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Internacional

Oriente Médio

Acidente com presidente do Irã gera incerteza sobre futuro político e econômico do país

O acidente envolvendo o helicóptero que transportava o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, gera incertezas sobre o futuro político e econômico do país. Raisi estava acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, quando o helicóptero precisou fazer um pouso forçado perto da fronteira com o Azerbaijão neste domingo (19).


Briga entre radicais

No Irã, quem controla todas as esferas de governo é o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. O presidente e o aiatolá tem uma boa relação, segundo o mestre em Relações Internacionais pelas Universidades de Groningen (Países Baixos) e Estrasburgo (França) Uriã Fancelli. “Mas quem toma as decisões é o aiatolá. Qualquer decisão depende da palavra final de Ali Khamenei, ele é quem dita as linhas que o governo deve seguir”, afirma.

Khamenei já se manifestou sobre o incidente nas redes sociais. O aiatolá pediu orações para as pessoas que estavam no helicóptero e assegurou os iranianos de que o cenário político não sofrerá rupturas. “Todos deveriam orar pela saúde dessas pessoas que servem a nação iraniana. A nação não precisa ficar preocupada ou ansiosa, pois a administração do país não será perturbada de forma alguma”, disse Khamanei em sua conta no X.

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Ebrahim Raisi, presidente do Irã – Foto: reprodução

Uma eventual impossibilidade de Raisi continuar no cargo pode gerar disputa interna pelo poder. “O incidente com o presidente do Irã pode gerar uma disputa interna, que dificilmente envolveria uma oposição de fato, a qual tem cada vez mais encontrado dificuldade para se candidatar e se eleger. São grupos perseguidos e desqualificados pelo Conselho Guardião, que aprova ou barra os candidatos para as eleições, incluindo a presidência”, diz Fancelli.

A briga se daria entre radicais ultra-conservadores. “Seria uma disputa entre os próprios radicais”, diz o especialista. “Hoje, a atmosfera política do Irã é controlada por radicais, os chamados ‘hardliners’. Tudo é muito mais difícil para os reformistas e moderados no país.”

O incidente com o presidente Raisi coloca no centro do debate a política interna e externa do país. “O país já passa por incertezas econômicas, a população sofre com a falta de água, mudanças climáticas, violações de direitos”, afirma Fancelli. “O acidente torna tudo ainda mais incerto.”

No âmbito da política externa, a relação com grupos extremistas como o Hamas e o Hezbollah não deve ser impactada. Em abril, o Irã lançou dezenas de drones e mísseis em direção a Israel e aumentou a escalada de violência no Oriente Médio. Na ocasião, Raisi disse que ensinou “lição inesquecível” a Israel. Em pronunciamento oficial, o presidente do Irã afirmou que o país “virou uma página e ensinou uma lição” ao “inimigo sionista”.

Ele também acusou Israel de ser o responsável por crise no Oriente Médio. “O Irã atribui a causa profunda da crise na região às políticas genocidas e violentas do regime sionista”, afirmou Raisi.

Acidente com helicóptero

Raisi voltava de uma reunião perto da fronteira com o Azerbaijão quando o incidente ocorreu. A aeronave pousou em Jolfa, a cerca de 600 quilômetros de Teerã, de acordo com a IRNA.

Raisi seria um possível sucessor do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, ocupando atualmente a posição mais alta tanto política quanto religiosa na república islâmica – Foto: reprodução

O helicóptero que se acidentou levava quatro passageiros. Além de Raisi e Amirabdollahian, estavam na aeronave o governador da província do Leste do Azerbaijão, Malek Rahmati, e o líder de oração de sexta-feira de Tabriz, Hojjatoleslam Al Hashem, segundo a agência iraniana. Não há informação sobre quem comandava o helicóptero.

Local onde aeronave parou é de difícil acesso. O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, disse à televisão estatal iraniana que, devido às difíceis condições climáticas, com muita neblina, pode levar algum tempo para que a equipe de busca e resgate chegue ao local onde está a aeronave.

Buscas pelo presidente e os demais passageiros continuam em meio a condições climáticas, com muita neblina, pode levar algum tempo para que a equipe de busca e resgate chegue ao local onde está a aeronave.

Buscas pelo presidente e os demais passageiros continuam em meio a condições climáticas desfavoráveis. Quarenta equipes de busca e oito ambulâncias foram enviadas para a região onde o helicóptero pousou. Até o momento, nenhuma informação sobre o estado de saúde do presidente ou de algum ocupante do helicóptero foi confirmada.

Quem é Ebrahim Raisi

Ebrahim Raisi, de 63 anos, é o atual presidente do Irã, eleito em 2021. Conhecido por suas posições de linha dura, Raisi tem desempenhado um papel crucial na política iraniana, com uma abordagem assertiva para expandir a influência regional do país. Durante seu mandato, ele apoiou grupos militantes em todo o Oriente Médio e acelerou o programa nuclear iraniano, levando a nação a uma situação de quase conflito com Israel.

Considerado um ultraconservador, Raisi foi eleito em 18 de junho de 2021, no primeiro turno. As votações foram marcadas por uma abstenção recorde em eleições presidenciais e com a ausência de um opositor forte.

Raisi nasceu em novembro de 1960 na cidade sagrada xiita de Mashhad, no nordeste do país. Fez carreira no Judiciário em cargos de procurador-geral entre 2014 e 2016, vice-chefe de Justiça de 2004 a 2014 e promotor e procurador adjunto de Teerã nas décadas de 1980 e 1990.

O iraniano substituiu o moderado Hasan Rohani. A principal conquista de Rohani em seus dois mandatos foi o acordo nuclear de 2015 entre o Irã e seis potências ocidentais. Rouhani ganhou de Raisi nas eleições presidenciais de 2017 e, após dois mandatos consecutivos, não pôde concorrer novamente.

O presidente do Irã participou do chamado “comitê da morte”. O grupo de acusação foi responsável por executar milhares de presos políticos no país em 1988. Raisi está na lista de líderes iranianos que Washington sancionou por “cumplicidade” em “graves violações dos direitos humanos”, acusações rejeitadas pelas autoridades de Teerã.