O crime organizado do Equador, que levou o país a dias de terror, tem relações com facções do Brasil. “Tanto o Comando Vermelho (CV) quanto o Primeiro Comando da Capital (PCC) estão envolvidos em relações com o crime organizado no Equador”, explica o pesquisador John Henry Murdy, doutorando pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de Chicago.
Na América do Sul, o Equador é importante para o escoamento de drogas produzidas no Peru e na Colômbia, principais produtores de cocaína do mundo. Uma das rotas do tráfico por dentro do território equatoriano é pela floresta Amazônica.
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“Esses grupos equatorianos transportam drogas através do país, às vezes armazenando-as dentro do Equador, e depois repassam para o CV e PCC no Brasil”, explica. John Henry Murdy escreve uma dissertação sobre a violência no Equador e viveu três meses no país durante o ano passado. Entre suas fontes na pesquisa, está a inteligência da polícia equatoriana.
Professor associado de ciência política na Universidade de Chicago, Benjamin Lessing também vê paralelos entre a atuação do PCC e CV com as facções criminosas equatorianas.
Fuga da prisão e informação privilegiada
O vínculo logístico entre os grupos, segundo o especialista, não tem relação direta com a onda de violência que atinge o Equador atualmente. Os ataques promovidos por facções tiveram início após o presidente do Equador, Daniel Noboa, decretar estado de exceção no país, quando o líder da gangue Los Choneros, José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, fugiu da prisão.
Esse sumiço de Fito, com a consequente reação do governo, foi o estopim para uma série de rebeliões em cadeias do país. “O crime organizado tem controle sobre a maior parte das prisões do sistema equatoriano”, contextualiza o pesquisador da Universidade de Chicago.
A falta de capacitação e equipamentos das polícias também é um problema. “Os guardas das prisões não têm armas de fogo, apenas um bastão e estão sempre sob ameaça”, descreve John Henry Murdy.
Também há relatos de corrupção entre servidores do governo. Para se ter uma ideia, o líder da facção Tiguerones é um ex-agente de segurança prisional.
Existem indícios de que a fuga de Fito aconteceu porque ele teve informação privilegiada sobre ser transferido para o presídio de segurança máxima La Roca.
Cartéis mexicanos e máfia europeia
A cientista política Olaya Hanashiro explica que o governo de Rafael Correa, que se estendeu de 2007 a 2017, tentou conter a superlotação dos presídios construindo mais unidades prisionais, medida que não teve efeitos por muito tempo.
Os presídios no Equador são loteados entre as mais de 20 organizações criminosas ligadas ao comércio de drogas e homicídios. Além dos Choneros, há os Lobos, Lagartos e Tiguerones.
“Com essa política de encarceramento, foram presos estrangeiros por tráfico de drogas no país. Isso facilitou conexões para fora do país”, destaca a pesquisadora, que é ex-coordenadora do programa de mestrado da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador e foi membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) até 2017.
Os grupos criminosos equatorianos têm vínculo com os cartéis mexicanos Sinaloa e Jalisco Nueva Generación, além da máfia Balcânica, do leste europeu. Fornecendo apoio logístico para esses grupos internacionais, as facções equatorianas recebem dinheiro, armas e drogas.
“Com essa política de encarceramento, foram presos estrangeiros por tráfico de drogas no país. Isso facilitou conexões para fora do país”, destaca a pesquisadora, que é ex-coordenadora do programa de mestrado da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador e foi membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) até 2017.
Os grupos criminosos equatorianos têm vínculo com os cartéis mexicanos Sinaloa e Jalisco Nueva Generación, além da máfia Balcânica, do leste europeu. Fornecendo apoio logístico para esses grupos internacionais, as facções equatorianas recebem dinheiro, armas e drogas.
Outro fator que se soma ao contexto é o acordo de paz na Colômbia, que desmobilizou os guerrilheiros e paramilitares, mas deixou grupos dissidentes. “Você teve uma proliferação desses pequenos grupos ligados ao tráfico de drogas e a migração desses grupos para operações no Equador”, ressalta Onlaya.
“Há um compartilhamento da Amazônia entre esses grupos do Equador e facções brasileiras, onde tem se intensificado o tráfico. Tudo isso serve de alerta para o Brasil estar olhando essas questões e também pensar quais medidas podem ser tomadas para a gente evitar e realmente fazer um enfrentamento da violência de maneira adequada.”
Cocaína para os Estados Unidos
De acordo com relatório da Polícia Nacional do Equador, o país faz fronteira com os maiores produtores de cocaína do mundo e não possui controle adequado nesse sentido, nos setores portuário e aéreo, o que é um atrativo para as organizações criminosas.
“O conjunto de riscos e fragilidades transformaram o Equador numa plataforma prioritária para a recolha e o envio de drogas para os mercados internacionais por meio do tráfico marítimo, terrestre e aéreo”, explica o relatório.
Ainda segundo o documento, 74% da cocaína levada para a América do Norte atualmente é proveniente da chamada “rota do pacífico”, que é o envio da droga em embarcações que saem da região do Equador. Houve aumento na apreensão de cocaína e nos homicídios no país nos últimos anos.
O território do Equador também se torna atrativo por causa da dolarização e baixa bancarização, que é a pouca inclusão da população no sistema bancário, facilitando transação de atividades ilícitas e lavagem de dinheiro.
Mesmo modus operandi que brasileiros
Professor associado de ciência política na Universidade de Chicago, Benjamin Lessing explica que as similaridades entre atuações das facções equatorianas com as brasileiras se dão, por exemplo, na realização de motins em várias unidades prisionais, que são coordenados com violência na rua, para causar distúrbios.
Outra situação análoga é o uso de emissoras de comunicação para “passar recados”. Criminosos armados invadiram uma emissora de TV no Equador na terça-feira (9/1) e o PCC fez isso em 2006, quando sequestrou um jornalista da TV Globo e só o liberou com a condição de divulgar um vídeo pedindo melhores condições nos presídios.
“Esses grupos usam a violência como moeda de barganha e colocam pressão por meio da violência, por isso ela é tão espetacular. É terror. Usam o terror para pressionar os líderes a fazer a troca de alguma política de estado”, detalha.
Fonte: Metrópoles