
Donald Trump no Salão Oval da Casa Branca, em 9/4/25 – Foto: Nathan Howard/Reuters
Foi uma reviravolta inesperada. Trump decidiu pausar por 90 dias a aplicação das medidas comerciais, com uma exceção: as importações chinesas serão taxadas em 125%. Assim, é a China quem paga o preço mais alto pela guerra comercial desejada pelo presidente. Isso porque, ontem, houve uma verdadeira escalada.
Após a implementação das medidas americanas, Pequim anunciou uma sobretaxa de 84% sobre as importações de produtos fabricados nos Estados Unidos, com aplicação quase imediata. Os mercados financeiros entraram em pânico, a Europa viu tudo ficar vermelho, e os índices americanos despencaram.
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Pânico a bordo
Uma das razões para a mudança de postura de Trump foi a queda acentuada de Wall Street. No entanto, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, negou essa explicação e afirmou que essa mudança fazia parte da estratégia inicial de Trump.
E os resultados estão aí: após anunciar a suspensão das tarifas recíprocas para o resto do mundo e uma ofensiva ainda mais agressiva contra a China, os índices americanos dispararam ontem. O S&P 500, índice das 500 maiores empresas dos EUA, subiu 9,5%, e o Nasdaq, que reúne as empresas de tecnologia, atingiu 12%.
Temores no mercado de títulos
Se Trump mudou de ideia, foi porque a economia americana está profundamente ligada aos mercados financeiros. Essa é a explicação real. O próprio Trump escreveu ontem à noite em sua rede social Truth Social: “Eu estava observando o mercado de títulos e algumas pessoas começaram a ficar um pouco nervosas”, afirmou ele.
O mercado de títulos, grosso modo, é onde os Estados se financiam, principalmente por meio de títulos do Tesouro. O problema é que os títulos do Tesouro americano, antes considerados valores refúgio, sofreram uma alta expressiva nas taxas nos últimos dias. Isso fez parecer que os Estados Unidos perderam credibilidade junto aos investidores, o que representa um risco para a maior economia do mundo.
Impactos concretos na economia americana
Embora Trump e sua equipe neguem, é claro que houve pânico a bordo. A instabilidade nos títulos do Tesouro, que são considerados um dos investimentos mais seguros do mundo, bagunçou toda a situação. A consequência imediata para o governo americano é que, se ele precisar pedir empréstimos, o custo do crédito aumentará.
Isso é uma péssima notícia para um país cuja dívida federal já é estimada em US$ 36 trilhões. Isso pode levar a um aumento nas taxas de juros, o que seria um desastre para Trump, pois, a longo prazo, isso poderia contribuir para uma desaceleração econômica nos Estados Unidos. Além da dívida, esse aumento nas taxas afetaria outros setores da economia, como o mercado imobiliário.
Foi justamente isso que levou Trump a mudar de postura. Ele mesmo explicou: “É preciso saber ser flexível” para que os mercados sigam suas medidas. E, aparentemente, ele seguiu seu próprio conselho.
Com informações de Stéphane Geneste, da RFI