O desmatamento seguido de queimadas na Amazônia e no Cerrado se intensificou nos últimos meses. A abertura de clareiras para atividades agropecuárias, expansão de fronteiras agrícolas e, sobretudo, a ação criminosa para facilitar mineração e grilagem têm sido fatores determinantes. Em muitas áreas, o fogo é usado de forma deliberada para limpar terreno — uma prática que tem graves impactos ambientais, sociais e climáticos.
Como resposta, a Polícia Federal vem registrando um aumento em investigações relacionadas a incêndios criminosos. Até outubro de 2024, foram instaurados 101 inquéritos para apurar tais crimes, mobilizando equipes de peritos no uso de imagens de satélite (monitoradas com tecnologia avançada), mandados judiciais, prisões e apreensões de materiais relacionados ao fogo.
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Além da repressão direta, a PF atua de forma preventiva por meio do Plano AMAS – Amazônia, Segurança e Soberania, que inclui a criação do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI-Amazônia). Esse centro reúne atuação de órgãos federais, estaduais, forças policiais e apoio internacional para ampliar o alcance das operações.

Iberê Périssé / Projeto Solos
A Polícia Federal no combate ao garimpo em unidades de conservação no Pará
No estado do Pará, a PF tem realizado ações coordenadas e exitosas para conter o garimpo ilegal dentro de unidades de conservação — fontes importantes de degradação ambiental devido ao uso de maquinários pesados (como retroescavadeiras, dragas e motores diesel) e substâncias tóxicas como o mercúrio.
Operação Guarda-chuva VI (novembro/2024)
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Atuou na Floresta Nacional de Carajás (APA do Igarapé Gelado, Parauapebas).
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Resultados:
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Inutilização de 18 motores estacionários, 2 escavadeiras hidráulicas, 4 motocicletas e destruição de mais de 10 acampamentos.
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Crimes tipificados: usurpação de matéria-prima da União e extração sem autorização.
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Causas ambientais graves: contaminação de bacias como a do rio Itacaiúnas por mercúrio, assoreamento e degradação do solo e rios.
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Operação Murus Viridis (abril/2025)
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Em conjunto com ICMBio e Força Nacional, operou no Parque Nacional dos Campos Amazônicos (AM, RO e MT).
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Desmontou: 16 barracões de garimpo, 6 escavadeiras, 3 caminhões, 9 motores bombas, 3 motocicletas e 6 caixas separadoras. Recolheu 8 mil litros de óleo diesel.
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Coleta de inteligência jurídica para identificar líderes, financiadores e subsidiar investigações contra o crime organizado.
Outros episódios recentes
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Em Santarém/Itaituba (agosto de 2024): mais de 24 escavadeiras, 15 dragas, 50 motores, embarcações, veículos, armas, combustíveis — prejuízo estimado em R$ 14 milhões.
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Em julho de 2024: operação em Itaituba com apreensão e inutilização de 13 escavadeiras, 14 dragas, 28 motores e estrutura de apoio.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Estratégia integrada da PF
A Polícia Federal vem adotando uma abordagem robusta e multifacetada:
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Operações coordenadas com ICMBio, Ibama e Força Nacional, com ações terrestres e aéreas.
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Destruição de maquinário in situ — sempre que não é viável remover os equipamentos — conforme o Decreto 6.514/2008.
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Inteligência ambiental: uso de imagens de satélite, coleta de dados e investigações detalhadas para identificar chefes de quadrilha e financiar operações ilícitas.
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Ações judiciais: mandados de busca, prisões em flagrante, análise de responsabilidade penal, além de multas e apreensões de bens.
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Proteção de comunidades tradicionais e populações ribeirinhas indígenas, expostas às consequências do mercúrio e violação de direitos em territórios protegidos.
Os desafios ainda à frente
Apesar dos avanços, há desafios persistentes:
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Resistência de grupos ilegais contra ações de fiscalização (exemplo: bloqueios da BR‑230, emboscadas e ausência de suporte em algumas operações) gov.br+15pt.wikipedia.org+15gov.br+15pt.wikipedia.org+1agenciagov.ebc.com.br+1agenciagov.ebc.com.br.
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Escassez de recursos logísticos, principalmente em locais remotos, o que exige uso aéreo e apoio interinstitucional.
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Necessidade de ação contínua: combate sistemático a esse modelo de exploração ilegal, muitas vezes liderado por facções criminosas.

Foto: Victor Moriyama/Greenpeace
Operações da PF
As iniciativas da Polícia Federal frente às queimadas e ao garimpo ilegal são mais do que operações isoladas: representam parte de uma estratégia estruturada de ação integrada, cujo objetivo é retomar o controle sobre áreas vulneráveis na Amazônia e no Cerrado. Entre ferramentas principais estão a inteligência garantir a eficácia das operações, além da coordenação com outros órgãos ambientais e policiais.
No Pará, especialmente em unidades de conservação federais, a PF tem deixado claro seu papel decisivo, ao desarticular acampamentos e apreender vastos maquinários; ainda assim, o desafio permanece grande. Para superar, será fundamental manter operações contínuas, ampliar recursos e fortalecer a cooperação federal e internacional — em uma resposta firme ao crime ambiental.