
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante entrevista coletiva realizada na manhã desta quinta-feira 30 no Palácio do Planalto – Foto: Wilton Júnior/Estadão
Lula falou. Pautou o noticiário. “Ele voltou!” Calma, emocionado. Relativização. Para quem passou mês reagindo a crises produzidas pelo próprio palácio, foi um avanço. Aí, sim. Um bom momento.
O bom momento – para que se avalie o mau momento: uma entrevista coletiva. Resposta à foto que perturba o governo popular: a desaprovação maior que a aprovação. Tudo deriva disso.
Continua depois da Publicidade
O maledicente dirá, pois, que o Planalto continua no modo reativo. E continua – dirá o realista – sem marcas positivas. Um governo que – Lula admitiu – não entregou o que prometera; que insiste em ano (era 2024, agora 25) da grande colheita; e que confia em que terá votos, em 26, apregoando-se como o salvador da democracia. Pode ser muito, mas será pouco.
Muito pouco – no mundo real – para o cara que está vendendo o almoço para poder jantar. Porque a verdadeira colheita de Lula até aqui é da inflação da comida; que semeou, ao estado da arte, a partir da PEC da Transição. A jorração de bilhões para induzir artificialmente o consumo é escolha. O plantio-gastança nunca parou e se expandirá.
O desenvolvimento sustentável a que se referiu o candidato Lula é aquele que pretende sustentar o voo de galinha da economia até 2026, quando – rolada a bomba para 27 – reivindicará uma PEC Kamikaze para lhe financiar a tentativa de reeleição. Esse é o projeto.
O homem, salvador da democracia, por via das dúvidas abrirá ainda mais a caixa de ferramentas. Para garantir a democracia.
Lula falou. “Se depender de mim, não tem outra medida fiscal nesse país”. Depende só dele. Para quem os críticos deveriam se desculpar com Haddad, cuja Fazenda teria conseguido bater a meta fiscal. Conseguiu. Transformando a bicha em peça de ficção fantástica – cumprida enquanto a dívida pública cresce descontroladamente.
Meta batida, sobre o corpo natimorto do arcabouço fiscal, com gestões de recursos parafiscais, com transposição de receitas entre anos, com o arranjo contábil que piorou o resultado de 2023 para melhorar o de 24, com acordos como aquele da Petrobras. Etc.
Este é o governo que manterá a estabilidade fiscal “sem fazer com que o povo pobre pague o preço de alguma irresponsabilidade de um corte fiscal desnecessário”. O mesmo povo pobre que está pagando na carne – na carne que não pode comprar – o preço da irresponsabilidade de se jogar-arriscar com a inflação.
Lula falou tudo. A eleição não é hoje. Ele está certo. Conhece a força da cadeira. E acaba de nos comunicar que fará tudo quanto necessário para chegar competitivo a 2026. Chegará. Que não se confunda governo ruim com presidente-candidato fraco. Num tiro curto, a economia não raro piora para forjar bem-estar e reeleger o incumbente. Vale-picanha? O vale-tudo fiscal é facilitador. Está tudo plantado. O caminho, aberto. Pela democracia.
Com Estadão