
Dinheiro apreendido na Operação Overclean – Foto:Divulgação/PF
Em investigações contra esquemas de corrupção, as chamadas ações controladas são um dos maiores trunfos de policiais para seguir o rastro do dinheiro sujo e chegar a autoridades que, blindadas por um sem-número de interpostas pessoas, dificilmente seriam descobertas. Nesse tipo de técnica de apuração, agentes monitoram, com autorização judicial, os alvos da vez, os seguem por viagens, filmam encontros em que se discutem pagamentos ilegais e marcam cédulas que em algum momento chegarão aos corruptos.
Foi assim quando pelo menos 400.000 reais foram marcados com uma tinta invisível a olho nu para que a polícia desse uma batida nos destinatários finais da propina investigada na Operação Caixa de Pandora no Distrito Federal. Foi assim quando agentes filmaram um assessor do ex-presidente Michel Temer correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala de dinheiro. Foi assim também quando a Polícia Federal apreendeu em dezembro passado 1,5 milhão de reais em dinheiro vivo em um jatinho que saiu de Salvador com destino a Brasília. Neste último caso, ainda em investigação, um mistério continua.
Continua depois da Publicidade
A mala de dinheiro na aeronave, conforme a própria PF, estava recheada de valores de origem ilícita e seria destinada ao pagamento de propina na capital. Se a objetivo era descobrir a quem a bolada seria repassada, por que não dar continuidade ao monitoramento dos carregadores dos valores até que o destinatário enfim fosse descoberto? São perguntas como esta que a partir de agora poderão ser desvendadas no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e investiga a chamada Operação Overclean, um caso que começou a partir da descoberta de uma licitação fraudada para pavimentação de ruas sob responsabilidade de um órgão estatal de combate a secas e que, após se aprofundar sobre a movimentação financeira dos suspeitos, projetou que a quadrilha alvo da PF movimentou mais de 1 bilhão de reais nos últimos anos.
Caberá ao ministro Kassio Nunes Marques, relator da Oveclean no STF, autorizar as futuras diligências sobre o caso e avalizar as linhas de investigação da polícia que tentam desvendar a quem a propina apreendida no jatinho seria entregue. Uma pista pode fornecer os primeiros indícios do potencial destinatário dos valores: no jatinho também foi apreendida uma planilha com anotações sobre contratos aparentemente suspeitos nos estados do Amapá e do Rio de Janeiro.
Pelo que se sabe até agora, o voo que transportava a mala de dinheiro foi organizado pelo empresário Marcos Moura, um personagem até então desconhecido da opinião pública mas que dá a dimensão da turbulência que se aproxima. A PF atribui a Moura, filiado ao União Brasil e próximo a figuras de proa da política da Bahia, papel crucial no êxito da quadrilha. Diz a corporação: “Moura é uma figura-chave que conecta os líderes da organização com figuras políticas de relevância, garantindo que os esquemas de fraude continuem operando sem interrupções”. Com o avanço das investigações, é provável que o mistério da mala de dinheiro no jatinho esteja com os dias contados.