Perry, Sánchez, King, Nguyen, Bowe e Flynn posaram no sábado (12) para um ensaio especial ao jornal The New York Times. — Foto: Reprodução/Justin Hamel/The New York Times
Jeff Bezos está enviando sua futura noiva, Lauren Sánchez, e seus “convidados” para o espaço nesta segunda-feira (14) as 10h30 no horário de Brasília.
Uma tripulação de seis mulheres — Amanda Nguyen, uma ativista dos direitos civis que se tornará a primeira mulher vietnamita a voar para o espaço; a coapresentadora do CBS Mornings, Gayle King; a estrela pop Katy Perry; a produtora de cinema Kerianne Flynn; a empreendedora e ex-cientista de foguetes da NASA, Aisha Bowe; e Sánchez, uma jornalista e filantropa — decolará no foguete New Shepard da Blue Origin a partir do local de lançamento da empresa, 48 quilômetros ao norte de Van Horn, Texas, em um voo suborbital de 11 minutos até a borda do espaço e de volta.
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Embora seja considerada a primeira tripulação exclusivamente feminina a atingir a linha de Kármán, o limite internacionalmente reconhecido do espaço a uma altitude de 100 quilômetros, tecnicamente não é assim: a cosmonauta Valentina Tereshkova voou em uma missão solo ao espaço em 1963.
Mas Tereshkova não se aventurou com os apetrechos oferecidos às novas damas do espaço. “Somos uma equipe!”, teriam gritado em uníssono durante uma sessão de fotos para a revista Elle, cada uma exibindo “um visual totalmente preto”. A revista observou que esta será a primeira vez que alguém irá ao espaço com cabelo e maquiagem feitos.
“Quem não ficaria glamouroso antes do voo?”, comentou Sánchez. Perry acrescentou: “O espaço finalmente vai ser glamouroso. Deixa eu te contar uma coisa. Se eu pudesse levar o glamour comigo, eu faria isso. Vamos colocar ‘bunda’ num astronauta.”
Mas viagens como essas levantam questões: serão elas algo mais do que passeios divertidos – e precisam ser? Gayle King disse que “senti muita apreensão – ainda sinto – mas também sei que é muito interessante sentir medo e excitação ao mesmo tempo. Não me sentia assim desde o parto. Porque eu sabia que o parto ia doer. Mas também é sair da zona de conforto.”
Bezos estava a bordo do lançamento da 1ª missão tripulada da Blue Origin no foguete New Shepard/2021 – Foto: Blue Origin /Zuma Press
O ator William Shatner, também conhecido como Capitão James T. Kirk da nave estelar Enterprise, realizou um dos primeiros voos no foguete de Bezos aos 90 anos, em 2022. Ele disse ter ficado surpreso com sua própria reação à experiência – e se emocionado até as lágrimas. “Quando olhei na direção oposta, para o espaço, não havia mistério, nenhuma admiração majestosa para contemplar… Tudo o que vi foi a morte. Vi um vazio frio, escuro e negro. Era diferente de qualquer escuridão que você possa ver ou sentir na Terra. Era profundo, envolvente, abrangente. Foi um dos sentimentos de luto mais fortes que já experimentei”, acrescentou.
Para Bezos, no entanto, a viagem exclusivamente feminina pode ser mais do que um passeio divertido e organizado em um foguete que voa sozinho. A cofundadora da Amazon está travando uma batalha competitiva na indústria de lançamentos espaciais comerciais com Elon Musk . Os foguetes da família Space X Falcon 9 de Musk foram lançados 469 vezes. Em contraste, a Blue Origin realizou apenas 31 lançamentos bem-sucedidos de seu veículo New Shepard, incluindo 11 voos suborbitais tripulados.
No início deste ano, a Blue Origin lançou seu foguete maior e reutilizável, o New Glenn (em homenagem a John Glenn, o primeiro americano a orbitar a Terra), partindo de Cabo Canaveral, na Flórida. A empresa afirma que o foguete opera como um “avião comercial (mas com combustível mais limpo)”, resultará em “significativamente menos desperdício e custo” e poderá transportar 13 toneladas métricas para a órbita de transferência geoestacionária e 45 toneladas métricas para a órbita baixa da Terra.
Apesar disso, a Blue Origin permanece em segundo lugar nesta batalha espacial. A líder, a SpaceX, atualmente constrói e lança dois foguetes: o Falcon 9 e o Falcon Heavy. Uma característica desses foguetes tem sido o desenvolvimento de estágios propulsores que retornam à Terra para reforma, um processo revolucionário que economiza dinheiro e ajudou a SpaceX a superar os concorrentes.
A empresa também constrói e pilota a Dragon, a cápsula espacial que pode transportar tripulação e carga para a Estação Espacial Internacional, e está trabalhando em um grande sistema de foguete e nave espacial chamado Starship, que será capaz de transportar cargas úteis enormes para o espaço. A Starship pode até levar astronautas a Marte e estabelecer colônias lá, se Musk conseguir o que quer.
“Atualmente, a SpaceX de Musk é a líder indiscutível da competição: ela envia astronautas regularmente para a órbita, enquanto a Blue Origin de Bezos ainda não lançou ninguém além dos limites do espaço”, observou recentemente o Politico.
A SpaceX e a Blue Origin entraram em conflito na justiça por bilhões de dólares em financiamento governamental, e os próprios bilionários trocaram farpas sobre o X, de propriedade de Musk, com os rivais de Musk preocupados que ele esteja tentando criar um monopólio na indústria espacial privada.
“As pessoas estão preocupadas com o que está em jogo para impedir isso”, disse um lobista da indústria espacial. “Estamos falando de duas das pessoas mais imprevisíveis do mundo se unindo. Não é [o caso de] chocolate e manteiga de amendoim, e você obtém uma ótima combinação. Estamos falando de domínio mundial aqui.”
A Blue Origin está tentando alertar sobre potenciais vantagens injustas na corrida espacial, informou o Politico. “Elon Musk quer um monopólio no espaço”, argumentou uma pessoa familiarizada com a estratégia da Blue Origin em Washington.
Tudo isso significa que o lançamento de segunda-feira pode ter mais em jogo do que seis mulheres e suas rotinas de beleza antes do voo.
Informações: The Guardian