Béchu explicou que, desde o verão passado, os lençóis freáticos não se repõem. Nesse momento, “68% deles estão abaixo do normal para a época”, sendo que em 20% dos casos, os níveis estão “muito baixos”.
O ministro relatou que as chuvas da primavera no hemisfério norte chegaram tarde demais para realmente recarregar os lençóis freáticos e que a vegetação absorveu a maior parte da água, desde abril. Assim, a maioria das chuvas caiu em solos muito secos para realmente infiltrar.
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Apesar disso, “a situação é um pouco menos alarmante do que no ano passado”, disse, citando o exemplo da Bretanha, no oeste. Ele destacou, no entanto, que há locais onde a seca é “um pouco pior” do que em outros, como o vale do rio Ródano, uma grande parte da orla mediterrânea, a bacia de Paris e a planície da Alsácia, no leste.
A França permanece, portanto, “em situação de vigilância”, sublinhou Béchu, apontando que julho pode ser um mês decisivo quanto à evolução da situação.
No ano passado, a falta de chuvas (- 88% de déficit hídrico) mergulhou a França em um verão difícil, com 700 municípios privados de água potável. “Se tivermos este ano um mês de julho comparável, teremos dias complicados” em relação ao abastecimento de água, alertou o ministro, dizendo que não podia “excluir novas dificuldades” neste verão para determinados municípios.
Calor em alta
A temperatura continua subindo na França. Nesta terça-feira, parte do país estava em alerta para a onda de calor, após um mês de junho que foi o segundo mais quente já registrado no território francês.
As altas temperaturas favorecem a evaporação da água. Tempestades são esperadas em 17 dos 96 departamentos, mas essas chuvas geralmente não são eficazes para a recarga das águas subterrâneas, segundo as autoridades.
As ondas de calor, que causaram mais de 60 mil mortes no verão de 2022, segundo um estudo publicado na segunda-feira (10), estão aumentando na Europa, consequência direta do aquecimento global.
As emissões de gases de efeito estufa aumentam a intensidade, a duração e a taxa de repetição das ondas de calor, especialmente na Europa, “a região do mundo com aquecimento mais rápido”, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
A seca não afeta apenas a França: quase metade da Europa e da orla mediterrânea (49,2%) já viviam esta situação no período de 11 a 20 de junho, segundo o Observatório Europeu da Seca (EDO). Isso é um pouco melhor do que no ano passado, na mesma época (52,4%).
Medidas causam controvérsia
O governo anunciou o lançamento de uma nova plataforma de informação para os franceses chamada “Vigieau” (como vigiar a água, em tradução livre). Ela deve facilitar a compreensão das restrições vigentes em determinados endereços, informação que até agora era comunicada apenas em decretos das prefeituras.
O aplicativo, no entanto, foi ridicularizado por vários políticos da oposição. “Os conflitos de uso da água são agudos. A situação exige profundas mudanças estruturais: agricultura, indústria… E o governo estigmatiza os indivíduos e oferece-lhes um aplicativo”, tuitou Sophie Bussière, porta-voz da coligação Europa Ecologista Os Verdes (EELV).
“O cultivo de milho consome um em cada cinco litros de água no país. O ministro planejou um grande plano de sorgo, desde as secas do verão passado? Não. Mas ele tem um ‘app’ para explicar as restrições aos franceses!” comentou François Ruffin, deputado do partido de esquerda radical, A França Insubmissa.
Com informações da AFP