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Internacional

Roma

Conclave: Quem são os candidatos favoritos a novo Papa

Um brasileiro e o possível primeiro papa negro na história estão entre as opções do Vaticano para assumir o cargo máximo da Igreja Católica.


Especialistas acreditam que Francisco não deixa herdeiro natural, mas norteia perfil do que seria necessário para futuro na Igreja Católica.

Francisco caminhando no Vaticano, 27-09-2023 – Foto: Guglielmo Mangiapane/Reuters   

A morte do Papa Francisco causou grande comoção no mundo. Agora, chega o momento do processo de escolha de seu sucessor. Embora vários nomes sejam mencionados como possíveis candidatos, alguns se destacam e ganham mais força nas apostas.

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Quem está no centro das atenções é Peter Turkson, um cardeal nascido em 11 de outubro de 1948, em Nsuta, Gana, e que tem grande prestígio dentro da Igreja Católica. Ele foi ordenado sacerdote em 1975 e, em 2003, foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II. Ao longo de sua trajetória, ocupou cargos importantes no Vaticano, sendo reconhecido por seu trabalho em áreas como justiça social, ecologia e desenvolvimento humano integral.

Natural de Gana, Peter Turkson tem grande prestígio dentro da Igreja Católica e pode se tornar o primeiro papa negro da história – Foto: Reprodução

Entre 2009 e 2016, presidiu o Pontifício Conselho para Justiça e Paz. Mais tarde, assumiu a liderança do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, um órgão criado pelo Papa Francisco em 2017 para lidar com temas como pobreza, meio ambiente e migração. Turkson, de perfil progressista, já foi cogitado em diversas ocasiões como uma possível opção para o papado. Caso seja eleito, será o primeiro Papa negro na história da Igreja Católica.

No entanto, entre os que também podem ser considerados como sucessores do Papa Francisco, há outros nomes em destaque. Um deles é Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, conhecido por sua postura conciliadora e que já figurava como um dos candidatos mais fortes ao posto que acabou sendo ocupado pelo argentino Jorge Bergoglio.

Se seguir a mesma linha de condução que acaba de chegar ao fim, também surgem nomes como o de Luis Antonio Tagle, das Filipinas, que compartilha da visão do Papa Francisco, e Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, com uma trajetória diplomática de destaque.

Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, com uma trajetória diplomática de destaque – Foto: Reprodução

Sob a ala mais conservadora da Igreja, por outro lado, está Willem Eijk, dos Países Baixos, que se posicionou contra algumas das reformas promovidas por Francisco. Também se destaca Raymond Leo Burke, um crítico proeminente da abertura doutrinária dos últimos anos.

De toda forma, a maioria dos cardeais com maior influência na Igreja Católica segue uma linha progressista, o que pode garantir a continuidade das políticas do Papa Francisco.

Conhecido por sua postura conservadora e formação acadêmica sólida, o cardeal húngaro Peter Erdo, 72 anos, arcebispo de Esztergom-Budapeste, foi durante muito tempo o cardeal mais jovem da Europa. Recebeu o título de cardeal em 2003, pouco depois de completar 50 anos, e, desde 2006, preside a Conferência Episcopal Europeia.

É muito ativo na chamada nova evangelização, que luta contra a secularização em defesa do diálogo interreligioso. Dada a localização na Hungria, onde o Oriente se encontra com o Ocidente, não é surpresa que Erdo seja o líder das relações católicas com as igrejas ortodoxas — ele também mantém contato com líderes da comunidade judaica.

Cardeal Péter Erdo, conhecido por sua postura conservadora e formação acadêmica sólida, o cardeal húngaro Peter Erdo, 72 anos, arcebispo de Esztergom-Budapeste, foi durante muito tempo o cardeal mais jovem da Europa – Foto: Reprodução

Wilton Gregory, nascido em 1947 em Chicago, Estados Unidos, é o atual arcebispo de Washington D.C.. Em 2020, ele se tornou o primeiro cardeal afro-americano da Igreja, tendo sido nomeado por Francisco.

Gregory é conhecido por seu compromisso com questões de justiça social, igualdade racial e por seus esforços para combater o abuso sexual clerical. O cardeal ainda tem defendido fortemente ações contra as mudanças climáticas.

Cardeal Wilton Gregory, atual arcebispo de Washington D.C – Foto: Reprodução

Como é feita a escolha do novo Papa

A morte do Papa Francisco deixou a Igreja Católica em “sede vacante”, um estado excepcional que será encerrado com o histórico e fechado conclave, no qual os cardeais com menos de 80 anos se reúnem na Capela Sistina para eleger seu sucessor.

