Diante de um cenário político complexo e fragmentado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter escolhido o caminho da acomodação. Sua taxa de popularidade segue em patamar baixo e estável, sem sinais de recuperação expressiva — o que, nos tempos atuais, já é interpretado quase como uma “vitória”.
Lula parece ter se resignado à constatação de que seu governo tem pouco controle em duas frentes essenciais: a corrupção e a ineficiência administrativa. O recente escândalo envolvendo o INSS é ilustrativo desse descontrole, revelando uma permissividade inédita com práticas corruptas dentro da máquina pública. Os fatores que contribuem para esse ambiente são diversos, mas o resultado é claro: os agentes políticos e públicos corruptos nunca se sentiram tão à vontade.
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A ineficiência administrativa segue o mesmo padrão. O crescimento acelerado dos gastos com os Benefícios de Prestação Continuada (BPC), contrariando a orientação da própria equipe econômica, mostra como decisões fiscais relevantes estão escapando do radar do governo. A impressão é de que, no terceiro mandato de Lula, os acontecimentos não são resultado de planejamento, mas de uma inércia burocrática onde as coisas simplesmente “acontecem”.

Lula parece aceitar uma realidade em que pouco pode fazer – Foto: Wilton Júnior/Estadão
Essa postura de acomodação também se reflete na relação com os demais Poderes. O Executivo vê seu protagonismo diminuído por um Legislativo cada vez mais autônomo e por um Judiciário que se consolidou como ator político de primeira grandeza. A negociação entre os dois poderes para encontrar uma saída alternativa à anistia dos acusados pelos atos de 8 de janeiro escancarou esse novo arranjo institucional, em que o presidente parece ter pouco a dizer.
Mais recentemente, Lula assiste de fora ao fortalecimento do Centrão, com a criação da chamada “super federação” entre União Brasil e PP. A articulação tem como objetivo ampliar o poder de barganha no Congresso, especialmente em termos de acesso a fundos públicos e de influência sobre a agenda legislativa. Esse movimento reflete um sistema político onde as tradicionais moedas de troca perderam valor, e o Executivo se tornou uma peça secundária no jogo de poder.
Os limites dessa grande acomodação — que em nada se assemelha a uma “concertação” institucional — serão testados por desafios de grande escala, para os quais o atual arranjo político não oferece respostas coordenadas. A estagnação econômica, a pressão demográfica, o avanço do crime organizado e a paralisia das reformas estruturantes são questões que exigem liderança, articulação e capacidade de resposta — exatamente os elementos hoje ausentes no Executivo.
As eleições de 2026 dirão até onde o país está disposto a continuar se acomodando.