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Internacional

COP28

Somente em 2022 agronegócio brasileiro sofre US$ 17 bilhões de prejuízos

Foram mais de US$ 17 bilhões de prejuízos para o agronegócio brasileiro no ano passado devido a fenômenos climáticos, principalmente secas. O setor está na linha de frente dos impactos das mudanças do clima, mas também responde por uma parcela considerável (18%) das emissões mundiais de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global.


Dubai: “Nos últimos 10 anos, tivemos uma perda de cerca de US$ 57 bilhões na agricultura, a maior parte na produção de alimentos. Para os países vulneráveis, a diminuição da produção em função de eventos extremos, como grandes estiagens ou chuvas torrenciais, afeta os mais pobres, porque aumenta o preço dos alimentos”, exaltou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, neste domingo (10), em uma coletiva de imprensa da presidência da COP28.

No último dia de eventos na COP28, conferência teve foco na agricultura neste domingo (10/12/2023) – Foto: Peter Dejong/AP

O agronegócio brasileiro comparece em peso na Conferência do Clima da ONU em Dubai (COP28), determinado a mostrar para o mundo que a produção agrícola do país está mobilizada para reduzir o seu impacto ambiental. O maior desafio é o fim do desmatamento, prometido para até 2030 e que deve permitir que o país corte quase pela metade as suas emissões. Mas as práticas da agropecuária ainda precisam ser mais sustentáveis para atingir resultados ainda melhores – e reverter a imagem negativa que abalou a confiança de mercados internacionais no país.

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“Pelo menos com as lideranças que eu tenho conversado, há uma consciência muito clara de que o primeiro setor a ser afetado pelas mudanças climáticas vai ser o agronegócio, e eles não têm nenhum interesse que o clima se altere dessa forma”, disse Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e que agora preside a Iniciativa Internacional para o Agronegócio Brasileiro.

Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), avalia que apenas investimentos públicos não bastarão para os países descarbonizarem suas economias – Foto: Lúcia Müzell/ RFI

Potencial de liderança na agropecuária sustentável

Renata Potenza, especialista em clima e agricultura do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal Agrícol), garante que o Brasil faz parte da solução e não do problema, rumo à descarbonização da economia mundial até meados do século. “O Brasil pode ser uma liderança de uma agricultura e uma pecuária mais regenerativa, sustentável e menos impactante, lembrando que hoje o Brasil tem participação significativa nas emissões globais, como quinto, sexto ou sétimo maior emissor do mundo, conforme a fonte que a gente olhar”, ressaltou.

Potenza assinala que o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) tem acelerado a adoção de boas práticas no campo, mas ainda não opera em escala suficiente para resultar no impacto que poderia.

“Precisaríamos de mais escala e mais velocidade. Se o Brasil continua com as métricas e políticas públicas já existentes hoje, até 2050 teremos um aumento de 7% das emissões”, aponta. “Poderia ser pior, obviamente. O plano ajuda a reduzir, mas ainda assim estamos falando de aumento de emissões, portanto de temperatura.”

Renata Potenza, especialista em clima e agricultura do Imaflora, diz que o Plano Agricultura de Baixo Carbono não é suficientemente ambicioso para impactar as emissões de gases de efeito estufa da agricultura – Foto: Lúcia Müzell/ RFI

Exemplos de melhores práticas no campo

Entre estas práticas estão melhorar a qualidade das pastagens – visando à redução das emissões de metano pela pecuária –, aumentar o plantio direto e a integração entre a lavoura, a pecuária e a floresta, o uso de plantas de cobertura do solo que sequestram mais carbono, a agricultura de precisão – capaz de reduzir até 30% das emissões ao limitar o uso de insumos agrícolas e a diversificação agrícola, no lugar de monoculturas.

“A lista é enorme”, salienta o agrônomo Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. “O mundo precisa de comida e eu não tenho dúvida nenhuma de que o Brasil é muito mais solução do que problema. O maior problema global das emissões de gases são as queimas de combustíveis fósseis, que representam 73% das emissões”, destacou. “Me pareceu, de forma muito infeliz nesta COP, que os países simplesmente se ausentaram dessa responsabilidade para colocar uma cortina de fumaça e querer direcionar o problema para os sistemas alimentares”, afirmou.

O pesquisador lembra que, conforme as projeções da FAO (Organização para a Alimentação e a Agricultura, ligada à ONU), o mundo precisará aumentar ainda mais a produção de alimentos para atender o crescimento da população mundial.

“O desmatamento ilegal é criminoso e estamos esperando há muito tempo que seja banido, disse Carlos Eduardo Cerri, da USP – Foto: Lúcia Müzell/ RFI

“O desafio é aumentar com menor emissão de gases e com remoção de uma parte, na planta e no solo, com adoção de boas práticas de manejo”, complementa. “Mas o produtor precisa de apoio, com taxas mais baixas de empréstimo. Estamos vendo aqui que não falta dinheiro: o dinheiro está sobrando para proteger os combustíveis fósseis, mas para outras áreas, é nada ou muito pouco.”

O recado da ONU na COP28

Segundo a ONU, o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (o IPCC) e até a Agência Internacional de Energia (AIE) o uso dos combustíveis fósseis têm os dias contados se o mundo está falando seriamente em conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC ou bem abaixo de 2ºC.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (à direita), participa de encontro com o presidente Lula e secretário-geral da ONU, António Guterres, na COP28, em Dubai — Foto: Ricardo Stuckert/PR 

Abrir ou não novas frentes de exploração de petróleo é um debate que a sociedade brasileira (e o mundo) precisa fazer, disse Lula e Marina repetiu. A hora é de buscar soluções e energias alternativas. É isso que a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima quis reforçar, na “potência” do discurso do presidente.

Com agências