Do latim “cum clave” (sob chave), o conclave é um rito centenário marcado pelo sigilo e pela solenidade. Segundo informações da agência Noticias Argentinas, a Santa Sé fica sob responsabilidade do camerlengo (funcionário da câmara do soberano) — atualmente Kevin Farrell. Ele é responsável por convocar os cardeais a Roma para organizar a sucessão e definir a data do encontro, que deve ocorrer dentro dos próximos 20 dias.

O Colégio Cardinalício, composto por cardeais de todo o mundo, é o responsável por eleger esse sucessor, que assumirá o papel de orientar a Igreja em uma época de grandes desafios globais – Foto: Reprodução

Votantes menos eurocêntricos

Em 21 de abril, havia um total de 252 cardeais, 135 dos quais eram cardeais eleitores com menos de 80 anos, de acordo com dados publicados pelo Vaticano. Dos cardeais eleitores, 108 foram nomeados por Francisco, 22 por seu antecessor, Bento 16, e cinco por João Paulo 2º.

Os cardeais são “criados” em cerimônias chamadas consistórios, nas quais recebem seu anel, uma bireta vermelha (um boné quadrado) e juram lealdade ao papa, mesmo que isso signifique derramar sangue ou sacrificar suas vidas, como indica a cor vermelha.

O papa Francisco realizou 10 consistórios e, com cada um deles, aumentou as chances de que seu sucessor seja outro não europeu, tendo reforçado a Igreja em lugares onde ela é uma minoria minúscula ou onde está crescendo mais rapidamente do que no Ocidente, em sua maior parte estagnado.

Embora a Europa ainda tenha a maior parcela de cardeais eleitores, com cerca de 39%, ela caiu em relação aos 52% de 2013, quando Francisco se tornou o primeiro papa latino-americano. O segundo maior grupo de eleitores é da Ásia e da Oceania, com cerca de 20%.

Francisco nomeou mais de 20 cardeais de países que nunca tiveram um cardeal, quase todos de países em desenvolvimento, como Ruanda, Cabo Verde, Tonga, Mianmar, Mongólia e Sudão do Sul, ou de países com pouquíssimos católicos, como a Suécia. Em alguns casos, ele repetidamente ignorou vagas em grandes cidades europeias que tradicionalmente tinham cardeais, para enfatizar que a Igreja não poderia ser tão eurocêntrica.

Acima, à esquerda: Pietro Parolin, Luis Antonio Tagle, Peter Turkson. Meio, LR: Péter Erdő, Matteo Zuppi, José Tolentino Calaca de Mendonca. Em baixo, LR: Mario Grech, Pierbattista Pizzaballa, Robert Sarah – Foto: Reprodução

Papa brasileiro?

Segundo o jornal italiano Torino Cronaca, o nome do brasileiro Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de São Salvador da Bahia, é apontado como um dos mais cotados no conclave sul-americano. “A única limitação é de que, no momento, os progressistas ainda não encontraram, diferentemente da época de Bergoglio, um líder escolhido unanimemente”, escreveu a publicação.

Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil — Foto: Jorge Jesus/Ag. Picnews

Natural de Dobrada (SP), Dom Sérgio nasceu em 1959 e foi ordenado sacerdote em 1984. Com doutorado em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, iniciou seu ministério episcopal em 2001 como bispo auxiliar de Fortaleza.

Em 2016, foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco e recebeu o título da Basílica de Santa Croce, uma das mais tradicionais de Roma. Desde 2023, integra o C9, grupo de cardeais que assessora o Papa no governo da Igreja.

O vencedor nem sempre é o favorito

Na história recente da Igreja, o polonês Karol Wojtyla também era visto como azarão — e tornou-se “João Paulo 2º” de longo e marcante pontificado. O alemão Joseph Ratzinger, por sua vez, quando foi eleito papa Bento 16, era tido como o sucessor natural, “preparado” por João Paulo 2.º, nome forte de seu papado.

Ao longo de seu pontificado Francisco realizou dez consistórios — quando novos cardeais são nomeados. É um recorde, superando os nove de João Paulo 2. Atualmente são 253 purpurados, sendo 140 eleitores — com menos de 80 anos.

O peso político impresso por Francisco é evidente, já que, desse total, 149 cardeais foram indicados por ele. Dentre os eleitores, 110 receberam o barrete das mãos do argentino, 24 de Bento 16 e apenas seis são remanescentes do período de João Paulo 2.º.

Presente enviado ao Papa por Pelé – Foto: Reprodução

Com Forbes Argentina e Reuters