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Política

França

Deslizes de Lula em fala sobre guerra na Ucrânia causam constrangimento internacional

Presidente brasileiro foi repreendido por Emmanuel Macron após sugerir que a Ucrânia compartilha responsabilidade pela continuidade do conflito com a Rússia


Presidente Emmanuel Macron critica posicionamento de Lula sobre a guerra na Ucrânia – Foto: Reprodução

Durante visita oficial à França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a provocar controvérsia internacional ao sugerir que a Ucrânia teria responsabilidade pela continuidade da guerra com a Rússia. A declaração, feita durante uma entrevista transmitida ao vivo nesta quinta-feira (5), foi prontamente rebatida pelo presidente francês Emmanuel Macron, que corrigiu publicamente o brasileiro e reafirmou que a Rússia é a única responsável pela agressão militar.

Lula afirmou ter ficado preocupado com um suposto ataque ucraniano a um aeroporto russo e mencionou uma conversa entre Donald Trump e Vladimir Putin como fonte de sua informação. A menção a Trump e a um tuíte não verificado como base de análise geopolítica foi vista como mais um deslize diplomático do presidente brasileiro, especialmente ao citar o líder russo como “ditador” e, ao mesmo tempo, relativizar as ações de Moscou.

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“Fiquei preocupado porque, na semana passada, quando se começa a discutir a paz, me parece que houve um ataque da Ucrânia a um aeroporto… E agora estou lendo no boletim que o Trump publicou um e-mail, um tuíte, dizendo que conversou com o Putin e que a conversa não foi muito boa…”, disse Lula, misturando informações vagas e fontes questionáveis.

A referência do presidente brasileiro provavelmente se refere a um ataque com drones, ocorrido no domingo (1), que teria destruído aeronaves militares russas. A Ucrânia afirma que os alvos foram bases estratégicas, sem vítimas civis, mas as informações não foram confirmadas por fontes independentes.

Na sequência, Lula insistiu em afirmar que “os dois lados sabem onde isso vai parar”, reforçando uma narrativa de equivalência entre o invasor e o invadido — o que irritou Macron.

Em resposta direta e firme, o líder francês fez questão de restabelecer os fatos:

“Há um agressor, que é a Rússia, e há um agredido, que é a Ucrânia. Todos queremos a paz, mas os dois não podem ser tratados em pé de igualdade”, afirmou Macron, diante de Lula. “A proposta de cessar-fogo foi aceita pela Ucrânia e segue sendo recusada por Putin.”

Além da polêmica declaração sobre a guerra, Lula ainda tropeçou conceitualmente ao falar sobre multilateralismo e a atuação da ONU. Ele defendeu uma iniciativa conjunta do Brasil com a China, mas foi novamente corrigido por Macron, que destacou que mais importante do que expandir o Conselho de Segurança é respeitar a Carta das Nações Unidas — que, segundo ele, foi violada pela Rússia.

“Um país violou a Carta da ONU. Foi a Rússia. E ela recusa a paz”, reforçou Macron.

A série de falas controversas de Lula reacende o debate sobre sua condução da política externa brasileira, marcada por ambiguidades e tentativas de mediação que, muitas vezes, acabam por isolar o país entre as grandes potências. Especialistas apontam que o uso de informações não verificadas, declarações genéricas e falta de precisão estratégica minam a credibilidade do Brasil como ator diplomático relevante.

Apesar das polêmicas, a visita de Lula à França também inclui a assinatura de cerca de 20 acordos bilaterais nas áreas de educação, tecnologia e meio ambiente, além de sua participação em um seminário sobre preservação dos oceanos. O presidente receberá ainda o título de doutor honoris causa pela Universidade de Paris.