
“Ninguém entendeu nem o tema nem o pedido”, disse um dos membros da comitiva brasileira sob reserva – Foto: Reprodução
O que era para ser uma viagem diplomática focada em fortalecer laços comerciais e políticos entre Brasil e China acabou ofuscado por um episódio, no mínimo, desconcertante. A primeira-dama Janja da Silva surpreendeu — e constrangeu — integrantes da comitiva brasileira e autoridades chinesas ao pedir a palavra, de maneira inesperada, durante um encontro com o presidente Xi Jinping para criticar o TikTok.
Em um ambiente extremamente formal, onde discursos não estavam previstos, Janja trouxe à tona sua preocupação com os efeitos da plataforma chinesa no cenário político brasileiro. Segundo ela, o algoritmo do TikTok estaria favorecendo a propagação de conteúdos da extrema direita, o que, em sua avaliação, representa uma ameaça à democracia. Pode até ser que haja mérito na discussão sobre o papel das redes sociais na radicalização política — mas o local e o momento escolhidos foram, no mínimo, inadequados.
Continua depois da Publicidade
Não é comum que uma primeira-dama tome a palavra em reuniões diplomáticas de alto nível, e muito menos para abordar temas sensíveis ligados à soberania digital de outro país. O episódio gerou constrangimento até entre ministros aliados, que classificaram a intervenção como desastrosa. “Ninguém entendeu nem o tema nem o pedido”, disse um deles sob reserva.
Xi Jinping, com sua habitual frieza diplomática, respondeu que o Brasil tem total autonomia para regular ou até banir a plataforma, caso assim deseje. Uma resposta protocolar, mas que deixa claro: o assunto, naquele contexto, não cabia. Foi uma cortesia, e não um endosso.
O problema maior é que esse gesto ofuscou parte dos resultados positivos da viagem — acordos comerciais, investimentos e a sinalização de uma parceria estratégica mais sólida entre os dois países. Tudo isso acabou em segundo plano diante da inabilidade de quem, oficialmente, não representa o governo, mas cuja presença, sem dúvida, interfere nas percepções diplomáticas.
A atuação de Janja vem sendo cada vez mais questionada nos bastidores. Entre admiradores e críticos do governo, cresce o incômodo com sua tentativa de ocupar um espaço político informal — muitas vezes sem a liturgia, o preparo ou a responsabilidade institucional exigida.
Se há uma discussão urgente sobre regulação de plataformas digitais, ela deve ser feita com seriedade, nas instâncias apropriadas e com base técnica — não improvisada diante de chefes de Estado.
Outras explicações
A fala da primeira-dama causou surpresa entre os presentes, já que o encontro com Xi Jinping não previa intervenções por parte da comitiva. Um ministro presente relatou que o momento foi desconcertante: “Ninguém entendeu nem o tema nem o pedido para falar.”
Internamente, integrantes do governo avaliaram o episódio como um ponto de desconforto em uma viagem que, até então, vinha sendo considerada positiva para as relações comerciais e diplomáticas entre os dois países. Um dos presentes classificou a situação como “constrangedora”, especialmente por ter ocorrido em um momento de alto nível diplomático.
O governo brasileiro não comentou oficialmente o episódio até o momento.