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Beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bi via Pix a empresas de apostas, diz BC

Segundo estudo do Banco Central, brasileiros gastam em média R$ 20 bi por mês com apostas online.


As plataformas de apostas e jogos on-line estão começando a levantar suspeitas de uma possível piora na qualidade do crédito, com grande comprometimento da renda. A informação é do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Segundo ele, desde janeiro, houve um aumento de mais de 200% no valor que os jogadores transferem para essas empresas via Pix. Haveria, ainda, um número considerável de apostadores de baixa renda, inclusive beneficiários do Bolsa Família.

Em agosto, 5 milhões de pessoas de famílias beneficiárias do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões via Pix a plataformas de apostas. Os dados são de uma nota técnica divulgada nesta terça-feira, 24, pelo Banco Central, sobre o mercado de apostas online no País.

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O valor mediano transferido por beneficiário é de R$ 100. Entre os apostadores, 70% são chefes de família – ou seja, aqueles que de fato recebem o benefício – e enviaram R$ 2 bilhões (67%) por Pix para as bets. O Banco Central utilizou para a pesquisa o número de cadastrados de dezembro de 2023, dentre os quais 17% apostaram.

“Esses resultados estão em linha com outros levantamentos que apontam as famílias de baixa renda como as mais prejudicadas pela atividade das apostas esportivas. É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, diz o BC.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — Foto: Lula Marques/Agência Brasil

“O BCB está atento ao tema e precisa ainda de mais dados e tempo para avaliar com maior robustez suas implicações para a economia, a estabilidade financeira e o bem-estar financeiro da população”, diz a nota técnica, elaborada pelo BC após solicitação do senador Omar Aziz (PSD-AM).

Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrou preocupações sobre o assunto. “É um tema muito relevante e que tem sido falado, sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse durante a Brazil Conference, do Banco Safra, em São Paulo.

De acordo com Campos Neto, o crescimento dessas casas de apostas é uma questão que preocupa o Banco Central, como antecipou o Estadão no início do mês. Ele reforçou, no entanto, que o trabalho no BC nesta questão deve se limitar a ajudar o governo e o Congresso com dados.

Inflação

Em conferência organizada pelo Banco Safra em São Paulo na manhã desta terça-feira (dia 24), Campos Neto também mencionou que a inflação continua preocupante no país, especialmente com o crescimento econômico acima do esperado e mercado de trabalho aquecido. O Banco ainda está estudando qual o impacto do desemprego historicamente baixo sobre a inflação, mas há sinais de que esse fator começa a pesar.

— O Banco Central tem um desconforto grande com o que acontece com as expectativas de inflação. As longas ainda bem acima da nossa meta.

Mercado de trabalho

Ele comentou que os dados do mercado de trabalho têm alimentado debates sobre a taxa de desemprego de equilíbrio, índice que o mercado errou em mensurar algumas vezes. Além disso, segundo Campos Neto, o crescimento do Brasil está vindo pouco acima do potencial, na margem.

O presidente disse ainda que é esperado um movimento de desaceleração dos gastos, em certa medida por influência do arcabouço fiscal. Houve, recentemente, um aumento nos prêmios de risco, mas Campos Neto argumenta que isso estaria relacionado a preocupações quanto a transparência nos dados, e não ao crescimento nas despesas:

— A gente precisa usar como input, como dados dos nossos modelos, para entender esse processo de convergência de inflação. O próprio arcabouço força uma diminuição, o quanto a gente não se arrisca a colocar, mas a gente entende que vai haver sim uma desaceleração de gastos. Mais recentemente surgiu esse prêmio de risco, mas não advindo da trajetória e número de gastos, mas de transparência em relação aos números (fiscais).