Uma planta amazônica conhecida popularmente como “pau-de-balsa” pode revolucionar o garimpo e a mineração no país. De nome científico Ochroma pyramidale, o vegetal tem sido estudado como potencial substituto do mercúrio na exploração de ouro, atividade de alto impacto social e ambiental na região.
Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), apontou eficiência de cerca de 80% no uso do extrato aquoso das folhas de pau-de-balsa no processo de separação de ouro de outros minerais em concentrados de sedimentos.
Continua depois da Publicidade

Planta Ochroma pyramidal, conhecida como pau-de-balsa – Foto: Andres Hernandez/Flickr
O coordenador do projeto e membro do Departamento de Biologia da Unir, professor Wanderley Bastos disse em entrevista ao G1, que uma substância presente no extrato das folhas do pau-de-balsa é a “peça-chave” para eliminar a necessidade do uso de mercúrio na garimpagem.
“Como nossa pesquisa está no início, ainda há muitos desafios. Entretanto, com os experimentos que fizemos até o momento, o extrato da planta se mostra bastante promissor em separar o ouro dos demais sedimentos”, explica o coordenador do projeto.
Atualmente, o mercúrio é a substância utilizada para separar o ouro na garimpagem. No entanto, o metal é extremamente tóxico e a prática resulta na liberação dessa substância no meio ambiente, o que causa riscos para a saúde da população, além da contaminação dos peixes e dos rios.
Os pesquisadores ainda não identificaram qual é a substância do extrato da folha do pau-de-balsa que efetivamente causa a separação dos sedimentos. Os estudos com a planta ainda estão em andamento para identificar os constituintes químicos responsáveis por esse efeito.
De acordo com uma pesquisa feita pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Greenpeace, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil, o mercúrio ocupa a terceira posição no mundo em termos de toxicidade entre os poluentes ambientais mais perigosos para a saúde humana.
O mesmo estudo apontou que os peixes dos rios consumidos pela população de Rondônia possuem situações graves de contaminação por mercúrio, acima do limite recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Substituir o uso do mercúrio em qualquer processo já seria um grande feito como alternativa segura”, explica o pesquisador do projeto.
Benefícios da diminuição do mercúrio
A pesquisa realizada na Unir aponta que a conclusão de utilizar folhas de árvores no garimpo resultaria na eliminação do mercúrio nessas atividades. Isso desencadearia uma série de benefícios, tais como:
- Redução das possíveis emissões de mercúrio no meio ambiente, tanto na forma líquida quanto gasosa.
- Diminuição da exposição ocupacional dos trabalhadores que lidam com esse metal.
- Menos contaminação de peixes de rios por mercúrio.
O projeto tem gerado otimismo entre os profissionais que fazem o uso do mercúrio, como os garimpeiros artesanais que atuam nos rios de Rondônia. Segundo o professor Wanderley, eles demonstram curiosidade, esperança e disposição para colaborar com as iniciativas da pesquisa.