No segmento de hidrogênio verde, o Brasil tem grande potencial para vender o combustível para outros países, principalmente os europeus. Usinas em escala comercial para fabricar o produto, no entanto, continuam no papel enquanto o setor privado negocia com o governo estímulos, como subsídios, para realizar os investimentos. A situação é semelhante em outros setores, como no de crédito de carbono.
Com a demora na regulamentação desses novos mercados, a pergunta que fica é: o Brasil vai conseguir ser protagonista global em economia verde?
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Abaixo, conheça outros fatores que ameaçam a agenda verde brasileira:
Preço da energia para produzir hidrogênio verde
A energia é o maior custo de produção do hidrogênio verde, podendo chegar a 70% do total. Empresas que têm projetos para instalar plantas do combustível no País dizem que, se não houver algum incentivo por parte do governo para conseguirem reduzir esse custo, os empreendimentos não serão construídos. Segundo executivos do setor, no entanto, as conversas com o governo têm avançado nos últimos meses.
Há entraves também no exterior. Países que pretendem importar hidrogênio verde, como a Alemanha, terão de construir toda a infraestrutura para poder distribuir o produto em seu território.
Entenda os desafios desse novo mercado: Preço de energia e contratos de venda são desafios para usinas de hidrogênio verde saírem do papel.
Concorrência com subsídios americanos e europeus e o impacto na indústria de biocombustíveis
Apesar de o Brasil ser considerado um dos países com grande potencial para produzir combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), ainda não tem refinarias em construção. Para realizarem os investimentos, empresas envolvidas na transição energética têm dito em Brasília que isso só poderá ser feito se houver concessão de subsídios.
Com os países ricos, principalmente os Estados Unidos, inundando suas economias com subsídios e financiamentos para projetos relacionados à energia limpa, de fato ficou mais difícil para uma empresa instalada no Brasil ser competitiva. Apenas o governo americano está oferecendo US$ 369 bilhões (R$ 1,8 trilhão) em incentivos para a energia limpa.
Conheça casos de empresários brasileiros desenvolvendo projetos fora do País atraídos por subsídios ou isenções fiscais: Brasileiros investem em projetos de combustível sustentável no exterior.
Questão fundiária, credibilidade e mercado de carbono
O problema fundiário na Amazônia é crônico e um dos principais entraves para o desenvolvimento de projetos de carbono na região. Nos últimos anos, foram parar na Justiça casos em que comunidades originárias afirmam que desenvolvedoras de projetos de carbono estão comercializando créditos gerados supostamente em territórios das comunidades sem o aval delas.
Houve também ocorrências de empresas desenvolvedoras de projetos que acabaram os cancelando por falta de realização de consulta prévia, livre e informada com moradores de terras indígenas. A Defensoria Pública do Pará apura se cinco empresas brasileiras e três estrangeiras usaram terras públicas griladas para lucrar com projetos de crédito de carbono.
Todas essas denúncias geraram uma crise de credibilidade no mercado de crédito voluntário, derrubando os preços dos créditos. Entenda o que está acontecendo: Mercado de carbono: questões fundiárias e disputas judiciais atrapalham crescimento na Amazônia.
Falta de pesquisa, risco ambiental e mineração
A transição energética vai elevar a demanda por minerais como cobre e lítio, e o Brasil pode fornecê-los ao mundo. O País, no entanto, precisa acelerar suas políticas para garantir que não perderá a oportunidade de exportar esses materiais e, assim, impulsionar sua economia. Hoje, uma importante parte do território brasileiro não foi sequer pesquisada, o que significa que pode haver reservas com potencial de exploração completamente desconhecidas. Saiba o que ameaça a exploração desse setor: Mineração: potencial do solo brasileiro ainda é desconhecido por falta de pesquisa.
