Em abril deste ano, o Sul da China registrou mais que o dobro do nível normal de precipitações para esse mês. Isso representou o segundo nível mais alto desde 1961, sendo que as causas estão em uma influência combinada das mudanças climáticas e do fenômeno El Niño, segundo especialistas em meteorologia da China.
O país, que é um dos mais afetados pelos impactos de eventos climáticos extremos no mundo, vem desenvolvendo uma série de medidas que visam prevenir e gerar condições para reagir mais rapidamente a enchentes. Alertas nacionais, construção de diques e até inovações como as cidades-esponja são algumas das iniciativas para combater os episódios.
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Em 2006, o país criou um mecanismo nacional de resposta a emergências de quatro níveis para controle de inundações e alívio de secas. Conforme os critérios de controlabilidade, gravidade e impacto, foram estabelecidos quatro níveis: muito grave (I), grave (II), relativamente grave (III) e comum (IV).
Segundo o nível de emergência, os planos de resposta determinam as responsabilidades e competências dos órgãos e os procedimentos. Diante de emergências climáticas de qualquer tipo, os chineses recebem um SMS com recomendações ou orientações a tomar.
Já em 2018 foi criado o Ministério de Gestão de Emergências, que centralizou funções antes distribuídas em diferentes órgãos. A pasta assumiu a responsabilidade de coordenar a reparação de rodovias e ferrovias danificadas, o abastecimento de água, o restabelecimento de energia, comunicações e outros serviços públicos.
Além disso, medidas como construção de diques e reservatórios também têm auxiliado na mitigação dos impactos das mudanças climáticas no país. Segundo dados divulgados pelo governo em 2024, os mais de 4,5 mil reservatórios de grande e médio porte distribuídos por todo o país conseguiram controlar 60,3 bilhões de metros cúbicos de águas das enchentes em 2023.
Isso significou uma redução em inundações em 1.299 cidades e vilas e em 1 milhão de hectares de terras aráveis, evitando que 7,21 milhões de pessoas fossem deslocadas.
No ano passado, a China investiu o equivalente a mais de R$ 850 bilhões para aumentar as capacidades do país tanto no combate a inundações como em garantir o abastecimento de água. Nas enchentes recentes, o governo central disponibilizou 110 milhões de yuans (cerca de R$ 78 milhões) do fundo de ajuda a desastres naturais para as províncias de Jiangxi e Guangdong, e na Região Autônoma de Guangxi Zhuang.
Cidades-esponja contra enchentes na China
Outra aposta são as chamadas cidades-esponja, cujos primeiros projetos começaram a ser testados há quase dez anos com o objetivo de fazer com que as áreas urbanas aumentem sua capacidade de absorver, armazenar e controlar o escoamento das águas da chuva. Entre as medidas, são promovidos os jardins de chuva, telhados verdes e o pavimento permeável.
O arquiteto e paisagista Yu Kongjian, considerado um dos criadores da ideia, explicou o conceito durante um evento da organização de divulgação científica Fórum Fronteiras.
“A ideia toda das cidades-esponja é uma filosofia: reter água no local. Para manter a água no solo, porque tem a ver com a distribuição dos recursos hídricos, com a captação, seja do telhado ou do seu quintal e a distribuição, e não a canalização da água, [o objetivo não é] concentrá-la em um sistema de dutos”, explica Kongjian
Um estudo feito na China mostrou que as medidas conseguem reduzir o escoamento superficial das águas da chuva. A pesquisa feita em cidades como Shanghai, Zhousha, Suzhou e Xi’an, constatou que os jardins de chuva conseguem reduzir o escoamento superficial das águas da chuva de 25% a 69% e o escoamento máximo em até 71%. Já os telhados verdes podem reduzir a taxa de escoamento superficial da chuva com um tempo de atraso máximo de 20 minutos.
No entanto, a escala dos projetos-piloto ainda é reduzida em comparação com o tamanho da maioria das cidades onde são implementados. Wang Jiazhuo, presidente do Instituto Municipal Ecológico da Empresa de Planejamento e Design da Academia de Planejamento da China (Pequim), fala do exemplo da cidade Wuhan, com mais 11 milhões de habitantes. “Sua área construída é de centenas de quilômetros quadrados, enquanto os projetos-piloto ocupam pouco mais de 30 quilômetros quadrados”, disse.
Um levantamento feito pelo Banco Mundial em 2020 concluiu que a maioria das pessoas no mundo expostas a riscos importantes relativos a enchentes moram na China. Segundo o estudo, 329 milhões de chineses de um total de 1,47 bilhão de pessoas em nível global estariam “diretamente expostas a riscos substanciais durante as enchentes que ocorrem uma vez a cada 100 anos”.
As áreas de alta incidência de desastres de inundações na China estão concentradas no sudeste de Guangxi, nas áreas costeiras de Guangdong, Hainan, nas áreas costeiras de Zhejiang, na fronteira de Zhejiang, Jiangxi e Anhui, e partes de Liaoning e Sichuan, com uma frequência de catástrofes que atinge os 50%.
Ao todo, 640 cidades estão sujeitas a inundações e cerca 67% da população que vive nessas áreas vulneráveis, segundo outro cálculo do Banco Mundial divulgado em 2021.