Quem tenta acessar o antigo endereço do site oficial da Casa Branca em espanhol já não encontra o conteúdo antes disponibilizado pelo governo. Agora, há apenas um aviso de “página não encontrada” e um botão que redireciona o usuário para a versão em inglês. Na página principal, tampouco há a opção de alterar o idioma do site para o espanhol.
A mesma medida já havia sido adotada no primeiro mandato de Trump, iniciado em 2017. O perfil da Casa Branca em espanhol no X, antigo Twitter, também foi desativado e não pode ser consultado.
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A página principal da Casa Branca, www.whitehouse.gov, não conta mais com a mudança de idioma para o espanhol, contando apenas com a versão em língua inglesa – Foto: RFI
Reações na Espanha
Na Espanha, diversos representantes públicos e instituições criticaram a decisão do governo dos Estados Unidos de remover a versão em espanhol do site da Casa Branca. Durante uma reunião da cúpula do Instituto Cervantes, em 5 de fevereiro, o rei Felipe VI classificou como “chamativa” a decisão do governo Trump de deixar de usar o espanhol como um “instrumento de comunicação” da Casa Branca.
Apesar disso, o monarca afirmou acreditar que a decisão será temporária, já que, devido a fatores “demográficos e democráticos”, o espanhol tende a se tornar uma língua cada vez mais presente. Felipe VI também deu ênfase à forte influência política do idioma.
“Humilhar as pessoas por serem migrantes ou pobres”
A importância se reflete em números. Segundo um estudo publicado pelo Instituto Cervantes em 2024, existem 63,7 milhões de hispânicos nos Estados Unidos, 75% deles capazes de conversar em espanhol. A pesquisa também revela que a porcentagem de eleitores hispânicos no país é de 14,7%.
O Instituto Cervantes é uma instituição pública criada pela Espanha que tem como missão promover e ensinar a língua espanhola. E o posicionamento da instituição também foi contrário à retirada. No mesmo dia em que o rei Felipe VI abordou o tema, o poeta Luis García Montero, diretor do Cervantes, expressou sua decepção com a postura do governo dos Estados Unidos em relação ao uso do espanhol.
Montero foi contundente ao afirmar que “não se trata apenas de defender o prestígio da língua, mas de não humilhar as pessoas por serem migrantes ou pobres”. Ele classificou a atitude do novo governo como uma “notícia triste”, afirmando que acreditava que tal medida não se repetiria, especialmente após o apoio expressivo que Trump recebeu de parte da população latina nas eleições.
Montero comentou que imaginava que o líder norte-americano adotaria uma postura mais neutra, considerando a importância da comunidade latina na economia dos Estados Unidos, algo que não ocorreu. O diretor também ressaltou que o Instituto Cervantes deve trabalhar para “consolidar o prestígio do espanhol” como língua de cultura, ciência e tecnologia, e que existe a intenção de fortalecer a presença da instituição nos EUA.
O presidente do Senado espanhol, Pedro Rollán, do Partido Popular, também se manifestou sobre o assunto. O senador pediu ao governo dos EUA que reconsiderasse a decisão de eliminar o espanhol do site oficial da Casa Branca, destacando os benefícios “culturais, sociais e econômicos” do uso da língua.
“2ª língua de comunicação internacional”
Vinte e três academias de espanhol ao redor do mundo se uniram em protesto contra a decisão do governo Trump, demonstrando sua preocupação por meio de um comunicado divulgado pela Asale, a Associação de Academias da Língua Espanhola, no dia 20 de fevereiro.
O texto destaca que o espanhol é falado por mais de 600 milhões de pessoas, sendo a “segunda língua de comunicação internacional”, e ressalta que os Estados Unidos são o segundo país no mundo com mais hispanofalantes.
Na mesma declaração, a Asale elogiou a qualidade dos conteúdos oferecidos em espanhol no portal oficial do governo dos Estados Unidos, que continua disponível no idioma – assim como outras páginas oficiais ligadas ao governo. Ainda assim, a associação lamentou que um “recurso tão importante quanto o site da Casa Branca em espanhol” tenha sido encerrado.
O que diz a Casa Branca
O assistente especial do presidente, Harrison Fields, declarou que a administração estava “comprometida a recuperar” a versão espanhola da página, sem, no entanto, estabelecer um prazo concreto para que isso acontecesse.
Durante os primeiros dias do segundo governo Trump, Fields informou que o site da Casa Branca passava por um processo de edição e ajustes, mas garantiu que o conteúdo em espanhol retornaria “em breve” – algo que, até o momento, não se concretizou.
Quando o espanhol foi retirado do site da Casa Branca no primeiro mandato de Donald Trump, Sean Spicer, que atuava na comunicação da presidência, assegurou que o idioma voltaria a figurar como opção para os usuários.
Apesar das garantias de que uma equipe estava trabalhando para o retorno do conteúdo, a promessa não se cumpriu, e a navegação em espanhol só foi restabelecida após a posse de Joe Biden, em 2021.