
A presidente mexicana Claudia Sheinbaum anunciou retaliações aos EUA. Na foto, ela discursa em um evento na cidade do México em 1° de fevereiro de 2025. Foto: Marco Ugarte/AP
Assim que Donald Trump cumpriu sua ameaça de guerra comercial no sábado (1) aumentando 25% as tarifas sobre produtos do Canadá e do México e 10% sobre produtos chineses, Ottawa e o México anunciaram imediatamente uma resposta.
Ao atacar os três principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, o presidente americano alega querer forçá-los a agir para reduzir o tráfico de fentanil e a chegada de migrantes ilegais ao território americano.
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Poucas horas após as medidas serem oficializadas, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou em tom contundente que, em retaliação, tarifas seriam impostas aos produtos americanos, sem dar detalhes.
Por sua vez, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou que vai impor “tributos de 25% sobre produtos americanos num total de 155 bilhões de dólares canadenses” (cerca de R$ 617 bilhões).
As tarifas passarão a ser aplicadas a partir de terça-feira, a U$ 30 bilhões em mercadorias, acrescentou o chefe de governo em tom sério, explicando que havia conversado com a presidente mexicana.

Após o anúncio oficial das tarifas dos EUA contra o Canadá, o primeiro-ministro canadense demissionário, Justin Trudeau, realizou uma coletiva de imprensa para anunciar a introdução de medidas semelhantes contra os Estados Unidos, em 1° de fevereiro de 2025. Foto: Justin Tang/AP
Cartéis se “aliaram ao governo mexicano”, diz Donald Trump
O imposto americano entrará em vigor a partir de terça-feira, de acordo com um primeiro decreto presidencial. Segundo Trump, a causa é “a grande ameaça representada pelos migrantes ilegais e as drogas mortais que matam nossos concidadãos, particularmente o fentanil. Devemos proteger os americanos e é meu dever como presidente garantir a segurança de todos”, escreveu.
De acordo com o presidente americano, a China exporta ingredientes ativos para o México que permitem que cartéis mexicanos fabriquem fentanil, que é vendido através da fronteira. Ele também critica o México e o Canadá por não controlarem suficientemente os fluxos migratórios para os Estados Unidos.
“As tarifas anunciadas são necessárias para responsabilizar a China, o México e o Canadá por suas promessas de interromper o fluxo de drogas tóxicas para os Estados Unidos”, disse a Casa Branca em uma declaração no X.
Quanto ao México, elas permanecerão em vigor “até que o [país] coopere com os Estados Unidos para combater o narcotráfico. Os cartéis mexicanos são os principais traficantes mundiais de fentanil, metanfetamina e outras drogas.” A presidência dos EUA também alegou que os cartéis “fizeram uma aliança com o governo mexicano”, sem fornecer nenhuma evidência. Uma alegação chamada de “calúnia” por Claudia Sheinbaum.
Quanto ao Canadá, a presidência americana estimou que “a produção de fentanil está aumentando” no país. A China, por sua vez, “está desempenhando um papel central na crise desta droga que está destruindo vidas americanas” e as tarifas serão aplicadas “até que garantamos a total cooperação de Pequim” no assunto, de acordo com a mesma fonte.
Canadá, “olho por olho, dente por dente”, versão comercial
A lista de produtos americanos que o Canadá taxará afeta uma infinidade de produtos como suco de frutas, sapatos, móveis, vinhos e equipamentos esportivos. Uma retaliação que poderia ser descrita como “olho por olho, dente por dente”, versão comercial. No entanto, ao anunciar essas medidas de retaliação, o primeiro-ministro Justin Trudeau enfatizou a profundidade do relacionamento com o povo americano. Ele relembrou as muitas vezes em que canadenses e americanos apoiaram mutualmente ao longo da história, lamentando que não tem escolha a não ser retaliar. Fazendo um apelo à união, ele pediu aos cidadãos canadenses que privilegiem os produtos do país em suas compras, por exemplo, uísque local em vez de americano.
O governo mexicano, que constantemente pedia calma e apaziguamento, também respondeu, desta vez, com um tom muito mais duro. Em uma longa postagem na rede X, a presidente Claudia Sheinbaum rejeita as acusações do presidente americano sobre as ligações entre autoridades mexicanas e grupos criminosos.
Segundo ela, se houvesse uma aliança entre um estado e os cartéis, ela viria principalmente dos Estados Unidos, que concorda em vender armas a eles. Ela também pediu que sua contraparte tome medidas para combater os traficantes de drogas em seu próprio território e para combater um problema de saúde que preocupa principalmente os Estados Unidos.
A chefe de Estado reitera que o México não busca o confronto, mas também não pretende ceder. Claudia Sheinbaum indicou que também deu ordem para implementar um plano para proteger os interesses econômicos do país, incluindo medidas para estabelecer tarifas alfandegárias.
A China se limitou até agora a declarar que se “opõe firmemente” às novas tarifas sobre os produtos que exporta para os Estados Unidos, acrescentando que as guerras comerciais “não têm vencedores” e prometendo responder a Washington com medidas “correspondentes” para “proteger decididamente” os “direitos e interesses” chineses. Pequim também apresentará uma queixa contra Washington à OMC, de acordo com o Ministério do Comércio chinês.