O governo do Paquistão, em uma declaração feita no último sábado (21), anunciou a sua decisão de indicar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Prêmio Nobel da Paz. A proposta surge em virtude da participação de Trump na recente resolução do conflito entre o Paquistão e a Índia, duas potências nucleares com uma histórica rivalidade, especialmente na região da Caxemira.
O cessar-fogo, que foi instaurado em maio de 2025, pôs fim a quatro dias de intensos confrontos entre os dois países. A medida foi viabilizada após a intervenção diplomática de Trump, que ajudou a evitar uma escalada violenta e potencialmente catastrófica. O governo paquistanês aplaudiu a capacidade estratégica e a liderança do presidente americano, ressaltando a sua “visão e habilidade notáveis” para resolver crises globais de maneira eficaz.
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O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa em uma reunião com líderes do Conselho de Cooperação do Golfo, composto por seis países, em Riad, em 14 de maio de 2025 – Foto: Brendan Smialowski/AFP
De acordo com as autoridades de Islamabad, a mediação de Washington foi crucial para a estabilidade regional, o que confere uma forte argumentação para a candidatura de Trump ao Prêmio Nobel da Paz. O governo paquistanês destacou que, sem a intervenção dos Estados Unidos, a situação poderia ter levado a um conflito de proporções ainda mais devastadoras.
No entanto, a visão do Paquistão sobre o papel de Trump na resolução do conflito não é unânime. Enquanto algumas figuras políticas paquistanesas elogiam a iniciativa diplomática americana, outras veem a situação de forma mais cética. A Índia, por exemplo, defende que o cessar-fogo foi alcançado graças a um acordo direto entre os exércitos de ambos os países, sem a necessidade de mediação externa, e aponta para uma compreensão bilateral do problema, afastando a necessidade de uma solução imposta por uma terceira parte.
O contexto do cessar-fogo em questão também inclui uma série de ataques militares entre as duas nações, após um atentado terrorista em Caxemira que matou 26 civis. A Índia acusou o Paquistão de apoiar grupos jihadistas responsáveis pelo ataque, o que levou a uma série de represálias. No entanto, apesar das alegações de ambos os lados, o impacto da mediação de Trump na redução da violência e na manutenção do cessar-fogo é indiscutível, o que reforça a viabilidade da sua candidatura ao Prêmio Nobel da Paz.
Entretanto, o apoio à indicação de Trump enfrenta críticas internas. Alguns segmentos da sociedade, especialmente no contexto paquistanês, argumentam que o apoio do presidente dos EUA a Israel, particularmente durante o conflito com o Hamas em Gaza, pode ser incompatível com os princípios de um prêmio de paz. Para esses críticos, a posição de Trump sobre o Oriente Médio diminui a sua legitimidade para receber uma honraria relacionada à paz global.
Embora a indicação de Donald Trump ao Prêmio Nobel da Paz seja, sem dúvida, um tema controverso, a sua intervenção diplomática no conflito entre Índia e Paquistão oferece uma base sólida para avaliar sua candidatura. A habilidade de mediar um cessar-fogo em uma região tão volátil e com tantas tensões geopolíticas pode ser vista como um feito significativo para a paz mundial. Assim, apesar das críticas, a viabilidade dessa indicação não pode ser descartada.

Trump comparou a guerra entre Rússia e Ucrânia a uma briga de crianças – Donald Trump, Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin – Foto: Reprodução
Trump: a Diplomacia Internacional e viabilidade da candidatura ao Nobel da Paz
A candidatura de Donald Trump ao Prêmio Nobel da Paz, proposta pelo Paquistão após a sua mediação no conflito com a Índia, se insere em um contexto mais amplo de sua atuação como mediador internacional. Embora sua administração tenha sido marcada por políticas agressivas e um foco em “America First”, Trump também desempenhou papéis controversos e até significativos em diversas negociações de paz globais.
1. Coreia do Norte: A “Diplomacia da Torre”
Um dos episódios mais emblemáticos da diplomacia de Trump foi sua tentativa de mediar um acordo de paz entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. Ao longo de sua presidência, Trump adotou uma abordagem inusitada, com encontros diretos e discussões com o líder norte-coreano Kim Jong-un. Embora os resultados de longo prazo tenham sido questionáveis (com a desmobilização de armas nucleares de Pyongyang ainda longe de acontecer), o simples fato de colocar os dois líderes à mesa foi um feito diplomático significativo, visto que a tensão entre os dois países estava em um ponto extremamente elevado antes de 2017.
O envolvimento de Trump nesse processo de negociação foi visto, por um lado, como um exemplo de sua abordagem não convencional e, por outro, como uma tentativa de apaziguar uma das maiores ameaças à segurança global. A mediação de Trump foi criticada por algumas organizações e países, que alegaram que ele havia concedido legitimidade ao regime de Kim Jong-un sem obter compromissos concretos. Contudo, o impacto da sua diplomacia no início de 2018, que levou à histórica Cúpula de Singapura, não pode ser subestimado.
2. Síria: A Retirada e a Controvérsia
Outro exemplo importante foi a política de Trump na Síria. Em 2019, Trump anunciou uma retirada das tropas americanas do norte da Síria, alegando que os EUA haviam derrotado o Estado Islâmico e que, portanto, não havia mais razão para manter uma presença militar significativa. Essa decisão causou um grande alvoroço internacional e foi criticada por muitos, incluindo aliados como a França e o Reino Unido, por permitir que a Turquia tomasse medidas militares contra as forças curdas, que haviam sido aliadas dos EUA na luta contra o ISIS.
