Após perder o primeiro set, Hugo Calderano voltou no segundo fazendo ótimos ataques e defesas, conseguindo se impor sobre o jovem adversário francês, de 20 anos. O ambiente na arena era explosivo, porque Alexis Lebrun e o irmão dele, Felix Lebrun, são dois prodígios do esporte, tratados como pop stars.
Num país que não tem muita tradição no tênis de mesa, eles ajudaram a popularizar a modalidade, na qual começaram a jogar ainda crianças. Eles são filhos de um ex-campeão francês de duplas e de uma tricampeã francesa de tênis de mesa e cresceram no ambiente esportivo.
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Alexis Lebrun joga desde os 3 anos. Aos 20, ele é triplo campeão francês e 16° do ranking mundial, enquanto Felix, 17, é considerado um fenômeno por sua precocidade. Ambos estão disputando os Jogos Olímpicos de Paris e os franceses sonhavam em vê-los no pódio.
Hoje, porém, o mais velho foi eliminado pelo brasileiro, a quem elogiou em entrevista à RFI Brasil, após a partida. “Ele é um super jogador. Provou isso nos últimos meses e eu logo vi que ele estava melhor do que eu. Não consegui me impor, foi muito difícil”, disse Alexis Lebrun. “Estou bastante decepcionado, eu tinha capacidade de fazer mais, de atrapalhar o Hugo mais um pouco, mas ele jogou de forma incrível”, disse, destacando que ainda vai lutar na competição por equipes e torcer pelo irmão que está invicto e faz uma trajetória “excepcional”.
Hugo Calderano contou à RFI os momentos emocionantes da partida. “Foi um jogo difícil, eu não comecei a partida muito bem, mas felizmente consegui manter a calma do início ao fim, achar as soluções e comecei a jogar cada vez melhor”, avaliou o atleta.“Fui subindo o meu nível, saquei bem, recebi bem e fui bem agressivo desde o início”, analisa.
Sobre a torcida francesa, ele disse que “a atmosfera no ginásio foi incrível, por mais que todo mundo tivesse torcendo contra mim, ou para o meu adversário, é muito legal viver momentos assim”.
Origem
Nascidos em Montpellier, no sul do país, os irmãos Lebrun nunca deixaram a sua cidade natal e nunca passaram por instituições de formação de atletas da França, como o INSEP, o Instituto de Alta Performance, o que mostra a trajetória atípica dos dois. “O Alexis é um jogador bem jovem, com muito potencial, ele tem muita potência nos seus golpes e é muito criativo, com certeza tem um grande futuro pela frente. Foi muito legal vencer um atleta da casa”, disse Calderano.

Felix, o mais novo, começou a competir no circuito internacional adolescente. Aos 15 anos, era o 78° do ranking mundial. No ano seguinte, em 2023, ele ganhou os Jogos Europeus. Um ano depois, ocupava a 18ª colocação do ranking mundial em um esporte dominado por atletas asiáticos, ocupando o sexto lugar atualmente. Aliás, ele segura a raquete como os asiáticos, com a chamada empunhadura caneta – como se estivesse com uma caneta nas mãos – o que não é o caso do irmão mais velho.
Os franceses esperavam ver os irmãos Lebrun no pódio. “Eles são incríveis, realmente são estrelas e são muito jovens”, disse a RFI Gaspar, 11 anos, que segue os passos e se inspira dos irmãos mesatenistas.
“Antes deles, a gente nunca foi bem no tênis de mesa. Normalmente, é a China que domina esse esporte e a França vai melhor nos esportes coletivos como o rugby”, diz o francês Lukas Hejblu, que estava na torcida esta tarde.
Felix segue invicto, após derrotar o alemão Dimitrij Ovtcharov e pode vir a pegar o brasileiro em uma possível final.
Pioneiro
O mesatenista carioca Hugo Calderano, 28, é esperança de medalha para o Brasil em sua terceira participação olímpica. Na terça-feira (30), ele venceu o espanhol Alvaro Robles, em uma das melhores fases da carreira, com domínio da raquete e do nervosismo.
O saque com a bola jogada bem alta, ele explica, “ajuda a fazer mais efeito na bola”. Hugo também é o criador do backhand de duas mãos, um recurso que inventou há seis anos, em uma jogada que pegou emprestada do tênis de quadra.
Assim como os irmãos Lebrun na França, Calderano é um atleta de alto nível em um esporte sem tradição em seu país. Ele é o único nas Américas a ter chegado a terceira posição do ranking mundial, e tem se mantido entre os 10 melhores há 300 semanas consecutivas.
“E uma grande honra representar bem o Brasil. Já é a segunda olimpíada que eu chego às quartas de final e estou muito feliz de colocar a bandeira do Brasil no patamar mais alto do tênis de mesa, junto com meus companheiros de equipe”, conclui Hugo.
Nos Jogos do Rio em 2016, ele chegou às oitavas de final e em Tóquio, às quartas de final.
Nas quartas de final em Paris, Hugo Calderano vai enfrentar o sul-coreano Woojin Jang.
O outro representante brasileiro na modalidade, Vitor Ishiy, foi eliminado pelo alemão Dimitrij Ovtcharov.
Com RFI