Outro risco é a falta de cuidados para minimizar os impactos ambientais da atividade mineradora, o que pode afugentar investidores. Em relatório sobre o Brasil divulgado em 2023, o Banco Mundial afirmou que “práticas de mineração inteligentes em relação ao clima serão cruciais para a expansão sustentável do setor de minerais verdes do Brasil”. Entenda os riscos relacionados ao meio ambiente: Mineração na floresta expõe desafio brasileiro de conciliar desenvolvimento com preservação.
Inova Amazônia – a busca do protagonismo do Amazonas
A conferência do Inova Amazônia foi realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-AM) para fomentar a bioeconomia e a inovação na região.
Ao todo, mais de 80 empreendedores expuseram seus produtos e negócios alinhados à economia verde durante o evento que contou com o apoio do Governo do Amazonas.
Ao lado do presidente do Sebrae nacional, Décio Lima, o vice-governador do Amazonas, Tadeu de Souza, destacou a importância da conferência como forma de incentivar novos modelos de negócios que geram emprego e renda baseados na biodiversidade, o que pode se tornar uma matriz econômica complementar ao Polo Industrial de Manaus (PIM).
“O Amazonas é um estado peculiar por ter aderido a um modelo de desenvolvimento econômico baseado na indústria, que hoje é o terceiro maior polo industrial do Brasil, mas, ao mesmo tempo, é o berço de tesouros que precisam ser desenvolvidos. A gente tem grande potencial na área de fármacos, na área medicinal e na área alimentícia”, elencou Tadeu de Souza.
O vice-governador destacou os avanços do sistema de regulação de créditos de carbono no Amazonas, com a aprovação de novos projetos com potencial de captação de recursos na ordem de R$ 8 bilhões nos próximos 30 anos, e reafirmou o papel da Amazônia como solução ambiental dos problemas do Brasil e do mundo.
Oportunidades
A conferência também promove conexões entre negócios com foco na criação de oportunidades econômicas. Para a secretária-executiva adjunta de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Tayana Rubim, as ações do Governo do Amazonas colaboram para a criação de modelos de negócios sustentáveis.
“Inserimos mais de 80 expositores que mostraram realmente a potencialidade do Amazonas na área de inovação, na área de bioeconomia. Por isso, o Governo do Amazonas não poderia deixar de prestigiar, de estar apoiando essa iniciativa”, declarou.
Para a superintendente do Sebrae Amazonas, Ananda Carvalho Normando Pessôa, o evento é um reconhecimento do protagonismo do ecossistema de inovação dos negócios locais.
“O Inova Amazônia é uma vitrine para mostrar para o Brasil e para o mundo o que nós já fazemos aqui e como nós podemos potencializar. Aqui no Inova terão vários debates sobre sustentabilidade, sobre a bioeconomia, sobre energia limpa e negócios verdes”, frisou.
Inovação e indústria
A conferência Inova Amazônia dedicou espaço para as startups ligadas à biodiversidade. O presidente do conselho deliberativo do Sebrae Amazonas e da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, afirmou que o crescimento econômico baseado na indústria também passa pelo fomento à inovação.
“Nós vamos incentivar a industrialização e o desenvolvimento disso tudo que estamos vendo aqui. Isso é o nosso produto regional, a começar pelo açaí, por todos os nossos produtos alimentícios como farinha. Temos vários companheiros que se fazem presentes aqui para mostrar que não é só do polo industrial, ou seja, também temos uma alternativa voltada para os nossos produtos regionais”, disse.
O evento conta, ainda, com um espaço de integração com as comunidades, onde ocorrerá o 1º Workshop de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas do Amazonas, com o objetivo de apresentar conteúdos sobre o desenvolvimento de comunidades e o papel delas para o ecossistema de cada região.
Além do vice-governador, também estiveram presentes à abertura o secretário-chefe do Escritório de Representação do Governo, em São Paulo (ERGSP), Alfredo Lins, e o presidente do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), Vanderlei Alvino.
O Inova Amazônia é uma realização do Sebrae, com apoio do Governo do Amazonas e parceiros como a Vale, a AL-Invest Verde, a Finep e a Rede Amazônica.
Com informações do Estadão e SEBRAE AM