Embora a retirada tenha sido amplamente vista como uma falha diplomática e uma abdicação de responsabilidades, Trump, de certa forma, tentou encerrar um conflito prolongado sem uma escalada adicional. Isso refletiu sua filosofia de “limitar intervenções estrangeiras” e, de maneira mais ampla, o conceito de evitar “guerras intermináveis”. Mesmo que a decisão tenha sido polêmica, ela também foi parte de uma tentativa de redefinir o papel dos EUA no Oriente Médio.
3. Afeganistão: A Negociação com o Talibã
A questão do Afeganistão foi outra área onde Trump desempenhou um papel crucial. Em 2020, ele iniciou negociações com o Talibã, o que culminou no Acordo de Doha. Esse acordo visava a retirada das tropas americanas do país, com o compromisso do Talibã de não permitir que grupos terroristas operassem no Afeganistão. Embora o acordo fosse amplamente criticado, principalmente por sua falha em garantir uma paz duradoura, Trump insistiu que a retirada era necessária para colocar fim a uma guerra de 19 anos.
Esse esforço de mediação, embora frustrado pela subsequente tomada do poder pelo Talibã em 2021, reflete a disposição de Trump em buscar soluções diplomáticas, mesmo em contextos desafiadores. A tentativa de negociar com o Talibã, um grupo militante considerado responsável por inúmeras violações de direitos humanos, representa um exemplo da abordagem pragmática de Trump: buscar a paz a qualquer custo, mesmo que isso implique concessões difíceis.
4. Israel e Palestina: Relações Controversas, mas um Passo em Direção à Paz
No Oriente Médio, Trump também desempenhou um papel importante ao apoiar abertamente Israel, o que, por um lado, fortaleceu os laços com Tel Aviv, mas, por outro, alienou muitos países árabes e a comunidade palestina. A “Visão para a Paz” apresentada por Trump em 2020, embora rejeitada pelos palestinos, teve o mérito de iniciar um novo tipo de diplomacia, com a normalização das relações entre Israel e países árabes como os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos — os Acordos de Abraão.
Esses acordos, considerados uma grande vitória diplomática, não resolveram o conflito israelense-palestino, mas criaram um novo cenário geopolítico, onde os laços entre Israel e várias nações árabes começaram a se estreitar. Apesar das críticas a Trump por sua postura unilateral e pela falta de um verdadeiro avanço nas questões territoriais, a normalização de relações entre Israel e países árabes foi vista como um passo significativo para a paz no Oriente Médio.
A Intervenção no Conflito Índia-Paquistão: A Mediada Esperança
Voltando ao caso específico do Paquistão e da Índia, a intervenção de Donald Trump no conflito recente demonstra sua persistência em atuar como mediador em crises internacionais. O cessar-fogo entre os dois países nucleares, impulsionado por sua diplomacia, reflete a tentativa de Trump de resolver disputas complexas com base em sua crença na negociação direta. Embora os métodos de Trump possam ser questionados, o fato de ele conseguir reunir as partes envolvidas para um diálogo sem que o conflito escalasse para uma guerra aberta é digno de reconhecimento, no contexto de sua abordagem pragmática e suas tentativas de evitar confrontos militares mais amplos.
Viabilidade da Candidatura de Trump ao Nobel da Paz
Em suma, Donald Trump tem sido uma figura controversa na diplomacia internacional. Sua abordagem não convencional, que inclui uma disposição para se envolver diretamente com governos autoritários e tomar decisões impopulares, coloca-o em uma posição única. Embora sua presidência tenha sido marcada por polarização interna e externa, seus esforços para mediar acordos de paz e desescalar conflitos têm um impacto que não pode ser ignorado.
Sua candidatura ao Prêmio Nobel da Paz, especialmente no contexto do Paquistão e da Índia, pode ser vista como viável se considerada a natureza pragmática e direta de suas intervenções. Embora a política externa de Trump nem sempre tenha sido eficaz em garantir paz duradoura, ela reflete uma disposição para tomar riscos em prol de soluções pacíficas — um aspecto central para avaliar sua contribuição ao cenário geopolítico global.
Donald Trump já foi indicado ao prêmio outras vezes
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2021 por seus esforços nas negociações que levaram à normalização das relações entre Israel e Emirados Árabes Unidos, anunciada em 13 de agosto. De acordo com a Fox News, a indicação foi feita por Christian Tybring-Gjedde, membro do Parlamento norueguês.
“Pelo mérito dele, acho que ele fez mais tentando criar a paz entre as nações do que a maioria dos outros indicados ao Prêmio da Paz”, disse à Fox Tybring-Gjedde. Na carta de indicação, ele afirma que a administração Trump desempenhou um papel-chave no estabelecimento das relações entre as duas nações do Oriente Médio. Tybring-Gjedde também citou uma nova abordagem dinâmica na intermediação da disputa da Caxemira, entre Paquistão e Índia, e no conflito entre Coreia do Sul e do Norte, e a retirada de tropas americanas do Oriente Médio.
“De fato, Trump quebrou uma sequência de 39 anos de presidentes americanos que começaram uma guerra ou levaram os Estados Unidos a um conflito armado internacional. O último presidente a evitar isso foi o ganhador do Prêmio da Paz Jimmy Carter”, disse o parlamentar norueguês conservador por meio de carta.
O presidente Donald Trump também foi indicado ao Nobel da Paz anteriormente. Em 2018, foi citado por parlamentares noruegueses por seu esforço em negociar o desarmamento da Coreia do Norte na cúpula com o ditador norte-coreano Kim Jong-un, em Cingapura.