos reforça a expectativa de desaceleração econômica. Por trás da queda na confiança estão fatores como a inflação elevada, o forte aumento da taxa básica de juros – que o governo tenta compensar com estímulos à economia – e reflexos da nova e radical política comercial dos Estados Unidos.
Após quatro anos consecutivos de crescimento próximo ou superior a 3%, o cenário indica para um crescimento menor neste ano. A mediana das expectativas do mercado financeiro para a expansão do PIB em 2025 recuou para 1,97%, segundo o boletim Focus do BC divulgado na última segunda (31).
O primeiro trimestre fechou bem. Instituições financeiras sinalizam para uma expansão do PIB entre 1% e 1,5% frente aos últimos três meses de 2024. O desempenho deveu-se principalmente à safra favorável.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima colheita de 317,3 milhões de toneladas de grãos, 10,1% superior ao ciclo anterior. O desempenho positivo repercutiu em atividades ligadas ao agronegócio, como indústria e serviços.
Um termômetro claro da desaceleração é a queda na confiança de empresários e consumidores. Pesquisa trimestral da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostra que as expectativas dos brasileiros quanto à melhora da situação do país caíram de 49% em dezembro para 45% em março, enquanto as perspectivas de piora aumentaram de 28% para 30%.
A entidade avalia que questões como aumento da inflação, elevação da taxa de juros, revisão para baixo das previsões de crescimento do PIB e possível impacto das políticas comerciais dos EUA sob o governo de Donald Trump geraram incertezas significativas para os brasileiros e impactaram negativamente as expectativas em relação ao Brasil para o decorrer do ano.
Apesar de uma alta pontual na confiança dos consumidores em março, registrada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), esta ficou restrita às avaliações sobre o momento atual e aos consumidores de maior renda. Nos demais segmentos, houve continuidade na deterioração da confiança.
A intenção de compra de bens duráveis teve forte queda em março, atingindo o pior nível desde 2022, sinalizando maior cautela dos consumidores em relação a gastos de maior valor.
As expectativas dos empresários, enquanto isso, caíram em março pelo quinto mês consecutivo. Segundo o FGV Ibre, é um claro sinal de que as empresas já projetam um cenário de desaceleração da atividade econômica em 2025.
Falta de confiança se espalha por setores
Comércio: Levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta para crescente pessimismo no setor. A insatisfação dos empresários é a maior desde junho de 2021, motivada pelas expectativas em declínio para a economia e condições desfavoráveis para os negócios devido aos juros elevados. As intenções de investimento recuaram pelo quarto mês consecutivo em março.
Em fevereiro, houve queda de 0,2% na atividade do comércio em relação a janeiro, segundo a Serasa Experian. “A redução reflete a inflação e os juros que permanecem em níveis elevados, afetando o poder de compra dos consumidores”, explica Luiz Rabi, economista da empresa.
A Stone identificou desaceleração mais evidente em alguns estados, especialmente no Centro-Oeste e Sul. Mato Grosso do Sul liderou as quedas, com retração de 8,4% no comparativo anual.
Indústria: A falta de confiança está disseminada na indústria. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 21 dos 29 segmentos pesquisados experimentam essa situação. Somente em março, cinco novos setores entraram nessa lista:
- veículos automotores;
- impressão e reprodução;
- calçados;
- couros e artefatos de couro;
- biocombustíveis.
Os menores índices de confiança estão concentrados nos principais polos industriais do país, localizados no Sul e Sudeste, e são mais acentuados entre micro, pequenas e médias empresas.
Em fevereiro, a produção industrial completou cinco meses sem alta frente ao mês anterior. “Para a indústria, juros altos encarecem o crédito para capital de giro, financiamento de máquinas e equipamentos, e projetos de expansão, desestimulando o investimento”, explica Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI.
Construção Civil: A falta de confiança também persiste na indústria da construção civil, segundo pesquisa conjunta da CNI e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O cenário está associado à avaliação desfavorável das condições atuais da economia brasileira e das empresas, bem como às expectativas pessimistas para os próximos seis meses.
Apesar disso, as expectativas em relação aos indicadores de atividade (nível de atividade, novos empreendimentos, compra de insumos e número de empregados) seguem positivas para os próximos seis meses.
Serviços: O setor, um dos responsáveis pelo forte crescimento em 2024, começa a dar indícios de perda de fôlego. O BC observou sinais de moderação no crescimento do segmento no primeiro trimestre. Segundo o IBGE, a variação no volume de serviços prestados em janeiro foi de 1,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior, a menor desde maio.
Em janeiro, o volume de serviços prestados caiu 0,2% frente a dezembro, marcando o terceiro mês consecutivo sem crescimento. A retração foi puxada por quedas expressivas nos serviços de transporte (-13,3%) e de alojamento e alimentação (-3%). Apesar disso, alguns segmentos mantêm resiliência, como serviços de informação e comunicação, que continuam em alta desde a pandemia.
O que pesa na desaceleração econômica do Brasil
Inflação elevada: As preocupações internas são significativas. A inflação continua elevada – o IPCA-15, prévia da inflação oficial, atingiu 5,26% nos 12 meses encerrados em março, o maior nível em quase dois anos – e as expectativas se afastam do teto da meta. Desde o início do ano, a mediana das projeções para alta dos preços ao consumidor passou de 4,89% para 5,65%, mais de um ponto acima do limite máximo estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Pesquisa do BC mostra crescimento nas expectativas de inflação para 2025 e 2026 entre as empresas. Há também deterioração significativa na percepção das empresas sobre a situação econômica atual, diminuição do otimismo quanto ao desempenho setorial e piora nas expectativas para as margens dos resultados nos próximos 12 meses.
Juros altos: O aumento dos preços ao consumidor está levando o Copom a elevar a Selic. Em alta desde setembro, a taxa básica de juros já está em 14,25% ao ano – maior nível desde o governo Dilma Rousseff (PT) – e mais uma alta está confirmada para a próxima reunião, em maio.
Enquanto o BC tenta controlar a inflação, o governo vai no sentido contrário e promove sucessivos estímulos à atividade econômica: liberou o saque do FGTS a parte dos cotistas, facilitou o acesso ao crédito consignado e acaba de anunciar a liberação do programa Minha Casa, Minha Vida a famílias com renda de até R$ 12 mil mensais. O Planalto também quer aumentar a isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil a partir de 2026.
Pesquisadores do FGV Ibre apontam também que há outros instrumentos que o governo federal vem usando, como o uso de mecanismos parafiscais por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Há uma tensão evidente entre a política econômica expansionista do governo e a tendência do BC de manter a Selic elevada por mais tempo. Analistas do FGV Ibre comparam essa situação a “jogar gasolina no fogo”, enquanto a autoridade monetária tenta “apagá-lo com água”.
Cenário externo: Outra grande preocupação vem do cenário internacional. O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas recíprocas que serão aplicadas contra todos os países com os quais os Estados Unidos têm relações comerciais, adicionando complexidade e riscos ao cenário econômico.
O Relatório de Política Monetária do Banco Central do primeiro trimestre de 2025 alerta que a incerteza externa pode levar a comportamentos de precaução por parte de empresas e consumidores, afetando o comércio internacional, a atividade global e as cadeias produtivas.
A incerteza gerada por políticas tarifárias voláteis tende a inibir investimentos globais, incluindo o Brasil. Segundo pesquisadores do FGV Ibre, empresas podem adiar decisões de investimento diante da imprevisibilidade do comércio internacional.
Mercado de trabalho e crédito ainda estão aquecidos, mas crescimento deve “esfriar”
Emprego: O mercado de trabalho se mantém relativamente aquecido, mesmo com a elevação na taxa de desemprego, que passou de 6,1% no trimestre móvel encerrado em novembro para 6,8% em fevereiro, segundo o IBGE. São níveis ainda baixos para a série histórica, o que deve sustentar a demanda doméstica ao longo de 2025.
Analistas não esperam um crescimento robusto no emprego para este ano, considerando a tendência à desaceleração da atividade econômica, a possível redução do impulso fiscal e as taxas elevadas de juros.
Segundo Matheus Calvelli, pesquisador econômico e cientista de dados da Stone, o mercado de trabalho ainda se mantém aquecido, mas se observa um leve aumento da taxa de desemprego e uma desaceleração na criação de novos empregos formais.
“Além disso, a persistência da inflação, em especial de alimentos, e o alto endividamento das famílias tendem a afetar a renda disponível das famílias e, por consequência, o consumo”, diz.
Um bom desempenho é esperado para a agropecuária. A safra recorde de grãos deve impulsionar não apenas o setor primário, mas também serviços e indústria relacionados, o que pode ter um impacto positivo no emprego nesses setores, destaca a XP Investimentos.
Um segmento em que há mais cautela e pessimismo é o de profissionais qualificados – aqueles com mais de 25 anos e que têm ensino superior –, aponta uma pesquisa feita no primeiro bimestre pela Robert Half, uma consultoria internacional de recrutamento e seleção.
Ela avalia que esse cenário de menor confiança pode estar relacionado a um contexto macroeconômico de crescimento moderado, persistência da inflação, taxas de juros elevadas e expectativas de desaceleração econômica.
Por outro lado, estudo realizado pelo Bradesco mostra que alguns segmentos podem continuar enfrentando escassez de mão de obra, especialmente na construção civil, o que pode resultar em pressões salariais.
Crédito: Pesquisa da Febraban ainda indica crescimento robusto no primeiro bimestre, com aumento de 15% nas concessões no acumulado de 12 meses até fevereiro, mas a alta nas taxas de juros já começa a se refletir no crédito.
“O crédito mantém um crescimento ainda robusto no primeiro bimestre de 2025. Alguns sinais de desaceleração começam a surgir, especialmente em linhas mais sensíveis às condições econômicas, como crédito ao consumo e financiamento de bens duráveis. O movimento reflete, em grande parte, a relativa piora do cenário macroeconômico”, diz o diretor de economia da federação dos bancos, Rubens Sardenberg.
Outro efeito desse cenário mais adverso na econonia, segundo ele, é que os bancos adotem uma postura mais cautelosa na concessão de crédito a determinados segmentos.
A pesquisa também captou uma redução na expectativa de crescimento da carteira de crédito total em 2025, para 8,5%, abaixo dos 9% previstos anteriormente. O Itaú projeta crescimento ainda menor, de 7,7%, refletindo taxas de juros mais elevadas, menor crescimento da atividade econômica e arrefecimento do mercado de trabalho.
Com Folha de S. Paulo e Gazeta